Capítulo 3

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"Ficar perdido dentro do seu caos é a maior liberdade que se tem."
Mariana Miranda
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Assim que a porta se fechou, Rebecca entrou em pânico. O que ela faria agora? Andava de um lado para o outro mexendo em tudo que encontrava de interessante. Era um espetáculo aquele século. A tecnologia a frente se empenhava em fazê-la ficar boquiaberta. Sua descoberta da luz elétrica a fez dar pulinhos de alegria. Como alguém não poderia ter descoberto aquela maravilha antes?

Seus passos a conduziam a todo canto, olhos fixaram na cozinha. Por quê não? Seu estômago implorava por algo, e suas pernas já bambeavam pela queda de pressão. Ela precisava urgente de comer. Ao chegar na cozinha olhou cada objeto com detalhe, teria que descobrir na marra o que cada um fazia e qual era sua finalidade. Bom... não foi muito difícil saber como funcionava a geladeira, mas como ela própria denominou, chamaria fabricadora de frio. Bem criativa não?

Ao se virar observou o armário, abriu e viu pequenos pacotes. Tentando relutar com sua curiosidade, acabou perdendo e abriu cada um deles. Era algo maravilhoso, uma junção de doces e alegria formavam os sabores.
Viajar no tempo não foi tão ruim assim. Mas até que a ficha dela havia caído de novo, ela precisava procurar uma forma de descobrir o porquê daquilo, como ela realmente foi para lá e o motivo.
Latejavam a sua mente a cada segundo, a magia era o como, agora restava o porquê e o motivo.

Nisto se sentou na poltrona gigante, e sim este seria o sofá, e se acomodou colocando o livro a sua frente numa mesinha. Um suspiro de temor a tomou. Agora iria encarar de vez.  E prosseguiu a leitura para entender o contexto, mesmo que a coloque em risco novamente.

Abriu com cautela e passou as páginas lidas, onde se destacou o título do primeiro conto, a Bela e a Fera. Seu cenho franziu e seus lábios comprimiram, que conto era esse?

Notoriamente no século XVII não havia resquícios de contos infantis que eram adaptáveis para crianças ou que eram legais para a liberdade de leitura. Era um século de muito julgamento em relação a liberdade de expressão na escrita. Era como se interferisse propriamente a elite que comandava o reino. Um absurdo a ser decretado. Mas ao olhar novamente o pequeno trecho pode se percebeu que era algo inofensivo, um tanto mágico e leve de ler.

E em alguns minutos já havia terminado aquela história incrível. Ah o amor verdadeiro e puro, um belo exemplo de que as aparências não são tudo. Mas e agora? O livro estava em branco depois disso.

Ah meu Deus... o que eu faço?

Para a sorte e o alívio de Rebecca, a magia previdenciária tudo de acordo com o decorrer dessa fase. Se encostou no sofá e refletiu... Se ela havia sido transportada para este mundo para mudar a vida de alguém, talvez ela teria que realizar aquele conto. " É isso, eu tenho que realizar o conto de fadas de alguém!  E o meu objetivo agora é a Bela e a Fera."

Pensar assim a deixou com vergonha alheia, é algo meio idiota e infantil de ser feito. Se tornar uma cupido em outro mundo não era uma aventura surpreendente para ela. Era apenas... óbvia e simples. Casamentos arranjados valeriam ainda? Será que era só falar com os pais dos noivos?
Mas... estamos no século XXI! Era óbvio que isso já deveria ter mudado.
De repente seu corpo ficou agitado, sua mente inquietou-se e ela começou a andar pelo quarto. "Bom... não deve ser difícil juntar duas pessoas, né? A não ser que o homem tenha uma mansão e a tranque em um castelo."  Uau... a história poderia ser um pouco assustadora sem o lado romântico.

Porém de qualquer maneira, sem castelo ou não, sem príncipe, sem magia, sem a Fera, sem a Bela... ela notou que estava na estaca zero. Ou não. De acordo com as características, Ellen era a perfeita Bela, não sabia ao certo se ela lia ou sua inteligência era o padrão, mas pode perceber a doçura, a beleza, o coração bom e os grandes olhos castanhos intensos.

