Querido diário

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ALYSSA

"De vez em quando nos lembramos de que o que achamos ser a nossa maior fraqueza pode ser, às vezes, nossa maior força. E que a pessoa mais improvável pode mudar o curso da história."

Corte de Asas e Ruinas - Sarah J Mass

Passo meu olho pela quarta vez na primeira linha de uma das folhas atiradas em minha mesa, mas minha cabeça está confusa e meus pensamentos tão difusos, que não consigo me focar em nada daquilo ou daqueles milhares de números abaixo que podem significar um milhão de coisas. Eu sempre digo a mim mesma que uma hora terei que contratar um assistente - no caso disis titular uma criada para se tornar assistente - para ler todos aqueles documentos e resolver todo aqueles problemas que envolvem contas confusas e complexas demais. Não me julgo burra, se eu me esforçasse sei que conseguiria resolvê-las em um passe de mágica, mas ai está o problema. Eu não quero resolvê-las, pelo menos não agora, onde minha cabeça está em qualquer lugar, menos em meu escritório privativo com aqueles milhares de problemas para solucionar. Sempre que volto para ler a primeira linha novamente, minha mente se volta ao rosto de Graécia e na voz de Hastfull insistindo em eu contar a verdade para ela, como eu poderia, eu posso viver com Graécia me odiando por eu me distanciar dela, mas não sei se ela ficaria inteira se eu lhe contasse o porque disso tudo, a verdade sobre nossos pais, sobre mim ou sobre ''eles''. E apesar de tudo eles não sabem da metade de toda a história ou o quanto eu posso ser perigosa se deixar minha irmã se aproximar, me ajudar, e eu não sobreviveria a isso. 

Isso é inutil, não vou ficar sentada olhando para esse amontoado de papel quando certamente é inútil, pois não consigo me concentrar. Me levanto da cadeira onde até então estava sentada e caminho em direção ao baú que está localizado em um canto escondido daquela sala. Quando chego perto o suficiente do baú, me agacho e retiro meu cordão com cuidado e enfio seu pingente em forma de chave no cadeado da fechadura da caixa , até eu conseguir ouvir um "Click"  abri-lo completamente. Mesmo sabendo o que tem lá dentro, ao observá-lo senti meu coração se contorce de várias emoções, mas principalmente a saudade. Estendo minha mão para pegar o objeto cintilante do fundo da caixa, uma coroa, não uma, a coroa, a que a rainha usava - minha mãe usava- Passo meu dedos pelas pedras que enfeitavam a coroa feita de ouro puro  à levo para perto do peito e sussurro.

- Ah mamãe, quanto que eu gostaria que a senhora estivesse aqui comigo - digo apertando a coroa para ainda mais perto - eu me sinto tão perdida.

Fico segundos abraçando a coroa como se ela estivesse lá, e não apenas um objeto que ela usava. Solto ela com relutância para pegar o próximo objeto que estava na caixa. Dessa vez não é uma coroa que sai, mas sim um relógio de bolso, um que meu pai carregava, não importava a situação, o que não foi o caso quando o vi pela ultima vez. O relógio havia parado de funcionar, reparei, desde a última vez que olhei ele havia funcionado perfeitamente, que foi a cerca de um inverno atrás. Deixo ele de lado junto com a coroa e pego o próximo objeto, aquele que eu estava realmente procurando. O diário de minha mãe. Ele está empoierado e amarelado deviado ao tempo. Abro ele com todo cuidado possível para evitar que as folhas dissecadas se rompam com o mínimo de força possível, talvez eu esteja exagerando no cuidado, mas aquilo era a única fonte de pensamentos de minha mãe que restava, eu não poderia perde-la. Eu evitava ler ao máximo por dois motivos.
1 - Não desgastalos
2 - Parecia meio injusto eu ter e saber sobre todos aqueles objetos de nossos pais que restavam, enquanto Graécia não tinha nada além de memórias, e o lugar onde vivemos.
Mas nesse momento eu precisava le-lo, eu tenho certeza que Graécia sentia falta de nossos pais, mas eu também sentia.
Soprei a capa do diário para eliminar a poeira, o que eu percebi que foi um erro dois segundos depois, a poeira se espalhou em minha volta me provocando um ataque de espirros e tosses. O que pelo visto havia sido alto e escândaloso pois entre um ataque e outro conseguir ouvir o guarda que estava ao lado de fora perguntar.
- Alteza? - chamou ele, claramente preocupado - a senhorita está bem?
ATCHIM ATCHIM ATCHIM
Esfreguei o nariz de um modo nada gracioso e respondi.
- Ah sim, é só a poeira do aposento.
- A senhorita quer que eu peça para alguém vir limpa-lo para você?
- Não precisa, estou bem obrigada. - respondi gentilmente mas com o tom de voz decidida de quem dizia "Não e não me incomode de novo"
Abri o dario em uma página aleatória e comecei a ler com toda minha atenção possível.

"Querido diário......"

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⏰ Última atualização: Jan 14, 2020 ⏰

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