Daniel voltou a fazer seus programas no bordel, e por mais que odiasse aquele lugar sabia que na rua era muito pior e muito perigoso, sem falar na promessa que tinha feito a Edgar, tinha prometido que nunca mais desafiaria ou desobedeceria Tatiana e nem Miriam.
Ele passou a atender vários clientes por noite, fazia uma média de quinze e não reclamava de mais nada, nem de seus baixos caches, sobre sua dívida, nunca mais mencionou uma só palavra, todos pensavam Daniel finalmente havia sido domado, porém o que ninguém imaginava é que por de trás de todo aquele bom comportamento Daniel maquinava um plano de fuga, na maioria das vezes impossível de se realizar, uns por serem totalmente sem lógica e muito complicados, já outros simples demais. Uma vez pensou que poderia escapar daquele inferno usando o duto do ar condicionado, mas não sabia onde os tubos iriam parar, tinha medo de se perder ou de ficar entalado em algum deles, poderia até morrer sufocado sem ninguém para poder ajudá-lo.
Ele imaginava sua fuga todos os dias, por várias semanas, mas a oportunidade única surgiu de repente, não sábia se era sorte, um acaso do destino ou uma ajudinha de Deus, isso naquele momento já não importava mais, o fato é que em uma bela noite de muito movimento um pique de energia fez que a luz do bordel acabasse e no meio da confusão apavorados com o que poderia estar acontecendo vários clientes saíram às pressas e muitos deles sem pagarem, uma verdadeira confusão tomou conta do lugar, dois seguranças agrediram um cliente e a pancadaria se tornou generalizada, até Tatiane apanhou levou um soco no olho que ficou roxo quase uma semana, alguns garotos juravam que tinha sido Carlos, mas a verdade é que a confusão foi tamanha que não poderia ter certeza de nada. Daniel percebeu que aquele momento era único e não teria outra chance, viu a porta de entrada vazia, todos os seguranças estavam envolvidos na briga, ele nem pensou apenas saiu correndo pela rua a fora.
Ele não sábia para onde ir, sua única certeza era que deveria ir para o mais longe possível, sabia que assim que a confusão acabasse dariam por sua falta, ele tentou evitar passar por Copacabana, tinha medo de encontrar Paulo que o levaria de volta, andou a noite toda, não tinha dinheiro para pegar um taxi, e mesmo que tivesse não saberia para onde ir, viu um ônibus parando em um ponto, correu e entrou nele, sentou-se em uma das cadeiras da frente e fico ali até o trocador lhe abordar.
__ Você não pode ficar aqui na frente.
__ Desculpa, mas eu não tenho dinheiro__ respondeu Daniel sua respiração estava ofegante e visivelmente perdido.
__ Eu sinto muito, mas eu tenho que pedir para você descer.
Daniel não falou nada se levantou e desceu no primeiro ponto, na verdade nem se importou, não tinha destino certo mesmo, apenas queria ir para o mais longe possível, andou por algum tempo, viu um telefone público, e pensou em ligar para sua mãe, mas não sabia nenhum número que pudesse ligar, sua casa não tinha telefone e não conhecia ninguém que tivesse.
"Que droga de vida"
Pensava ele, tudo que queria era poder voltar para casa ver novamente sua mãe e seus irmãos, pensou em tudo que deixou para trás em busca de um sonho e uma vida melhor, sonhava em poder dormir mais uma noite em sua cama, entrar em sua casa que mesmo pobre e mesmo faltando quase tudo sempre teve o principal, amor e calor humano.
Em sua caminhada encontrou com um caminhoneiro meio rude, que lhe parou caminhão.
__ Para onde a boneca vai?
Foi nesse momento que Daniel percebeu que ainda estava vestido e mulher, ele ajeitou seu vestido e respondeu secamente.
__ Belém, eu vou pra Belém chuchu.
O caminhoneiro fez sinal para que Daniel entrasse, ele não pensou duas vezes e subiu na boleia do caminhão. O caminhoneiro seguiu por alguns quilômetros e parou seu caminhão próximo ao Ceasa.
__ Eu vou para o sul, Santa Catarina, mas ali em frente está o Ceasa, lá com certeza você vai encontrar alguém indo para o norte.
Daniel agradeceu o caminhoneiro desceu do caminhão e seguiu andando, não andou muito e logo foi parado por uma viatura da polícia rodoviária, um policial o colocou em sua viatura e o conduziu para seu posto onde lhe deu comida e escutou com muita atenção sua história.
__ O que você está me dizendo é muito sério garoto __ concluiu o patrulheiro.
__ É a mais pura verdade __ respondeu Daniel.
O patrulheiro resolveu ligar para polícia civil, eles saberiam melhor o que fazer para ajudar chamou uma viatura poder levar o garoto até uma delegacia para dar seu depoimento e abrir um inquérito, a viatura não demorou muito para chegar e recolhe-lo.
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Crianças Perdidas
No FicciónDaniel é um jovem de quatorze anos que ganha a vida se prostituindo pelas ruas de Belém. Ele é enganado por Miriam, uma bonita e encantadora travesti, foge para o Rio de janeiro onde sua vida se torna um inferno ao ser forçado a se prostituir por...