Prólogo

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Novembro de 2018

"Levantem-se! Aplausos!", diz o apresentador da vez.

As pessoas obedeceram seu pedido e sob a chuva de rosas brancas, elas estavam a aplaudir e assobiar. No palco apenas gratidão pela plateia fervente e satisfeita, não poderia ter sido melhor. Pensar que a apresentação nem poderia ter ocorrido por culpa da tempestade que atingira Seul naquela noite, alguns comentavam que se parecia com uma daquelas tropicais. Não havia luz em alguns bairros e o trânsito estava caótico. "Não tentem atravessar ruas alagadas!", o rapaz da meteorologia avisava. O gerador funcionou bem e o espetáculo prosseguiu, o relógio estava marcando 22h08 na parede do vestiário.

"Eu sei que estou atrasada!", Mina tenta se vestir e falar com a irmã ao mesmo tempo. "Essa apresentação era muito importante, Momo, você sabe disso mas você nem sequer veio por causa de um jantar estúpido."

"Não é um jantar estúpido", Hirai rebate. "É algo em família, Mina. Sana quase nunca tempo agora que está na residência, Jihyo trabalha até tarde naquele escritório e você está sempre dançando balé."

"Não é apenas balé, Momo, é o meu trabalho, é a minha vida!", a jovem respira fundo. "Eu já estou saindo, em quinze minutos estarei aí, tudo bem?"

"Não se atrase mais, a moça está vindo para cá", Momo sorri. "Acho que você vai gostar dela."

"Se vocês pensam que vão me empurrar para cima dela, podem tirar o cavalinho da chuva. Não tenho tempo pra isso."

"É o que veremos. Tome cuidado com a chuva, espere diminuir um pouco."

A mais nova desliga o telefone e se protege embaixo de seu guarda-chuva azul, o que não adiantou muito já que os ventos sopravam com violência. Myoui chega ensopada em seu Cadillac branco, abrindo a porta com pressa. Estava quente; Confortável; Harmonioso. Mina poderia facilmente dormir ali mesmo de tão cansada que se sentia, seus pés pareciam ter sido dilacerados pelas sapatilhas. Seu maior sonho enfim era realidade, estava trabalhando em um musical. Sempre foi apaixonada por eles, se lembrava de ir com os pais e as irmãs mais velhas ainda quando moravam no Japão. Sana e Momo não gostavam tanto como ela, seus olhos brilhavam ao olhar para as bailarinas e seus passos leves e delicados no palco. "Sim, é isso que eu quero!", a menina contava aos pais. A maior companhia de balé da Coréia a ofereceu uma bolsa quando ela tinha nove anos, foi difícil negar algo como aquilo. Os pais venderam tudo o que tinham e foram com as três filhas para Seul, recomeçando do zero. Myoui estudou durante anos e agora, era uma bailarina de verdade.

"Deus, são 22h14 não posso esperar a chuva passar", conclui Mina.

Ela liga o Cadillac e deixa o estacionamento devagar, com os limpadores de parabrisa na velocidade mais rápida. Myoui pega um atalho pela estrada principal, tinha certeza que por dentro da cidade ela ficaria presa no engarrafamento causado pela chuva e queda de árvores. "Em dez minutos estarei lá", pensa ela. Mina não queria ir àquele jantar, era uma tática das irmãs para lhe apresentar alguém. Sempre dava errado no final, Myoui estava cansada de sair machucada. Tudo o que a jovem queria era focar no seu trabalho, seguir a tão sonhada carreira de bailarina por qual ela tanto batalhou. Entraria em turnê no próximo mês, namorar estava fora dos seus planos.

"Está muito silencioso aqui", diz a si mesma.

Ela tira os olhos da estrada rapidamente para ligar o rádio, que chiava com a chuva. Myoui mudava a frequência, mas nada parecia bom. Sua música favorita, sim, ela encontrou-a em algum lugar. "But I can't help falling in love with you..."

Uma buzina tira sua atenção da melodia, a luz que vinha em seu encontro era forte o suficiente para cegá-la. Mina continuou enxergando-a durante uns minutos, como se estivesse em um looping infinito.

A luz aos poucos parecia se afastar e se afastar, estava tão longe agora. "Para onde ela foi? Para onde tudo se foi? Para onde eu fui?"

Era tudo escuridão.

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