Capítulo 2 - Matando por prazer

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Nice

- Você consegue fazer isso! Você consegue fazer isso. - Disse repetitivamente para meu reflexo no banheiro daquele posto imundo.

Não reconhecia a pessoa que me olhava de volta. Roubei algumas maquiagens e roupas, me arrumei pela primeira vez na minha vida, era assustador, e diferente. Eu gostei.

Coloquei meu melhor sorriso no rosto e fui para a praça onde sempre me esbarrava com Juan, um traficante aqui da região, meu alvo.

Estaria mentindo se dissesse que não estou apavorada com o que pode acontecer, estou ficando louca. Ficando? O que mais me apavora não é a parte do roubo em si, e sim do sexo. Tenho medo da forma como meu corpo e mente reagirão ao toque de um homem, já faz tanto tempo. Tenho medo de estragar tudo, mas não posso sentir medo.

- Nice? - Juan se aproxima, vejo sua silhueta se aproximando no escuro da praça - O que faz aqui a essa hora? Está tão bonita.

- Você gostou? - Vejo ele morder o lábio inferior enquanto assente com a cabeça, sinto meu estômago revirar - Me arrumei pra você.

- Pra mim? - Vejo a dúvida surgir em sua face.

- Sim. Andei pensando bastante, você é o único homem que se importa comigo, para os outros eu sou um fantasma. Me sinto tão sozinha. - Jogo a isca para ele pegar - Só você parece me notar, então, eu achei... - Me finjo um pouco de tímida, como se estivesse com vergonha de falar - E-eu achei que seria legal me arrumar assim pra você.

- Ah é? - Ele estava surtando, conseguia ver sua cabeça pensando no que faria comigo - Me diz, como você conseguiu essas roupas, e essa maquiagem? - Faz uma carícia no meu queixo.

- E-eu roubei, você sabe que não tenho dinheiro. - Digo olhando para baixo.

- Vem comigo, Nice. Venha comigo e te darei tudo, não precisará roubar nunca mais...

- É-é sério? - Arregalo os meus olhos - Você faria isso por mim?

- Oh, sim Nice, com toda certeza. - Seus olhos gulosos passam pelo meu corpo, ele está começando à mudar, não tenho mais o corpo de criança que tinha quando fugi do orfanato - Mas você precisa fazer algo em troca...

- O quê? Eu faço qualquer coisa! - Digo desesperada e seus olhos brilham.

- Venha comigo. - Me estende a mão.

- Aonde você vai me levar?

- Para minha casa. - Pego sua mão de forma relutante e vou andando com ele.

A casa dele é exatamente o que eu imaginava, um chiqueiro. Há drogas espalhadas para todos os lados, dinheiro, bebidas, o lugar é nojento, e olha que eu moro no meio de uma floresta com dois garotos e nenhuma vassoura.

Vamos andando até os fundos da casa, onde fica o seu quarto. Paramos na frente da cama, um na frente do outro.

- Eu vou te proteger e dar tudo que você quiser Nice, mas para isso acontecer você precisa me dar algo em troca... - Ele desce as mãos pelo meu corpo. Meu corpo se arrepia, e não é de prazer.

- Eu dou o que você quiser. - Sussurro contra os seus lábios. Engulo em seco, é agora.

Ele me puxa pelo quadril e cola nossos lábios. Sinto sua ereção contra a barriga, meu coração dispara, a sensação é horrível, sinto o ar escapar dos meus pulmões. Sua língua adentra minha boca e tento corresponder ao máximo, eu preciso continuar.

Meu coração bate tão rápido que tenho a sensação de que vai explodir.

- Ei, relaxa. Eu não vou te machucar. - Tento me concentrar na minha respiração.

"- Shh... Não grita. Não vai doer. Eu sei que você gosta. - Disse passando prensando seu corpo imenso contra o meu."

Minha mente é inundada por imagens do meu passado e meus olhos começam à marejar na mesma hora.

- Você está bem? - Ele diz parando de me beijar. Vejo a sala inteira girar quando abro os meus olhos.

- S-sim. Eu só estou um pouquinho nervosa. Nunca fiz isso antes. - Me esforço o máximo para continuar. Respiro profundamente, sentindo o ar entrar nos meu pulmões.

Eu consigo fazer isso. Já passou, aqueles homens não estão mais aqui. Estou fazendo isso por mim e pelos meus meninos, ninguém nunca mais vai tocar em nenhum de nós. E se esse é o sacrifício, assim será feito. Apenas continue respirando.

- Eu vou cuidar de você. Vou te dar prazer, você vai gostar. - Fecho os olhos e confirmo com a cabeça. Respire.

Eu vou gostar.

Tento convencer à mim mesma. Se eu repetir muitas vezes, talvez se torne verdade. Talvez.

Ele me deitou na cama e me beijou, suas mãos passavam pelo meu corpo lentamente, com carinho. Coloquei as mãos em volta de seu pescoço e - com muito esforço - me deixei levar pelas sensações. Continue respirando.

Era diferente.

Não estava acostumada com o carinho, a lentidão, a preocupação. Tudo foi sempre muito bruto e doloroso.

Ele beijou cada parte do meu corpo, beijou atenciosamente os meus seios, e depois desceu para as regiões mais baixas do meu corpo, e conforme as coisas foram acontecendo, meu corpo foi relaxando, o medo deixando o meu corpo, e outro sentimento foi tomando o seu lugar. Seria isso o que chamam de prazer?

Na hora da penetração eu estava muito tensa, mas ele voltou a me beijar de forma prazerosa e tudo ocorreu bem. Vê-lo me tratar assim quase me deu dó do que irei fazer.

Eu disse quase.

Terminamos de transar e ele acendeu um baseado. Merda. Isso não vai ser o suficiente para apagá-lo. Preciso encontrar outro jeito.

Bato os olhos na cabeceira e percebo que tem um canivete em cima dela. Perfeito.

Ele levanta para ir no banheiro se livrar da camisinha e eu pego o canivete, deixo a faca pronta e escondo-a embaixo do lençol e fico deitada, esperando-o voltar, enquanto fico enrolada no mesmo.

Ele sorri quando me vê deitada e vem para perto de mim, deita com o corpo de lado, bem próximo ao meu corpo. Aproximo nossos rostos, prestes à beijá-lo.

- Você é tão linda. - Sorrio e enfio a faca em seu pescoço, puxando, rasgando, vendo o sangue derramar.

- Não, Juan, você que é. - Assisto a confusão em seus olhos, a traição, indignação. Sangue derramando, sujando meu corpo e rosto.

Não tenho tempo para apreciar. Me levanto e faço o que preciso fazer e saio correndo. Eu corro rápido, como naquela noite. Vejo a garota correndo ao meu lado, gargalhando como uma louca, ela pula e rodopia no mais puro êxtase, como se estivesse livre.

Flashs invadem a minha cabeça, uma enxurrada deles.

É como voltar no tempo.

O desespero, medo e adrenalina invadem o meu corpo. E corro até a cabana.

Por um segundo, olho para os meus pés e vejo sangue neles, em seguida ele desaparece, voltando à ser meu tênis.

Vince e Enzo estão do lado de fora, consigo vê-los de longe. Estou chegando perto, eles ouvem os barulhos em sua direção, eles me vêem, e quando estou perto deles, piso errado e caio no chão, batendo minha cabeça.

Invisible Chains - HiatusOnde histórias criam vida. Descubra agora