Escolhas

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ALYSSA

"Nunca olhe para trás (...) o passado já passou, se arrepender é inútil.
ALIAS GRACE

Estava em meio ao caos que se instalava na sala de reunião, murmurinhos ou gritos dos monárquicos, um tentando sobrepujar o outro com um tom de voz mais alto. Minha cabeça não aguentava mais, estava a um milesimo de explodir, e tenho certeza que não seria uma cena agradável todos esses homens poderosos e cheios de si encharcados com o meu sangue e pedaço de meus miolos, mesmo que seja o sangue e miolos da próxima rainha de Serafin. Antes que eu possa dar um basta em toda essa agitação, ouço um barulho alto e forte que cala todos os que estavam na sala, Lorde Montgomery estava com  as mãos apoiadas em cima da mesa, em uma posição brusca e que não aparentava estar nada feliz, provavelmente fora ele que batera na mesa para chamar a atenção de todos.

- Ouçam todos - diz ele com uma voz fria e calculada - o destino da princesa Graécia, não depende de nenhum de vocês, ou até de mim. Depende apenas de Alyssa que decidirá se contará ou não sobre as ameaças que assolam nosso reino.

Houve uma nova onda de burburinho, até que uma voz masculina insolente, que parecia muito a voz do do Duque de Hastfull indagou.

- E se a futura rainha morrer? - Hastfull parecia um cão raivoso - O que acontecerá? Colocaremos uma princesa ignorante no trono?

Dei um passo para trás, dando de costas com um assento que se localizava entre mim e a parede. Eles estavam sendo rude e inconsequentes. Falavam como se eu não estivesse presente, sua futura rainha, com eles, naquela sala. Eu não era burra o suficiente para achar que eu não poderia morrer a qualquer momento , afinal papai e mamãe haviam morrido jovens. Eu apenas era insensata o bastante para acreditar que a sorte estaria ao meu lado e não permitiria que eu morresse, deixando Graécia sozinha à cuidado desse monte de brutamontes.

- Ora - continuou o duque - não me olhem como se fosse algo impossível, ainda mais com a situação que nosso reino está.

Outra voz entercedeu, fazendo o duque de Hastfull se calar. GRAÇAS AOS DEUSES.

- Não seja tolo Hastfull, - percebi que era o Lorde Fields que falava -  o castelo não sofre um ataque a anos e não irá se agora que vai ser diferente.

- Antes era diferente - respondeu o duque. Aquilo chamou minha atenção então respondi.

- Diferente como? - todos olharam para mim surpresos , como se tivessem me visto pela primeira vez ou até mesmo esqueceram que também participava daquela conversa.

Ele não hesitou em responder:

- Antes tínhamos um homem, um rei governando Serafin, e agora... - ele me olhou de cima em baixo como se eu não fosse nada, como se eu não fosse sua superior. Sua soberana - E agora apenas o que temos é uma jovenzinha de aparência pálida e frágil para comandar todo o nosso território.

Fechei meus punhos com a maior força que consegui, sentindo a  unha perfura a carne de minha mão. Me concentrei na dor que sentia na palma da mão, impedindo que a mesma colidisse com o rosto arrogante e presunçoso do duque. Fiquei orgulhosa de mim mesma, aquilo exigia muita força de vontade.

- Sou mais forte e mais corajosa do que posso parecer. - rebati, olhando fundo nos olhos daquele cretino. 


-Prove então - disse ele com desdém, parecendo não acreditar em nada o que eu acabará de falar, o que eu não o condenaria, pois nem eu sei se acreditava em mim mesma. - Deixe a princesa Graécia a par de tudo,  se é tão corajosa quanto diz ser, conte a ela toda a verdade sobre o reino e sobre a morte do rei e rainha de Serafin.

Sentí que naquela sala todos pararam de respirar, enquanto eu continuava olhando para o duque como se pudesse pular em cima dele a qualquer momento. Mas apesar de todos esperarem minha resposta, eles já sabiam qual seria.

- Eu não posso - falei exasperada, embora melancólica - todos sabem que eu não posso.
O duque estalou a língua, olhando de esguelho para mim, quando falou:
- Foi o que eu pensei
Sem poder não ouvir mais nada da boca ardilosa do duque, caminhei até a porta de cabeça erguida, tentando demonstrar que nada daquilo me atingia, apesar de meu coração demonstrar ao contrário. Tudo o que eu mais queria agora era ir para o meu quarto, gritar e chorar, deixando as lagrimas limparem toda a minha dor e angústia, mas isso não seria atitude de uma futura rainha, eu tinha que ser forte, então me virei, e caminhei até o duque com passos lentos e pragmáticos, até fita-lo olho à olho e cuspi em sua cara ao dizer:
-  Não pense, Hastfull que só porquê faz parte do conselho que pode agir como se fosse você que irá carregar o peso da coroa pelos próximas décadas. Eu sou sua futura rainha... - Eu estava tão afundada em meus sentimentos que não conseguia controlar a minha língua, apenas estava falando tudo o que me vinha a mente, não tendo o controle de nada - e da próxima vez que tentar, contrariar meu julgamento ou o modo que lido com meu reino ou com MINHA IRMÃ sofrerá as consequências do modo mais desprezível possivel.
Ele continuou me fitando nos olhos, sem perder o contato. E para minha surpresa, pude perceber que um lado de sua boca se esticou para cima, como se em zombaria ou em aprovação, ou talvez os dois.
- Como quiser alteza.
Assim foi minha deixa para me afastar e sair da sala sem dirigir mais nenhuma palavras aos outros que participavam do conselho.
Enquanto caminhava em direção ao Jardim do castelo pude perceber que alguém com passo a fortes e rápidos me seguia, olhei em volta para ver quem poderia ser e avistei o meu tutor Lorde Montgomery. Quando ele conseguiu me alcançar com seus passos longos e rápidos me parabenizou:
- Você foi bem hoje.
- Tão bem quanto um cãozinho amedontrado em meio a uma alcateia de lobos. -Respondi sarcástica.
- O duque não esperava por aquela resposta - Falou ele, entendo o que eu precisava ouvir - Então acredite quando eu digo que você soube lidar bem com a situação.
- O duque  Hastfull, é um babaca e asqueroso,  e não entendo porquê ainda faz parte do conselho ou participa das reuniões. - respondi  - O que ele não esperava, é que eu por ser uma mulher, eu não teria à coragem de confronta-lo.
Lorde Montgomery segurou minhas mãos que até então não percebi que tremia de fúria, e levou até a altura de meus seios.
- Seu pai teria ficado orgulhoso.- falou, suando melancólico.
Tentei ignorar o efeito que aquela pequena frase estava causando em mim, e que como meus olhos haviam começado a arder após aquilo.
Soltei a minha mão das suas, tentando  me recompor e limpando uma lágrima traiçoeira que havia escorrido de meu olho.
- Muito obrigada - disse, forçando um sorriso em meu rosto.
Ele me puxou pela mão e me abraçou, um abraço paternal e cheio de ternura. Isso me fez lembrar os abraços que meu pai me dava, antes de dormi, ou quando ele voltava de uma viagem de dois ou três dias e corria para me aninhar em seus braços e me apertando como se eu fosse um bebê e não uma adolescente.
- Você sabe que é verdade - disse ele enquanto me envolvia com o seus braços.
Eu apenas concordei balançando a cabeça, não confiava em minha capacidade de não chorar para dizer algo.

Um conto de invernoOnde histórias criam vida. Descubra agora