Capítulo 7

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O baile pra mim foi uma completa bosta. Eu realmente não estava no clima e insisti em ir, tudo piorou quando uma piranha subiu no camarote pra ficar com o Pedro Henrique. A cena dela no colo dele embrulhou meu estomago e eu voltei pra casa. Um pouco de dor de cotovelo? Talvez.

Como sai cedo do baile, não tive dificuldades de acordar pela manhã hoje, em um belo domingo de sol. Me sinto um pouco irritada ao lembrar que preciso trabalhar na casa de Pedro Henrique hoje. Faço minha higiene matinal, preparo um café forte e coloco em meu copo térmico. Não demoro muito tempo em sair de casa e chegar até Pedro Henrique.

Ao chegar lá sou surpreendida com a mesma piranha de ontem sair de sua casa enquanto estou entrando. Passo por ela e reviro meus olhos sem que ela note. Abro a enorme porta que fica em sua sala e chamo por ele:

- PH, tô entrando. – digo alto.

- Tô aqui na cozinha. – ele responde.

Caminho até a cozinha e o mesmo tá sentado na cadeira, com os cotovelos apoiados na mesa e suas mãos estão tampando seus olhos.

- Está tudo bem? – pergunto.

- Só uma ressaca pós baile. Vou sobreviver. – ele responde.

Eu digo mentalmente "bem feito" porque ainda estou com raiva dele ter ficado com aquela piranha ontem. Infantil da minha parte? Muito. Pra compensar os meus pensamentos impróprios, tenho uma atitude gentil e ofereço a ele o café que trouxe pra mim em meu copo térmico.

- Toma, tá bem forte e vai te ajudar nessa dor de cabeça. – coloco o copo na mesa.

Ele tira as mãos do rosto, alcança o copo, diz bem baixinho um "obrigado" e eu fico surpresa ao descobrir que ele é educado. Ele dá um gole no café e eu sorrio como resposta ao seu agradecimento.

- Bom, eu estou indo para o escritório. Se precisar de alguma coisa, estou por lá. – respondo e saio em direção ao escritório.

Encarar o Pedro Henrique por mais de cinco segundos me enfurece, pois é o tempo suficiente para lembrar que não posso simplesmente me entregar nos braços daquele homem incrivelmente maravilhoso, pois vai totalmente contra ao que minha mãe me ensinou. E eu tenho meus objetivos aqui na Rocinha, eu quero ser reconhecida. Mas não quero ser reconhecida com alguém que ficou com o dono do morro, quero que me reconheçam pelo meu talento e inteligência que eu jurei provar ao Pedro Henrique que eu tenho.

Afasto o dono do morro dos meus pensamentos e busco me focar e concentrar nos negócios, repito a mim mesma que estou aqui pra isso: por negócios. Sento na cadeira que tem próximo a mesa onde está o notebook do tráfico, abro o mesmo e começo a buscar por informações. E realmente nesse notebook tem todas as informações do tráfico do morro. Desde a compra de armas a compra de drogas, os lucros, prejuízos e afins.

Fico algumas horas analisando os dados sobre valores gastos com a compra de drogas e noto que o morro está gastando muito dinheiro com isso e o lucro não está sendo tão alto, poderíamos está ganhando mais. Penso em algumas soluções como aumentar o valor das drogas, mas ainda assim não compensaria tanto. Comparado ao lucro do morro de onde vim, a Rocinha está muito pra trás e isso chega ser ridículo, não aceito que aqui sejamos os maiores apenas por metro quadrado, temos que ser os maiores em tudo.

Minha mente quase que salta de alegria ao pensar numa solução. É óbvio! Como ninguém nunca pensou nisso antes? Os lucros de qualquer empresário multiplicam quando ao invés de comprar um produto pronto para revender, ele fabrica o seu próprio produto. O custo é menor. A solução dos lucros do morro está aqui: precisamos fazer nossa própria cocaína ao invés de comprar pronta.

Minha linha de raciocínio é interrompida quando Pedro abre a porta do escritório carregando consigo uma bandeja com um prato e um copo.

- Já passam das 15h da tarde, trouxe um almoço pra você, em agradecimento pelo café. – ele coloca a bandeja na mesa.

Vejo que é strogonoff, uma das minhas comidas preferidas. Sinto meu estomago roncar e juro que não tinha notado o quanto a hora se avançou rápido.

- Uau, obrigada! Eu amo strogonoff. – pego uma garfada da comida e mastigo sentindo o sabor de um dos melhores strogonoffs que já comi na vida. – e esse aqui está espetacular.

- Gostou? Eu que fiz. – ele se gaba.

- Até que para um dono de morro você cozinha bem.

- Você me subestima muito só por ser dono do morro. Eu não só sou o dono do morro, eu tenho uma vida também. Eu sei cozinhar, gosto de futebol, tenho minhas manias em arrumar meu quarto, assim como qualquer homem normal da minha idade. – suas palavras meio que inocentemente são como uma espada em minha consciência, eu realmente só olho para o Pedro Henrique como um traficante, esqueço que ele também é um jovem de pouca idade como qualquer outro.

- Achei que não tivesse tempo pra isso. – respondo, tentando aliviar aquela conversa.

- É, você tem razão, o tempo está cada vez mais curto mesmo. – ele suspira e eu sinto peso sobre suas palavras. – Mas e aí, você tem alguma coisa para me dizer?

- Eu tenho uma solução que chega ser boba de tão óbvia. E eu não quero te ofender, mas como você nunca pensou nisso antes? – ele me olha confuso e eu continuo a explicar – Eu notei que os gastos com as drogas tem sido absurdos e provavelmente não está gerando o lucro que você esperava, certo?

Ele concorda e eu prossigo:

- O preço da droga pronta tá saindo um absurdo de caro. A gente precisa parar de comprar.

Ele me interrompe:

- Tá louca? Quer acabar com o morro? – ele se altera.

- Calma, baby. Cadê sua ambição, hein? – me levanto da cadeira onde estava e me direciono a sua cadeira, paro atrás dele, coloco as mãos em seus ombros fazendo uma massagem levemente, levo minha boca até seus ouvidos e falo baixinho – a gente vai fazer a nossa própria droga. Se dermos sorte, poderemos nos tornar grandes fornecedores. Os lucros não vão só dobrar, eles vão disparar.

Ele me olha boquiaberto. E pergunta:

- Do que vamos precisar para colocar esse plano em ação?

- Pasta base e um químico para misturar as substâncias. Um bom químico, se não estamos ferrados.

Ele assente e apresenta um problema:

- Você sabe que isso vai enfurecer nossos fornecedores, né?

- Eles que lutem, Pedro Henrique. Vamos atrás do nosso. Somos o maior morro da América Latina, precisamos fazer valer isso.

- Não diria que você é inteligente, mas que é gananciosa. – eu dou uma risada debochada e rebato:

- Quando você vê tanto dinheiro entrando, você vai me dá a razão que preciso. Mas e ai, vai apostar na minha ideia ou não?

- Preciso pensar primeiro. Isso vai nos trazer grandes consequências.

O interrompo:

- Teremos dinheiro suficiente para lidar com qualquer consequência, patrão.

- Enfim... estarei analisando as possibilidades. – ele responde.

(...) 


Oii gente! Olha quem voltou... só por favor, não me matem. A fic tá atualizada e vou seguir postando. Amanhã tem capítulo novo! 

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⏰ Última atualização: Mar 02, 2022 ⏰

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