Capítulo 5

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- Você parece deprimido - diz Seungmin um dia no final de julho, quando nem sequer o ar-condicionado é suficiente para combater o calor. Enquanto esperam os músicos terminaren de montar seus instrumentos e refinar, ele se vira para Jisung com as sobrancelhas levantadas. - O que aconteceu?

Jisung franze a testa e pensa em tudo o que fez desde que saiu da cama de manhã.

- Nada. Eu tive um dia bastante normal, por que?

- Não sei - diz, dando de ombros - Parece que você está um pouco...solene. Isso é tudo.

Enquanto Jisung mordia o lábio e pensava como poderia estar solene quando todo mundo se comportou perfeitamente bem com ele, Seungmin conversava com Felix sobre o rico escritor que não aparece no bar há alguns dias.

Cantam a música habitual, com algumas linhas novas e improvisadas, e então Jisung percebe que Seungmin está certo. Seu coração não está na música.

A noite é pintada de fumaça das motos e conversas sobre a figura imóvel de Jisung. Meia-noite passou já fazem horas atrás, e seus olhos ardiam de fadiga, mas não conseguia dormir. Então aqui está, mordiscando o lábio e folheando a página de recortes.

Em algum momento, sem perceber, começou a contar o número de novas fotos e o número de fotos marcadas com uma cruz. E, para sua decepção, quase todos os seus velhos amigos do instituto se mudaram, e não escreve nada sobre eles há anos. Tentou ligar para o antigo número de Hyunjin, mas é claro que está fora de serviço. Provavelmente já faz meses ou anos. Quanto tempo?

-Ei - uma voz sai do nada, no escuridão. Jisung pula um metro e meio e quase solta um grito.

Mas, de alguma forma, a pessoa que está na varanda ao lado não lhe é completamente desconhecida. Ele tem um sorriso estranho e desconfortável, como se lhe doesse fisicamente mover o rosto dessa maneira.

- O que você está fazendo aqui?

Jisung hesita em dizer a verdade, mas ainda o faz.

- Contando o número de pessoas com quem perdi contato.

- E?

- Existem muitos - diz ele, e tem um desejo terrível de chorar. Os ecos distantes de amizade, risos e brincadeiras fazem as lágrimas se acumularem em seus olhos e acaba virando a cabeça para as fotos riscadas de seu livro. Os sorrisos velhos e desbotados, e a dor acaba transbordando, uma molécula após a outra. Não quer chorar e não sabe por que está o fazendo. - Ontem, sem ir mais longe, eu...era amigo de todos eles, mas...aqui diz que eles se mudaram? Eles foram embora? Eles não estão mais aqui? Por que? Estou mesmo sozinho?

O garoto na varanda ao lado exala neblina e nuvens brilhantes, escondendo uma risada sufocada.

- Sim. Você está completamente sozinho. Todos estamos sozinhos, simplesmente não vivemos o suficiente para perceber.

Jisung mergulha a cabeça nos braços e chora como nunca havia chorado antes, e sabe que isso ocorre porque esse não é o tipo de dor que amanhã será esquecido.

Não vê a expressão neutra do outro homem, não ouve como o cigarro cai dos dedos até o chão, três andares abaixo.

Na manhã seguinte, Jisung se levanta com os olhos inchados e um gosto amargo na boca. Está com seu livro de recortes nos braços, pequenos cortes feitos pelo papel nos dedos e ver a parede coberta de post-it verde o deixa enjoado.




- Eu não sou um ser humano muito bom. Nunca fui.

Um estranho começa a falar com ele no elevador quando Jisung entra. Quase estremece, mas de alguma forma não se sente surpreso ao ouvir aquela voz. O timbre baixo e como as sílabas se quebram quando ele fala. Uma espécie de relutância, de ingenuidade tímida apesar das palavras que usa.

𝐃𝐀𝐘𝐒 𝐆𝐎𝐍𝐄 𝐁𝐘 | minsungOnde histórias criam vida. Descubra agora