Ela era a garota do destino!

Isso fez com que Rebecca se sentisse um pouco mais confiante, acreditando ou não com que acabara de acontecer, ela precisava compreender que de alguma forma ela parou ali, ela encontrou com o destino selado pelo livro, e ela teria que cumprir aquilo de alguma forma.

Mas não adianta nada ficar enrolando nesta incrível descoberta e não fazer nada. E então ela se levantou e foi até a porta, girou a maçaneta com cuidado e olhou o corredor, ninguém passando para o seu alívio. Nisto ela saiu com cuidado e fechou a porta o mais silencioso possível,  mas o porquê daquela precaução toda? Nem ela mesmo saberia lhe informar.  Ao dar seus primeiros passos em direção a escada, escutou alguém subir, seria tarde demais para voltar?

Ao ver quem era seu coração gelou, um homem alto, forte e robusto, vinha com um olhar de se espantar até o mais bravo homem. Seus punhos cerrados e seu maxilar tenso mostrou que seu humor não era um dos melhores. Rebecca tentou prender o ar para não evidenciar seu pavor no momento, então só ergueu o queixo e seguiu para as escadarias tentando não ter contato visual. Mas falhou com graciosidade, seu tropeço foi um belo chafariz de atenção, ele virou e fez uma simples pergunta.

- Se machucou? - ele a olhou meio indiferente, mas o tom de voz evidenciou um resquício de preocupação.

- Não me machuquei, obrigada por perguntar. - desajeitada, se levantou num pulo.

- Tome mais cuidado a partir de agora. - ela assentiu e ele virou-se para entrar no quarto ao lado dela.

Ela pode respirar com calma novamente, um leve embaraço ocorreu, mas nada o que não a atrapalhe...
Desceu as escadarias com certa elegância. Deus a livre de ter que sofrer outro tombo daqueles. Assim que chegou a recepção viu Ellen de imediato.

Um sorriso tomou conta do seu rosto ao perceber que ela continha um livro em suas mãos, era a chave qie precisava. Se aproximou com delicadeza até que Ellen percebesse a sua presença. A mesma estava concentrada demais em seu livro, procurava alguma forma de descobrir o assassino antes que o próprio detetive, uma concentração árdua e contínua durante todas as  tardes.Até que foi bruscamente trazida de volta por um pigarreio de Rebecca.

- Oi Rebecca, teve algum problema com o quarto? Precisa de ajuda? - perguntou Ellen serenamente.

- Eu só queria conhecer um pouco mais daqui. - ela disse olhando os dois lados opostos do salão. - E quem sabe conhecer mais pessoas.

- Como em Sunnride é pequena, vai conhecer todo mundo em poucos dias.

- Só que eu não sei por onde começar... - sussurrou para Ellen.

- Que tal nós duas sair amanhã?  Aproveito e te apresento a um amigo meu.

- É que não pude trazer vestes para esse tipo de ocasião. Eu... bem, sabe que minha situação foi um pouco repentina.

- Sem problemas, acho que eu posso te ajudar. - Ellen a analisa de cima a baixo e concluí. - Creio que vestimos o mesmo tamanho.

- Não quero abusar de sua boa vontade, já fez muito ao me hospedar na sua casa.

- Não me importo em ajudar, você precisa de ajuda e não me limitarei em fazer isso. - um sorriso largo e sincero tomou o rosto de ambas.

- Mais uma vez quero lhe agradecer pela sua gentileza. Mal encontraria tamanha modéstia e boa educação em meu reino, creio que esta nova era fez bem as pessoas.

- Ah Rebecca... nós melhoramos bastante como pessoas tanto quanto pioramos. Espero que algum dia não presencie a maldade que acerca. - Ela suspirou profundamente.

Será que realmente alguém não teria contato com a maldade nesta vida?

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