❤ Capítulo 8

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Agnes

Passo pela portaria do luxuoso condomínio fechado vislumbrando as casas enormes, sem muro e com jardim na frente. Parece que estou naqueles filmes americanos.

Olho no relógio quando avisto o número do meu destino e respiro aliviada que consegui chegar a tempo. Ainda faltam 20 minutos para o horário do próximo turno. Hoje vim bem devagar, conhecendo o bairro e as paradas de ônibus. Creio que não terei problema quanto a isso.

Caminho pelos quadrados de cimento no chão, emoldurados pela grama verdinha, e aperto a campainha admirando os entalhes perfeitos da porta de madeira.

Uau, esse lugar é incrível!

— Boa noite, eu sou a Agnes! — cumprimento sorridente a mulher de meia idade que abre a porta.

— Boa noite, sou a Elza.

Ela não corresponde o sorriso, mas libera a minha passagem. Pelas roupas brancas, sei que se trata da enfermeira.

Merda! Será que tinha que vir com algum uniforme? Entro reparando na minha calça jeans e blusa de malha simples.

— Tinha que vestir algo específico? — Puxo assunto, preocupada.

— Nossa agência oferece uniforme padrão para esse tipo de atendimento em casa — é a única coisa que me diz.

Aceno com a cabeça e mexo nas mãos, ansiosa.

Samuel não falou nada sobre isso e imaginei que poderia vestir qualquer coisa. Espero que não tenha problema no primeiro dia. Era só o que me faltava.

Sigo-a por um corredor amplo, cheio de quadros na parede, e constato que por dentro é ainda mais bonito que por fora.

— A senhora Creuza está tirando um cochilo, não se sentiu muito bem hoje por causa da experiência com a quimioterapia — ela explica e entra em um quarto onde a mulher pálida está deitada. Parece tão frágil e cansada.

— Quais efeitos colaterais ela teve? — pergunto baixo, sentando-me ao seu lado em uma espécie de sofá no canto esquerdo do ambiente.

Não combina muito com a decoração, acho que foi colocado aqui recentemente para esse fim.

— Náusea, vômito e boca seca, além da falta de apetite que já vinha tendo — enumera parecendo um robô.

— Coitada da Dona Creuza, no começo é ruim mesmo.

A mulher não diz mais nada e também fico quieta, observando a cama. Será que a enfermeira passou o dia todo assim? Deus, não consigo ficar parada desse jeito por tanto tempo não.

Quando dá exatamente sete horas, ela se despede e vai embora deixando uma pasta na minha mão com o relatório do dia para entregar ao Samuel.

A minha aflição só aumenta.

Tinha que trazer material para fazer relatório escrito também?

Admito que um pouco do suor que se acumula nos meus dedos é pela inquietação em vê-lo. Esse bendito homem invadiu até meus sonhos ontem, que porcaria. Não consegui entender até agora essa fixação nos seus olhos verdes.

Exatos 15 minutos se passam até que Dona Creuza abre os olhos. Escancaro um sorriso enorme de alegria porque, definitivamente, não nasci para ficar sentada sem fazer nada de útil.

— Como está se sentindo? — Aproximo-me da cama e a ajudo se sentar.

A senhora simpática corresponde meu sorriso com um caloroso, como se estivesse muito feliz com minha presença.

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