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Não esqueçam de deixar seu voto


Christen Press gostava das peculiaridades e contradições que faziam de Tobin, a atacante do Portland Thorns, ser a sua melhor versão; adorava seu sorriso maroto em dias felizes e os olhos castanhos em momentos de derrota. Quando irritada por exemplo, a ponta do seu nariz adquiria uma coloração avermelhada e ela parecia respirar mais rápido e fundo, enrijecendo o pescoço e fechando os punhos. De antemão, o seu bom humor era contagiante; ela conseguia fazer as piadas mais idiotas do mundo serem engraçadas. A gargalhada dela era tão contida, mas ainda assim estridente e infantil. Christen não conseguia olha-la nos olhos sem deixar que um sorriso sincero lhe escapasse, e precisava admitir que até nos momentos tristes ela ainda parecia uma verdadeira campeã, sempre inabalavelmente de cabeça erguida. Tobin não tinha vergonha de chorar em público e ela sabia disso. ela achava deprimente, na verdade, pessoas que escondiam os seus sentimentos e, por isso, qualquer que fosse a situação, se sentisse vontade de colocar para fora toda a sua frustração em forma de lágrimas, assim faria. Tobin também gostava de coisas diferentes como pesca — atividade que ela detestava! — e esportes radicais, o que fazia com que a mesma constantemente se vangloriasse por seu suposto espírito aventureiro. Um dos seus maiores orgulhos era ser americana. Christen achava isso hilário, porque tal nacionalismo o fazia parecer uma republicana. Até imaginava ela usando as roupas do tio sam gritando “I WANT YOU!”, 

— A minha irmã parece gostar mais de você do que de mim, Christen. Dá para acreditar? Você foi a primeira coisa que ela citou quando me ligou ontem a noite.

Apesar de terem se passado nove meses, ela ainda se impressionava com o frio na barriga que sentia ao ouvi-lo falar o seu nome. Toda a vez parecia a primeira vez.

Ambas estavam deitadas no amplo quarto principal da casa de Tobin no Oregon enquanto a fresca brisa matutina adentrava por entre as cortinas brancas que separavam a varanda, do andar superior, do aposento. O cômodo era arejado e a sua decoração era a mais simples possível, com uma cama king-size disposta no centro e várias fotos da família Heath espalhadas em molduras pelas paredes e estantes. O closet ficava à direita, um grande espaço em tons de marrom e preto que guardava a coleção de chuteiras.

— De onde você tirou isso, amor? — ela perguntou, passando as mãos pelos olhos sonolentos.

ela, virado de frente para ela, bocejou ainda com sono, respondendo e por sorte não ouviu o meu "amor" descarado.

— Ela disse que quer te conhecer. Foi quase uma intimação.

Que horas são, Christen pensou, aconchegando-se mais no colchão fofinho. A luz do sol ainda não estava tão forte para ter passado das nove.

— Só por querer me conhecer ela gosta mais de mim? — inquiriu divertida, sentindo-a alisar delicadamente os seus braços por debaixo do lençol. — Você é uma drama queen.

— Não se importa?

Ela estava quase caindo no sono novamente, bocejando repetidamente.

— Importar com o que? — indagou em um fio de voz, confusa, abraçando-o pela cintura, prestes a fechar os olhos.

Os travesseiros dela eram tão bons, diferentemente dos travesseiros que tinham no dormitório da universidade.

— Em conhece-la.

— E por que me importaria? — ela resmungou, soltando-o e virando-se para o lado contrário. — Me deixa dormir.

— Christen isso é sério! — ela exclamou, puxando o lençol para baixo, levantando-se. — Vamos conversar.

Conte até dez, Christen, ela disse para si mesma, com os olhos fortemente cerrados. E não dê na cara dela.

Tinha feito uma viagem com conexão pela Air France que durou mais de dez horas, saindo de Lille em direção ao noroeste americano. Mal pregou os olhos no avião, porque ficou ansiosa demais e, por consequência, com medo de dormir tão profundamente que alguma aeromoça precisasse acorda ela nas escalas. Suas costas sofreram no assento da classe econômica, dado que mesmo Tobin insistindo em pagar a sua passagem e outras despesas, ela persistiu em arcar com os seus próprios débitos — ainda era desconcertante se relacionar com uma milionária. A vida de uma jogadora de futebol não era um comercial da Nike e muito menos a ostentação em redes sociais como todos pensavam. A moça não queria mimos que viessem da moça e não era capaz de vê-la como uma celebridade. Tobin era simplesmente... ela.

La vie in rose (adaptada)Onde histórias criam vida. Descubra agora