❤ Capítulo 10

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Agnes

Solto um bocejo preguiçoso e coço os olhos, passando pelo portão estreito de pedestres. Não consigo deixar de notar a diferença dos lugares. Os prédios amarelados, juntos demais um do outro, e sem nenhum verdinho que seja no piso de cimento quebrado, são um contraste enorme com o condomínio fechado que acabei de sair.

A noite foi longa.

Não consegui dormir direito por causa da preocupação com a Dona Creuza. Fiquei morrendo de medo dela se sentir mal e eu não escutar mesmo tendo o sono leve.

Acabou que no meio da madrugada me sentei no sofá improvisado no canto do seu quarto e fiquei lá até o final do plantão. Tirei breves cochilos e acordei várias vezes à toa.

Ela conseguiu descansar a noite inteira, graças a Deus.

Caminho em direção ao meu bloco cumprimentando todo mundo que encontro com um sorriso cansado no rosto. O pior é que nem poderei me dar ao luxo de deitar agora. Minha mãe deve estar saindo para a feira da semana e eu terei que cuidar da faxina.

— Agnes, espere aí! — Escuto meu nome e viro para trás, avistando Vanessa correr desajeitada com um monte de bolsas penduradas pelo corpo.

Sorrio e dou meia volta, indo ao seu encontro. A ruiva de curvas avantajadas é minha melhor amiga desde o ensino fundamental. Na época da escola a gente se via, literalmente, o dia inteiro. Ela mora no bloco C e eu no F, quando terminava a aula nos enfurnávamos uma na casa da outra.

A vida adulta nos trouxe responsabilidades e não nos encontramos o tanto que gostaríamos, porém, a amizade continua a mesma.

— Eu voltando da labuta, e você indo — brinco, abraçando-a. Ela tem uma barraca no centro de comércio popular aqui perto. — Melhorou o mau humor da TPM?

— Nada que que um chocolatinho não resolva. — Sorri e eu acompanho. Vanessa é uma chocólatra assumida. — Como foi o primeiro dia no emprego? Viu o gostosão?

No dia que consegui a vaga nos vimos rapidamente e eu contei sobre Samuel e sua beleza que me deixa desnorteada. Como sempre faz, Vanessa já está na torcida que eu dê em cima do homem e o leve para cama.

Eu não sou tímida com o sexo masculino, mas minha amiga é um patamar acima, a desinibição em pessoa.

— A Dona Creuza é um amor, foi bem legal. Só não consegui dormir direito de preocupação. — Passo a mão no rosto e dou uma leve bufada ao lembrar de como fiquei ontem quando Samuel pegou na minha mão. Pensei que ele ia sentir meu coração na palma. — Sobre o gostosão, além de lindo é o cara mais cheiroso da face da terra. Tenho uma raiva de mim quando ele chega perto, fico parecendo uma boba sem reação.

— Eita, estou sentindo cheiro de romance no ar! — Vanessa zoa e dou um tapa no seu ombro.

— Que romance, tá doida?! O cara mal me reparou, é só educado. Aposto que não faço seu tipo.

— Querida, você faz o tipo de qualquer um com esse corpão e esses cachos poderosos! — Ela toca meu cabelo solto para enfatizar. — Se esse Samuel não ver isso, é cego ou gay.

Balanço a cabeça e ajeito a bolsa, não querendo mais pensar nele. Já basta invadir meus sonhos pela segunda vez. Isso está ficando perigoso, não posso nutrir nada pelo filho da minha paciente.

Muito menos algo com teor sexual.

Além de ser antiético, somos de mundos completamente diferentes.

— Enquanto ele não enxerga sua beleza, bora exibir pra outros! — Vanessa volta a falar, pegando o celular do bolso da calça justa. — O Fê me mandou mensagem avisando da inauguração de um barzinho hoje. Ele vem nos pegar às onze.

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