[III]

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Inglaterra, 1842.
No qual nosso herói vai atrás da nossa heroína... Mas não pelos motivos mais românticos e arrebatadores possíveis.

Freya surpreendentemente acordou de bom humor no dia seguinte. Seu pai, de última hora, viajou a negócios cedo pela manhã - conforme explicava um bilhete deixado sobre sua cama - e agora só teria uma pessoa controlando seus passos e sua busca fracassada a um marido: a preceptora - já que Abigail não seria uma pedra em seu sapato, na verdade, nunca fora. Não que ela já não soubesse como lidar com a senhora de idade que adorava tagarelar sobre os maiores acontecimentos nessa época do ano, mas, ainda assim, era irritante.

De qualquer forma, não permitiria que isso estragasse o seu dia. Faria o máximo para se esquivar das suas investidas e afastar o tópico mais acalorado do momento, motivo de muitas conversas ansiosas: o casamento. 

Assim, ela levantou-se da cama e se preparou para tomar um reforçado café da manhã. Já havia avisado as criadas para prepararem uma mesa farta, pois o seu apetite caminhava sempre de acordo com o seu humor. E naquele dia, ela estava muito feliz.

Desceu as escadas e acomodou-se à mesa ao chegar no cômodo. Os muffins pareciam deliciosos, assim como a geleia e os sanduíches de recheios diferentes. Ela iria se fartar e depois estava programada de andar à cavalo. Era uma bela manhã, com o clima excepcional para tal passeio.

Contudo, sua alegria não durou muito tempo. Na verdade, Freya estava apenas saboreando o seu segundo sanduíche quando o mordomo entrou no cômodo e avisou sobre a chegada de um visitante.

Ou como já deve estar pensando Abigail em algum cômodo da casa: um jovem cavalheiro.

Mas não era. Freya gostaria de tratá-lo como um visitante inesperado, mas nem um pouco querido. A denominação perfeita.

Ela pensou em declinar recebê-lo, pedir para Joseph mentir e dizer que ela havia saído logo cedo, entretanto, sua curiosidade clamou mais alto.

O que senhor George Berryann estava fazendo ali, ela já sabia. E, honestamente, ter que relembrar as cenas de ontem ao vê-lo fazia suas entranhas se contorcerem dentro do corpo. Nenhuma dama deveria passar por isso. Mas ela queria saber o que ele havia preparado. Qual seria o seu novo argumento, artifício, chantagem ou qualquer outro meio de fazê-la se calar definitivamente sobre o assunto.

Queria vê-lo tentar, embora esforços não fossem mais necessários.

E foi apenas por isso que ela concordou em recebê-lo na sua casa. Sabia que a preceptora poderia estar em qualquer lugar próximo, nesse exato momento, avaliando o potencial do visitante; sabia que teria de jogar um balde de água fria no seu ânimo caso ela tocasse nesse assunto mais tarde, mas não se importou.

Muito pelo contrário, ela bebeu do seu suco de laranja enquanto esperou tranquilamente o visconde entrar, trazendo consigo uma beleza gritante e uma força de vontade inexplicável, explícita em sua face sem precisar de mais e atitudes palavras descritivas.

Freya notou, naquele exato instante, que a Lady Elizabeth Hendeston era mais do que um simples caso amoroso para o senhor Berryann. E que isso ainda seria um perigo para ambos. Nunca viu um homem se importar tanto com algo desse tipo, capaz de fazê-lo vir até o encontro de Freya e assumir a responsabilidade de atrair a atenção das bisbilhoteiras nas ruas para um possível cortejo ocorrendo entre os dois. Ainda bem que tudo seria um grande mal entendido, e no final ela esperava sair ilesa. 

- É um prazer revê-la, senhorita - a voz carregada de malícia dizia a Freya o contrário, mas ela não esperava menos de um pobre senhor ansioso demais para manter-se são durante a conversa.

Pelo amor de um ViscondeOnde histórias criam vida. Descubra agora