Capítulo 1

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                                                                                    Capítulo 1

Após ficar longos minutos encarando o raio do telefone que está em minhas mãos, eu penso que deveria ser melhor eu tomar um banho e me arrumar, caso precise fugir é melhor está preparada. Tomo um banho rápido, visto uma calça preta, com blusa de malha simples e um tênis básico. Esse tipo de roupa me favorece na praticidade em pilotar a moto.

Pilotar a moto, sim, ok. Mas para onde? Antes que pudesse concluir meus pensamentos, escuto o telefone tocar em cima da minha cama. É naquele exato momento que sinto meu corpo inteiro gelar. Busco atender o mesmo, coloco em meus ouvidos e respondo a ligação:

- Alô?

- Seu pai está morto. Corra o mais rápido que você puder para longe da comunidade e se pisar em alguma favela da facção você vai parar na vala.

Sem ao menos ter a chance de responder, a outra pessoa do outro lado da linha desliga a ligação. Eu não percebi que haviam tantas lágrimas rolando pelo meu rosto, não notei a falta de ar e o desespero que consumia o meu corpo inteiro. Eu não sabia o que fazer, não sabia. Penso em ficar ali e esperar a morte chegar até mim também, pois viver em um mundo onde meu pai não está não tem o menor sentido. Droga! Aquele era o meu fundo do poço.

Fundo do poço. Todo mundo pelo menos uma vez da vida passa por ele. É difícil sair dele sozinho. Já escutei por diversas vezes pessoas dizendo que quando chegaram até lá viram Jesus, a virgem Maria e tantas outras figuras representativas de religião. Confesso, eu já estou sem esperança e começo a achar que o melhor a se fazer é não fazer nada, só aguardar alguém da facção vir me pegar e me matar. Pronto, simples, acabou. Eu só não esperava que o nosso instinto de sobrevivência é colocado em ação mesmo sem o acionarmos.

Eu estava paralisada no chão do meu quarto, as lágrimas desciam sem pedir permissão. É, definitivamente é o fundo do poço. Porém, eu ainda não vi Jesus, a virgem Maria ou algo do gênero. Parece ser miragem, mas eu começo a enxergar uma mulher vindo em minha direção. Essa mulher tem o ar de empoderamento, a superação e determinação estão estampadas em seu olhar... essa mulher sou eu futuramente. Vejo aquela miragem se agachar em minha direção, então ela diz:

- Lute e sobreviva. Os covardes nunca são lembrados. E se você ficar aí esperando a morte chegar, você vai ser covarde. Será uma pena você não poder desfrutar do futuro que te espera, querida. – a miragem (minha miragem) dá um sorriso ambicioso e some do meu campo de visão.

Aquilo foi meu instinto de sobrevivência sendo acionado. Essa foi a deixa para eu iniciar a luta pela minha própria vida. Imediatamente me levanto do chão, enxugo as lágrimas e naquele momento me decido a sobreviver.

Desço as escadas imediatamente, busco pela chave da minha moto e a mochila pela qual meu pai deixou. Sim, estou saindo sem levar nada, na minha bagagem tem apenas dinheiro, duas pistola e a minha história. Deixo tudo para trás, até mesmo os poucos amigos que fiz naquele bairro onde moro desde que nasci. Ali cai a ficha que o que temos não define nenhum pouco quem somos. Escuto barulho de pessoas invadindo minha casa e me apresso em sair pelos fundos. Minha moto estava na garagem, me certifico que os homens já haviam entrado no interior da casa até correr e subir na moto. Estou quase a passar pelo portão quando escuto disparos em minha direção. Arrisco não parar e sigo sem ser atingida por nenhum tiro. Eu nunca pilotei tão rápido em toda minha vida, a adrenalina passa por minhas veias. Passo por diversas pessoas, que quase são atropeladas por mim. Estou quase chegando a saída da favela para a avenida principal e percebo que duas motos estão na minha cola. Os disparos em minha direção começam a surgir e eu penso que será impossível sair dessa viva, até que olho novamente pelo retrovisor e vejo aquela mesma miragem da Isabella do futuro, eu olho novamente um pouco confusa e ouço a mesma dizer: "Vai!".

Dona do Morro.Onde histórias criam vida. Descubra agora