❤ Capítulo 6

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Agnes

Arrumo a alça da mochila no ombro e aceno sorridente para o senhor Odair, que já está a postos na guarita a fim de garantir a segurança do postinho. Hoje o dia foi exaustivo, mas ainda estou longe de descansar. Vou tomar um banho para espantar esse calor e continuar minha busca por um emprego extra urgente.

Enviei currículos para cuidadora, babá noturna e até garçonete nas pizzarias e bares perto de casa. Estou aceitando qualquer coisa para desafogar as dívidas da minha família.

Ontem peguei minha mãe chorando escondido no seu quarto antes de dormir. Ela finge ser durona e forte, no entanto, sei que a saudade e os problemas que se acumularam a deixam transtornada.

Quero muito ajudá-la a aliviar esse peso nas suas costas.

Atravesso o estacionamento e sigo até o bicicletário onde minha excêntrica bicicleta rosa me espera. Ganhei de presente do meu pai no aniversário de 15 anos e nunca mais a larguei.

Com a passagem de ônibus cara do jeito que está, ela é minha melhor companheira para a ida e a volta do trabalho todos os dias. Demoro quase 30 minutos para atravessar o bairro, contudo, acabo fazendo um pouco de exercício e relaxando a mente.

Pego meu prendedor de cabelo da lateral da mochila e faço um rabo de cavalo antes de guardá-la na cestinha.

Sim, minha bicicleta também tem uma cestinha!

— Agnes, que bom que ainda te encontrei aqui filha. — Viro para trás com o som e avisto padre Juracir caminhar na minha direção.

Parece que ele veio com pressa pelas gotículas de água que se acumulam na sua testa e a respiração ofegante que sai da sua boca.

— O que houve? — Dou dois passos à frente, indo ao seu encontro. — Está tudo bem?

— Mais ou menos. — O homem passa a mão no cabelo calvo e se inclina um pouco buscando retomar o fôlego. — A Creuza não melhorou.

Apesar do fluxo enorme de pessoas que frequentam o postinho, eu costumo lembrar de cada rosto e nome de quem passa por mim. Desta senhora simpática que foi atendida no começo da semana eu me recordo muito bem.

Dela e do filho gato, aliás.

— Descobriram o que ela tem? — pergunto genuinamente preocupada, colocando um fio solto atrás da orelha.

— Acredita que foi diagnosticada com câncer de estômago?! — o padre conta tristonho e eu fico boquiaberta.

— Câncer? Assim de repente?

— Pois é, minha filha — ele suspira, ficando ereto de novo. — Só Deus mesmo pra nos guiar e nos fortalecer nos momentos de provação.

Caramba, coitada! Imagino como está sua cabeça agora. Pensou que não era nada demais e subitamente recebe a notícia de uma doença devastadora.

— Vim aqui porque o filho dela está contratando enfermeiras e parece que a Creusa disse que queria você no turno da noite. — Arqueio a sobrancelha, surpresa que tenha comentado sobre mim. — Ele me deixou esse telefone, se tiver disponibilidade é pra ligar hoje ainda. O coitado está com pressa de resolver tudo.

Estico a mão para pegar o pedaço de papel com o número anotado de forma esgarranchada em tinta azul.

Meu coração dá aquele salto mais uma vez. Não sei se pela possibilidade de arrumar o tão desejado emprego extra ou se pela vontade de ver o bonito homem de olhos verdes de novo.

— Vou ligar sim, estou precisando muito — confirmo tentando não parecer tão afetada.

— Ficarei feliz se der certo. Creuza nos ajuda há muitos anos na comunidade, sei que ficará em boas mãos com você. — Ele toca no meu ombro, sorrindo. — Já fiz até minhas recomendações para o Samuel.

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