Vizinha

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A noite começava a cair perante o apartamento silencioso; Chaeyoung repousava na poltrona da sala, mesmo que brigasse com os próprios olhos para manter-se acordada. Mina observava seus olhinhos pesados querendo fazer-lhe companhia; A garota parecia tão exausta de toda aquela situação. "Eu não gostaria de um fantasma maluco me perseguindo o tempo todo", pensa Mina em algum momento. As coisas estavam indo rápido demais agora que ela descobrira sua identidade; Um acidente que colocou-a no coma, duas irmãs que não viviam em harmonia, três dias sem respostas sobre a proposta do médico a Momo. A angústia da espera era maior do que qualquer outra coisa naquele instante; Ainda se lembraria onde Hirai Momo morava? Poderia tentar um contato com ela ou pelo menos se assegurar de que a irmã ainda não havia tomado qualquer decisão. Myoui Mina se certifica que Son Chaeyoung não resistiu ao cansaço e deixa o apartamento enquanto a mais nova cochilava tranquilamente.

Guiada por uma forte intuição em seu peito, Mina segue pelas ruas de Seul quase como se flutuasse por elas. Ela atravessa quadras e quadras ao leste tentando encontrar pequenas memórias que pudessem levá-la até Momo. Uma casinha confortável no fim de uma rua prendeu sua atenção por algum tempo; Era amarela e tinha um jardim muito bem cuidado na entrada. Mina tem recordações com aquelas flores e principalmente, o balanço lhe era familiar. Tudo ali remetia a ela uma infância feliz, o que era bom por uma parte; Myoui sentia-se amada, sabia que tivera uma família unida e que cuidava dela. Mas por outra parte, todo esse amor se transformou em sofrimento com seu acidente; Ela não gostava de pensar em suas irmãs e amigos derramando lágrimas por sua quase partida — o que a faz pensar que talvez partir, fosse de fato, menos doloroso para quem fica.

Mina atravessa a porta de madeira e é preenchida por sensações conhecidas das quais ela sentiu falta; Não era apenas a casa onde Momo vivia, era a antiga casa de seus pais. Fora triste a forma como eles partiram, quase ao mesmo tempo, pela mesma doença. De certa forma, Mina manteve as três filhas que eles tiveram unidas quando eles se foram; Mas Myoui não estava lá agora e novamente, a família estava em ruínas. Momo e Sana não conversavam e a mais velha passava seus dias culpando-se por discutir com Mina pouco antes dela bater com o carro.

Myoui tenta tocar as fotografias na mesinha da sala; Nelas, as três irmãs pareciam longe dos problemas da realidade. Mina sorri ao lembrar-se daqueles momentos que nem mesmo a morte poderia apagar de sua mente. Na cozinha, cheiro de torta de banana com caramelo, a favorita de Sana. Momo coloca as luvas térmicas e retira do forno depressa, deixando repousar sobre a pia. A superfície parecia crocante o suficiente e o recheio tinha sua maciez única; Mina quase pode sentir o gosto do caramelo derretido sobre os pedaços de banana. "Como eu queria um pedaço agora", pensa. Barulho de chaves destrancando a porta da frente, quem poderia ser? Momo morava com alguém? Mina acompanha a chegada de Park Jihyo, aproximando-se de sua irmã e deixando em seus lábios rosados um beijo carregado de saudade. Aquela era a corretora de imóveis, a mesma que alugou seu apartamento para Chaeyoung. "Só conhecidas", Myoui se lembra de suas palavras; Não eram completas estranhas que se viam às vezes, Jihyo era nada mais, nada menos, que sua cunhada.

"Ela vem para o jantar?", pergunta Park.

"Vem, eu disse que precisávamos conversar.", respondeu Momo. "Espero chegar a um acordo com ela, mas estou desesperançosa com isso."

"Você conhece a Sana, ela é complicada.", Jihyo abraça-lhe por trás. "Mas vai ficar tudo bem, ok? Ela vai entender."

Mina estava certa de que aquilo não significava algo bom; Teria Momo tomado sua decisão? Sana precisava intervir caso a irmã estivesse pensando em assinar aquele papéis. Myoui esperou até que a noite caísse e perto das 19h a campainha anuncia a vinda de Minatozaki Sana, a irmã do meio. Ela vestia roupas de hospital e carregava em seu braço um jaleco, o que dava Mina a certeza de que a do meio era médica. Ela solta e ajeita os cabelos louros enquanto outra jovem surge atrás dela retirando a capa de chuva; Tinha começado há pouco, mas estava forte, exatamente como naquela noite em que Myoui Mina sofreu o acidente. A outra moça — também loira — faz carinho com a ponta dos dedos na face de Sana, que sorri em resposta ao gesto.

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