"Pensei estar sendo esperta ao te dar meu coração.
Falhei, deixei porta aberta, você alegou foi rejeição."
Tulipa Ruiz - Sushi- O que está fazendo? - Eleonor pergunta após me ver escrevendo algo em um papel. Á ouço mas permaneço em silêncio passando para ela o papel que tem toda a minha atenção.
"Será que alguma vez você já sentiu minha falta?
Será que algum dia você já releu minhas cartas tantas vezes endereçadas á ti?
Será que ao menos uma vez você se lembrou das tantas vezes que te fiz sorrir, chorar ou se lamentar por ser o momento errado de ter nos conhecido?
Pois é, eu me lembro de todas elas
E eu ainda continuo esperando aqui.Estávamos sentadas no pátio, o sol estava bem ameno e a brisa suave balançava os cabelos cacheados da minha amiga.
- Você ainda gosta realmente dela Su? - Tira os olhos do pequeno guardanapo e olha para mim.
- Sim Elê e eu nem ao menos consigo negar, todo o meu corpo grita quando á vejo. Não que o que eu sinta seja somente sexual, eu realmente amo Margot...
- Abaixo a cabeça e olho para os meus dedos inquietos em cima das minhas coxas. O lápis que acabará de usar repousava entre minhas elas. Minha amiga nota meus movimentos e coloca uma das mãos sobre as minhas para me consolar.
- Mas me fecho só de lembrar o que a fiz passar, o quanto pude a sufocar com os meus sentimentos. Eu só estive confusa em relação ao que sinto por ela no início mas quanto mais o tempo passa mais certo e forte é...- Ah amiga, a verdade é que ela nunca foi clara nas decisões dela, ela sempre dizia algo e fazia totalmente ao contrário. Olha, por exemplo quando ela te disse que "era lindo esse seu sentimento" mas que ela tinha idade para ser sua mãe e no outro dia ficava admirada com suas cartas e poemas. Demonstrava certo ciúmes e dizia coisas que te alimentava. Não teria como fugir. O que realmente é uma loucura de se pensar, ela poderia sim desejar você mas não dá mesma forma ou também pela posição que ela ocupa, é como se ela perdesse muita coisa para estar com você. Pode ser cruel mas é a verdade. Então não adianta de nada ficar se remoendo ou lamentando! - Eleonor me puxa para um abraço e ficamos assim por um longo período, meus olhos estavam cheios e pesados. - Pelo menos você vai poder dizer que tentou, esse fardo você não carrega amiga.
Um flashback passa pela minha mente enquanto ainda estou escorada na minha amiga, como os anos passados foram dolorosos e lentos.
Eu tinha só 13 anos quando a conheci e ela quase o dobro, um sentimento maluco que não passaria de duas semanas mas que agora já fazem cinco anos. Era tudo muito novo, tinha um namorado de meia tigela e uma sexualidade indefinida. E para completar naquela mesma época os meus pais davam entrada ao divórcio. Eu não tinha muito com quem contar no início.
Naquela época eu tinha um hobby e me peguei desenhando Margot, era como se eu precisasse daquilo para viver. Eu não conseguia parar de pensar nela, em como era bonita e o quando o perfume dela me embriagava, o quanto precisava estar perto dela.
Enquanto meus pais se separavam e eu começava essa transição da "casa de um para a do outro" isso também ocorria dentro de mim. Não era mais segredo que eu á desejava mas aquilo era tão errado para mim, "Deus ela era uma mulher" e além do mais eu tinha um namorado.
Aquilo foi o fim do mundo pra mim, até aquele momento os desenhos já haviam chegado em Margot, ela tinha me elogiado ficando admirada com os mesmos e me chamado de "crush", isso foi coisa séria pra uma adolescente que estava na puberdade e descobrindo sua sexualidade. Acabei por terminar com meu primeiro "namorado", me senti reclusa, suja e sem ninguém que me entendesse, meus pais sem entenderem nada e preocupados somente com seus próprios interesses não interfiriram. Depressão e ansiedade permaneciam comigo, foi um tempo sombrio e o que me restavam eram as músicas, poemas e cartas que escrevia para Margot, elas eram o único meio que encontrava para que ela entendesse e para que sanasse a minha paixão. E eu sei o quanto á sufoquei, eu nem mesmo sabia se ela já tinha se relacionado com outras mulheres, como se isso me desse alguma brecha.As únicas pessoas que perceberam a minha mudança repentina foram Eleonor, Maria e Catarina, nossa professora de Artes que também era bem próxima de Margot. Todas elas acabaram por me entender e foram importantes, ainda são, mesmo que Eleonor me empolgasse quando Margot reagia as minhas cartas de amor, Maria ficasse sem palavras me dando apenas abraços e conforto quando ia para a casa do meu pai e Catarina lavasse minha cara me mostrando a realidade. A verdade é que Catarina me ajudou em todo esse processo de me entender e me aceitar, me incentivou na área da arte e apartir dali não larguei mais a música o que me deixava ainda mais conectada com Margot pois acabei adquirindo o mesmo gosto musical que ela.
Muitas coisas aconteceram, tive a oportunidade de conhecer pessoas novas, entendi que eu era sim uma garota bissexual e que isso não seria o fim do mundo, mas das poucas bocas que beijei eu queria apenas a de Margot na minha. Era o sabor dos lábios dela que queria provar e era a pele dela que eu desejava tocar.
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MARGOT ||Aluna e Professora||
Fiksi PenggemarSusanna é uma garota que está prestes a completar seus 18 anos. Entre brincadeiras e verdades acaba se vendo ainda apaixonada pela mesma pessoa, sua coordenadora e agora professora de História, Margot. Mal sabia a garota que estava começand...