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LORENZO

Minha vida nunca foi fácil, perdi meus pais quando eu tinha dezessete anos, desde então nada têm sido fácil. Minha irmã, Linda, tinha apenas quatro anos, eu não tinha condições de criar ela, então eu deixei ela com a minha avó materna.

Fazem exatos vinte e cinco anos que eu não vejo ela, não sei nem se ela se lembra quem eu sou.

Eu sei que não mereço a Isis, eu traio ela até hoje, e não me orgulho disso, mas... sabe como é né? A carne é fraca.

Mas agora que eu vi que ela tá me deixando é que eu tô percebendo tudo que ela fez por mim.

Ela quem lava minhas roupas, cuida da Lis, limpa a casa, trabalha, leva e busca a Lis na creche. E eu, bem... eu, mal dividir meu salário pra comprar fralda eu divido. Admito que sinto gratidão por tudo. Saí dos meus devaneios ouvindo a voz da Isis me chamar.

- Lorenzo? Tá me ouvindo? - disse ela.

- Oi? O que você tava falando? - respondi voltando ao normal, e prestando atenção no trânsito.

- Tô te dizendo que você passou da rodoviária, tá no mundo da lua, cara? - aí que eu percebi que tinha passado umas três ruas depois da rodoviária.

Tava indo deixar ela e Lis lá, elas iam pegar um ônibus pra ir em uma aldeia indígena, passar uns dias lá, a Isis gosta dessas coisas, seria bom pra elas, e era perto da cidade.

- Calma, cara. Tá cedo, já estamos chegando! - falei aproximando o carro da entrada da rodoviária.

Descemos as bolsas, tiramos a Lis que dormia na cadeirinha, mas despertou ao tirarmos ela.

Seria um bom tempo pra elas, e pra mim, para pensarmos o que seria daqui pra frente. Embarquei as duas e voltei pro carro.

Assim que entrei recebi uma ligação.

| Início da ligação |

- Oi amor, cadê você? Não me ligou, nem nada - ouvi a voz dela, esquecendo que não havia lhe dado nenhuma satisfação.

- Estava ocupado, depois te ligo - Encerrei a ligação, desligando o celular.

| Fim da ligação |

Tenho que pensar no que eu realmente quero... viver ao lado da minha filha e da Isis ou viver ao lado dela?

Por um lado, eu tenho meus shows. Meu trabalho é minha vida, ele vem em primeiro lugar.

Mas pensando bem, em todas nossas brigas, a Isis nunca me compreende, nunca entende meu lado, sempre acha que ela quem é a dona da razão.

Nunca nem consegui chamar ela de qualquer apelido carinhoso... todos os meus "te amo" são falsos, eu não a amo, essa é a verdade. Sinto gratidão por tudo que ela faz, por mim, pela minha filha.

Mas não a amo. Ela sempre me julga. O errado não sou eu, é ela.

Flor de Lis | EM HIATUSOnde histórias criam vida. Descubra agora