Encontro casual

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Meu tempo tinha acabado. Levantei do banco e continuei meu percurso, infelizmente hoje não tinha como esperar mais.
Espero que ao sair do trabalho, tenha a mesma sorte  de ontem, encontrar a Aurora.
O nome dela combinava perfeitamente com os cabelos ruivos, com o fim de tarde e com o nascer do dia. Pensei.
- Nascer do Dia!!! Isso! É esse o nome do fenômeno que se dá ao nascer do dia, aurora. Nossa, que coincidência!
Me senti como um garoto de 9 anos, como se tivesse feito uma grande descoberta. EUREKA!. Algumas coincidências nos fazem parecer bobos, outras nos fazem chorar. Mas nesse momento, eu era um homem bobo.

*
Andei rápido, olhando para trás e para os lados. Tinha a impressão que estava sendo seguida. Infelizmente sabia que não devia estar aqui de novo, fui teimosa. Olhei pro céu das 17:00 horas e espraguejei. Falei mentalmente: - Só hoje.
Procurei o mesmo banco do dia anterior pra esperar ele passar. Sabia que às 17:30 ele passava por aqui todos os dias. Sempre olhando pro chão, com aquele aspecto cansado e uma bolsa à tira colo do lado. Confesso que já o vi em dias melhores, sorrindo, com fones de ouvido cantarolando. Hoje quando o vejo, sempre vem de cabeça baixa, quase caindo, topando de vez em quando em algum ladrilho mais alto que o comum.

Conheço o Heitor há muitos anos, porém eu só me dei conta que sentia algo por ele há uns 5 anos. Nunca tínhamos trocado uma palavra se quer. Ele não sabe quem sou, e nem que eu existia, até ontem. Se bem, que na verdade sobre a minha existência ele sabe, ele só não tem consciência.
Ele nunca olhou pra mim, e eu sempre estive nessa praça.
Quando ele andava de cabeça erguida há tempos atrás mais feliz eu não sentia por ele o que sinto hoje. Mas com o passar dos anos fui acompanhando cada passo dele, e por incrível que pareça me apaixonei. Só que infelizmente esse romance nunca daria certo. É realmente impossível.
O Heitor era um homem interessante, tinha a pele clara, mas não tão clara quanto a minha. Seus cabelos eram castanhos escuros e cacheados. Ele deixava crescer, assim como a barba que era bem distribuída e sempre estava bem feita. Ele tinha um sorriso sincero, e um jeito imponente de andar. Ele era atraente e convidativo sem querer, era evidente que ele não tinha noção disso.

Sai dos meus devaneios amorosos e dei conta que os minutos se passavam, e eles para mim são preciosíssimos. Droga, fui avisada que me arrependeria de tentar. Pensei.
- Por que eu sou tão cabeça dura!? Aurora, aurora..., Falei pra mim mesma. Respirei fundo e com os olhos fechados disse:

- Já tô aqui, vou tentar! Não custa nada! aí caramba, pior que custa!!!!

Quando abri os olhos após fazer o meu próprio incentivo, vi  o Heitor vindo. Meu coração acelerou, sentir borboletas no estômago, medo e pânico.
- Será que ele vai lembrar de mim? . Permaneço sentada ou vou de encontro à ele? .
Só me dei conta que falava alto, quando uma senhora sentada no banco próximo à mim, achou graça. Nem tinha percebido que tinha pensado alto demais. Ela tinha ouvido minha última frase.

*
- Ajuda aí destino, eu quero encontrar ela de novo. Pensei.
Saio do trabalho quase correndo, são 17:35 e a tarde está absurdamente linda. O céu está laranja de novo, respiro o ar da tarde e saio andando.
Meu trabalho não é longe da minha casa, por isso faço todo o trajeto a pé. E  tem a praça que eu adorava,( sim, no sentido passado), ela faz parte do caminho. Há uns anos atrás quando era mais feliz, adorava fazer esse percurso. Hoje em dia, quase sempre faço o trajeto sem nem dá a mínima para o que acontece ao meu redor.
Mas hoje não, hoje estava empolgado, e andava olhando pra frente. Precisava encontrar ela e me redimir. Dez minutos de caminhada e eu já estava na praça.
E lá estava ela sentada no banco. A luz do sol se pondo, batia nos cabelos ruivos, e por momentos achava que a luz vinha dela mesma.
Meu coração acelerou e minha boca secou. Como ela era linda...

