Manhã

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Acordei  cedo, primeiro que a Aurora. E não estava acreditando no havia acontecido na noite anterior. Acho que ela era minha e vice versa. Não no sentido de posse, mas no sentido poético da palavra.
De uma coisa eu sabia, estava ficando perdidamente apaixonado por aquelas sardas que mais pareciam um céu estrelado em noite de lua cheia.
Meu coração palpitava forte, a ponto de me fazer lembrar, que precisava respirar fundo e me concentrar. Seus cabelos ruivos acomodados na manta me fizeram sentir atraído para um vida cheia de possibilidades e emoções que poderia viver ao lado dela.

*
Despertei do sono, mas não abri meus olhos. Queria pensar em tudo que tinha acontecido, os lábios quentes do Heitor nos meus, suas mãos macias nas minhas costas e o peso do seu corpo. Ao abrir meus olhos com calma, fiz questão de memorizar cada detalhe daquele lugar.  Vi ele sentado de costas para mim, olhando sério para fora da gruta.

-Bom dia, Heitor. Falei, após um pigarro para afastar a rouquidão.
-Bom dia querida, conseguiu dormir bem?
- Sim, apesar do chão duro, confesso que foi uma boa noite. E você?
- Haha. Minha noite foi perfeita. E sorriu.

*
Falei com minha cara de bobo, olhando ela se sentar com os cabelos bagunçados. Aproveitei a deixa e perguntei,
- Aurora. Será que poderíamos....
Minha voz falhou.
- poderíamos o quê? Ela me perguntou coçando os olhos com o dorso das mãos, parecia uma menininha de cinco anos fazendo isso.
- Se poderíamos tentar, isso, ficar juntos, eu e você como um casal.

Ela empalideceu e não pude ter outro sentimento, se não medo. Será que ela havia se arrependido de tudo?
Após um tempo em silêncio, antes que começasse a falar, se levantou e sentou bem na minha frente e segurou minhas mãos.
- Não posso.
- Como assim não pode?
- Heitor, eu te amo e é verdade. Tudo isso está sendo incrível, mas eu não posso. Me desculpe por ter te chamado aquele dia no parque. Eu sabia que não deveria mais mesmo assim o fiz. Não quero te magoar e sei que já faço isso. Mas, me perdoe.

Começou a chorar. E minha cabeça pairou em outro lugar, e por um momento sentir como se tivesse saído do meu próprio corpo. Foi um balde de água fria. Decidir  então não perguntar mais nada. O Heitor mau humorado de dias atrás tinha voltado.
- Ok.
Foi tudo o que conseguir dizer. Se era pra ser assim, não ia ser eu a insistir. Não ia implorar uma chance, até por que não tem nada mais deprimente ,do que convencer o outro a viver um relacionamento a qual ele não quer participar. Mesmo não gostando, eu respeitava a decisão dela.
Engoli o choro, não queria chorar na frente dela. Tudo aconteceu rápido, eu sei. Mas ela me fez acreditar, quando se declarou pra mim, e isso me magoava profundamente. Não toquei mais no assunto e decidir arrumar as coisas para irmos embora. Já tinha passado muito tempo com ela, e não queria criar mais memórias. Já que era pra ser assim, então que seja.

O dia havia amanhecido nublado outra vez. DROGA! O clima lembrava exatamente meu humor. Na verdade, quando acordei estava me sentindo leve, tudo mudou depois da conversa com a Aurora. Era como se um dia amanhecesse ensolarado, prometendo a uma familia com quatro filhos pequenos e um cachorro peludo, que o dia seria perfeito para pescar. E durante o café da manhã o noticiário avisasse que a previsão do tempo era de fortes pancadas de chuva durante todo o resto do dia. Estava que nem aquelas crianças com toda certeza, ou como o cachorro.
Ao organizamos tudo, começamos o trajeto de volta. Chegamos no local mais movimentado da cidadezinha e pegamos um táxi. Dentro do carro perguntei a ela se gostaria que o táxi fizesse o percurso direto para casa dela.
- Quer que eu peça para o taxista te deixar em casa?
- Não, não precisa eu gostaria de ficar na praça, pode ser?
- Como quiser.
Fizemos toda a viagem em silêncio. Ao chegarmos na praça, ela desceu . E eu permaneci no carro. Quando o taxista começou dar a partida, eu pedi para parar. Desci e a chamei.
O tempo já estava ficando pior, e já sentia os primeiros pingos de chuva.
- Aurora, então é isso? Só isso?

Ela permaneceu calada.

- Sério, que você me abordou aquela tarde se apresentou, depois disse que me amava, que me conhecia há anos, aceitou sair comigo, tivemos uma noite linda, para no final me dizer que não podia tentar??
Minha voz embargou na hora e senti minha vista ficar embaçada. Estava chorando, e não podia evitar, ela tinha feito seu primeiro estrago em tão pouco tempo.
- Aurora, já que vais permanecer calada, só o que posso dizer é: Vai, mas não volta.
E me pus a andar, isso era um adeus e não queria olha-la no rosto.

*

Meu coração estava dilacerado. Estava magoando a pessoa que mais amava. Como eu pude ser tão cruel? - Choraminguei.
Ele me fazia aquelas perguntas e eu não conseguia responder, estava sem chão, sem céu, sem ele. A frase ecoou na minha cabeça "Vai, mas não volta".
Quando olhei, ele ia longe. Foi quando meu corpo em um impulso quase involuntário despertou daquele pequeno estado de choque, e gritou.
- Heitor! me perdoa. Mas não posso.

Ele virou e me olhou de longe. Sabia que ele me ouvia então continuei falando.
- É tudo muito complicado, você não entenderia...

Ele levantou a mão e acenou...
Acho que isso era um adeus.

Voltei por VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora