Voltei Por você.

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Parece que os dias não melhorariam nunca. Me arrumei para o trabalho, peguei minha bolsa e os fones de ouvido. Hoje o dia ia ser lindo, a aurora já começava a surgir no horizonte e o vento lembrava o verão.
Ao chegar na praça lembrei do que ela tinha me proporcionado, e levemente sorrir de canto. Apesar de tudo, tinha sido uma boa lembrança.
Havia passado um mês desde o dia que virei para a Aurora e acenei. Só eu sei o que sofri, mas para mim era mais prático cortar tudo de uma vez, já que de uma forma ou de outra, ia acabar. Bem, pelo menos foi o que ela deixou claro.

O bip do meu relógio digital me lembrava que ainda era cedo, ou seja, tinha tempo para fazer qualquer coisa antes de chegar no trabalho. Decidir me sentar em um banco, coloquei a bolsa de lado e levantei os olhos para o céu.
Lembrei da vez que a Aurora havia me dito que se eu me sentisse triste era só olhar pro céu que tudo ia ficar bem. Será que ela já estava planejando todo esse jogo de ilusão, amo você mais não quero?
Qual era o real motivo dela ter me dito aquilo? Será que ela já planejava desde o início acabar com tudo isso?

Sai dos meus pensamentos quando um vento quente tocou meu rosto como um beijo. Por incrível que pareça me lembrava o beijo dela. Essa memória tinha decidido não decodificar da minha cabeça. Era uma boa demais para ser esquecida. Sei que isso pode parecer meio sádico, mas gostar de alguém e deixar de gostar não é fácil assim.
Comecei a rir do nada, a música que escutava nos fones de ouvido, haviam me lembrado dessa sensação agora, que coincidência.
Curvei a cabeça toda para trás, e com os olhos fechados, movendo os lábios cantei um trecho da música rindo.

"Quando eu estou aqui estou inteiro. Você me entediou e eu daqui te vejo, eu daqui te beijo... Com vento na cara,os cachos nos olhos e os olhos no tempo, o tempo não para".

De repente como em um passe de mágica ouvi os pássaros começarem o show deles. Cantavam alto, a ponto de me fazer ouvir mesmo com os fones, abri os olhos, e pareciam querer dizer algo. O céu estava ficando cada vez mais azul com poucas nuvens, percebir que seria o dia todo assim.

Foi quando uma sensação estranha me cercou, era como se eu estivesse sendo acompanhado. Decidir levantar e ir para o trabalho.
Foi então que senti um toque leve no rosto. Levei um susto e olhei para o lado, mas não havia ninguém. Meu coração palpitou forte.
- O que tá acontecendo aqui? Pensei.

Comecei a caminhar e sentir um vento forte envolvendo todo o meu corpo como em um abraço. Me arrepiei dos pés a cabeça, e por um momento veio o rosto da Aurora na minha cabeça, os cabelos ruivos, as sardas e os olhos quentes e intensos. Ela me lembrava o nascer do dia, e isso sempre foi uma coincidência pois o nome dela era Aurora, assim como o nome dado cientificamente ao nascer do dia.

Apressei mais os passos e fui parado por uma nova sensação. Dessa vez, eu sentia no peito, no coração, um calor, uma saudade. E outra vez o vento quente me tocou o rosto, e senti o mesmo, me envolvendo e me abraçando.

De repente, pássaros passaram voando em grupos e as árvores balançaram em uma espécie de dança. Meu relógio soltou o bip, avisando que já eram 7:00 horas.  Quando baixei para olha-lo ouvi a voz dela quase sussurrando, e não acreditei; era ela. E antes que pudesse levantar a cabeça para dizer que estava com saudades, a voz dela  ecoou suave...

- Voltei por você...

A frase chegou com o vento e com o vento se foi. Olhei atordoado ao meu redor e ela não estava lá. Meu coração apertou e com lágrimas nos olhos, olhei para o céu e me questionei o por que. Agora tudo  estava começando a fazer sentido. Aurora me amava, mas não podia ficar, por que ela era muito mais que uma mulher. Descobri quando olhei pro céu vi ela no nascer do dia. Tudo fez sentido, a minha Aurora, era um fenômeno, literalmente.
Com o passar dos dias e dos anos me tornei um novo Heitor. Aceitava o fato de viver sem a mulher dos meus sonhos fisicamente perto de mim. A Aurora me amou e me ensinou em tão pouco tempo, que apesar da rotina estressante do trabalho, ou o ladrilho chato da calçada da praça que sempre me faz topar, a vida era muito mais que tudo isso. Ela era linda, a vida era um espetáculo, assim como nascer do dia, e o despertar da noite.
Dentro de mim, sempre seríamos Aurora e eu.

Todo dia, após me aprontar para o trabalho, e seguir no mesmo trajeto para o escritório, assim que chegava na praça, recebia um beijo quente no rosto. Um vento macio que  sempre vinha como carícia dela nos meus cabelos. E eu só sorria e dizia:
- Olá, meu amor, dormiu bem?

Fim

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