Ao me aproximar, falei tímido.

- Olá! . Aurora não é?
-  Oi. Sim, Aurora. Pensava que não fosse lembrar de mim. Quer sentar?

Percebi que ela tinha corado. E apesar de não corar como ela, sentia meu pescoço esquentar, também estava sem jeito. Ela se afastou e sentei ao seu lado. Ela tinha um rosto calmo, uma pele charmosa, sardas, sorriso largo e cativante, seus olhos eram castanho claro. Admirei e nem percebi que havia ficado calado demais olhando pra ela, e quando me dei conta ela corou novamente.
- Me desculpe, eu não consegui disfarçar. Mas, você é linda demais.
Ela riu
- Ah, obrigada. Fico lisonjeada. Você também é bonito.
- Então, queria te pedir desculpas pela minha indelicadeza de ontem. Eu estava cansado e ultimamente tenho andado mau humorado. Mal falei com você, confesso que nem sempre fui assim.
- Eu sei, você já foi mais animado. Soltei.
- Oi?Como assim? Você já me conhecia?

Gaguejei. Droga, tinha falado demais. Poxa Aurora, vai com calma. Pensei. Disfarcei a garfe, limpei a garganta e prossegui.

-  Ah, quis dizer que, que...,que você parece ser alguém legal. Forcei um riso.
- Humm, acho que entendi. A propósito você gostaria de sair comigo amanhã? Eu preciso me redimir com você e te mostrar que sou um cara legal.
- Então, é, eu não sei se posso. Amanhã a noite estarei ocupada.
- Tudo bem, mas de qualquer forma se puder em outro horário, não se preocupe. Amanhã estarei de folga e podemos fazer algo durante o dia. Assim não te atrapalho.
-  Então ótimo, sim, aceito. Rir de empolgação. Estava saltitando por dentro.
- Mas preciso avisar que vais precisar acordar bem cedo. Quero te levar a um lugar especial.
- Cedo? me diz qual é esse "cedo "pra você. Rir.
- Humm, cedo 6:00 horas da manhã.

Quase cai, mesmo estando sentada. Como eu ia fazer? O homem que eu amava estava me convidando pra sair, não podia dizer não. Não podia perder essa chance.
- Tá bem. Às 6:00 estarei pronta, onde nos encontraremos?
-  Posso te pegar na sua casa.
-  Não!. Quase gritei. É... Minha casa é muito longe. Menti.
-Podemos nos encontrar aqui, que tal?
- Ah, por mim tudo bem.
- Heitor, eu preciso ir agora. Mas gostaria que soubesse que não te abordei ontem do nada. Sei que pareci uma louca, mas estava sã.

Respirei fundo, sabia que não teria muitas chances como essa, então resolvi bruscamente falar tudo que queria. Sei que isso não e nada elegante em um primeiro ou quase encontro, mas tinha que tentar.
- Então Heitor, eu sempre estive por aqui. E há 5 anos te vejo fazendo esse trajeto. Devo confessar que sinto algo por você. E me desculpe estar sendo tão direta, mas realmente não tenho muitas opções e nem tempo, e preciso ser sincera.
- Nossa, quanta informação. Eu realmente não esperava, mas gostei de ouvir. Já que é pra ser sincero, tenho que dizer que desde que te vi ontem não parei de pensar em você. A sensação que eu tenho é que te conheço há muito mais tempo. E isso é louco, por que só fazem 24 horas.
- E se eu te dissesse que realmente nos conhecemos há muito mais tempo, o que você diria?
- Diria que estava tomando sol demais na cabeça. Nós rimos.
- Heitor sei que parece loucura. Me interrompi. - Enfim, tenho que ir. Mas antes, quero te dizer mais uma coisa. Quando se sentir triste, olhe pra cima, olhe pro dia. Aproveite!

Sai andando tão rápido que quase cai,  o Heitor ficou com uma cara de choque. E foi pego tão de surpresa que não teve nenhuma reação. Ótimo! Era disso que precisava.
Ouvi ele gritando atrás de mim
-  Nós veremos mesmo amanhã?
Eu me virei e sorrir. Ele entendeu o recado.

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