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— Christen, você soube?

A voz de Alex irrompeu a sua direita, atrapalhando-a enquanto lia o último parágrafo da biografia de Stanley Kubrick. A biblioteca estava bem vazia naquela manhã e Christen esperava que permanecesse assim. Ainda precisava revisar suas anotações para a prova de Produção Cinematográfica II e a professora, a Sra. Jobert, era uma completa carrasca que achava inaceitável um aluno do 3° ano não dominar todos os importantes pontos no que dizia respeito as etapas de filmagem e edição de uma película.

Com um suspirou, abaixou o livro em suas mãos, colocando-o sobre a mesa.

— Soube do que?

— ela perdeu de novo, — Alex disse.

Christen sabia.

No dia 10 de julho havia sido a final da she's believe cup que. Ela assistiu na televisão do dormitório a uma parte do jogo que ocorreu no estádio rio tinto mas não chegou a acompanhar o momento em que um dos jogadores da selação japonesa marcou o gol da vitória para o Japão. Como presenciou na Copa do Mundo, as americanas ficaram desoladas mais uma vez e, claramente, foi bem pior, visto que perderam em casa. Assistir à partida foi um ato doloroso; os seus olhos sempre paravam nela, parecia automático. Era como se estivesse tão habituada a focar constantemente na camisa 17 que se se forçasse a desviar o olhar, tudo perderia o sentido. Ela ficou obviamente abatida, como na copa, no entanto suas lágrimas não chegaram a cair; talvez ela já tivesse esgotado, Christen pensou, talvez ela tenha chorado por mim, como eu chorei por ela. Contudo, aceitar que Tobin se entristecera do mesmo modo que ela, era acreditar, indiretamente, em sentimentos puros vindos dela, o que para ela era uma completa piada. Tobin e sentimentos sinceros? Conte-me outra.

O americana, acabou sendo eleita a melhor jogadora pela UEFA, contudo ela sabia que isso não era o suficiente para suprimir a dor pela qual ela provavelmente estava tendo de enfrentar — “Bem feito”, ela queria dizer na cara dela. Uma derrota era uma derrota. Entretanto, uma derrota em sua terra natal significava desgraça, desonra e vergonha. ela levava a seleção nacional bem a sério e o mais importante não era receber prêmios individuais, mas sim provar a qualidade como conjunto, como um time entrosado.

Quando o seu telefone tocou as uma da manhã, ela achou que seria uma ligação urgente do pai. Poderia ser algum acidente com suas irmãs ou qualquer outra pessoa da família, mas o visor do celular indicava um número muito conhecido que a poucos dias a mesma tinha excluído do aparelho móvel. Por alguns segundos até cogitou se atenderia ou não; ela a ligou outras vezes e em nenhuma delas eu atendi, só que agora era diferente. Christen era empática e pensou na dor por detrás dos olhos de Heath.

Ela atendeu a chamada:

— Oi

ela não disse nada, respirando pesadamente rente ao telefone. Ela ia desligar a ligação, quando o mesmo se pronunciou:

— Achei que... Não fosse atender.

— Eu não ia — ela disse seca. — Mas não sou rancorosa, então pode falar.

Saiu do quarto, não queria acordar Alex e a ter em cima do seu cangote querendo ouvir a conversa. O corredor do dormitório feminino era iluminado por uma fraca lâmpada amarela com mal contato, que piscava vez ou outra. Ela se sentou no chão, encostando as costas na parede bege. Todas as moradoras do prédio estavam dormindo, então ninguém a veria ali fora usando o seu pijama edição especial da Batgirl.

— Você viu? — foi tudo o que ela sussurrou.

Christen ouviu o barulho de portas se abrindo e fechando. ela deve estar saindo do seu quarto, ela pensou e pela voz com certeza abusou de álcool.

La vie in rose (adaptada)Onde histórias criam vida. Descubra agora