Fim - Amanhã

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A luz do sol flutua nos sonhos de Jisung, se transforma em algo frio e salgado e afunda na faixa macia de areia entre o oceano e a praia. Tudo vira de cabeça para baixo, e a areia úmida se transforma em lençóis quentes.

Quando abre os olhos, o emaranhado de tons de azul são substituídos por um teto que a alguns metros abaixo localiza uma pequena janela no fundo de um quarto estreito e tábuas de madeira lascadas sob tapetes gastos. É o seu quarto, embora não esteja exatamente igual a como estava quando despertou ontem, porque há post-its verdes colados por cada centímetro de cada parede no qual não se lembra de ter colocado. É como uma segunda pele de textos, diagramas, números e datas coloridas. A brisa move as cortinas e faz as anotações se moverem, puxando uma melodia de aplausos do papel levemente úmido.

Embora Jisung não se surpreenda com o estado de seu quarto, ele é pego de surpresa pelo grande número de post-its amarelos. No entanto, a confusão se transforma automaticamente em um sorriso quando vai até a varanda e encontra uma figura apoiada no parapeito.

- Você leu os amarelos? - pergunta o estranho abruptamente, com um brilho em suas pupilas que fica impertinente quando observa o olhar fosco de Jisung - Entre e leia-os. E abra a porta para mim quando eu bater.

Então Jisung entra, lê e abre a porta quando Minho bate. Dez minutos depois, eles estão ocupados preparando o café da manhã na cozinha. O desconforto se afasta e tudo progride com um passo suave, com direito a deslizamento dos braços ao redor de cinturas e queixos fundidos nos ombros do outro.

Talvez isso possa se repetir para sempre, Jisung pensa. Talvez um dia ele acorde já de cabelos brancos e Minho mantenha os dedos em sua cintura, sussurrando provocações incoerentes em seu ouvido e transformando tudo em um desastre, como hoje. Tomarão o café da manhã juntos na varanda, com os pés enrugados em chinelos macios e os cabelos finos demais para esconder seus sorrisos radiantes. Gostaria disso.





A maneira de fazer o amor de Jisung e Minho é resumida em gravuras leves em páginas desgastadas, compiladas em uma pequena lista que Minho intitulou de Coisas que Jisung coloca. Em raras ocasiões, ocorre combustão espontânea quando uma caneta cai, e normalmente, Minho molda as mãos nos calafrios de Jisung.

Como regra geral, estão feitos de noites normais e corriqueiras no bar, quando todos os deixam, com um copo de uísque intocado como árbitro. Jisung se vê olhando estupidamente para o rosto de Minho enquanto canta, refletindo sobre como é possível alguém parecer tão perfeito e tão destruído ao mesmo tempo. Bonito como um desenho a tinta, com a felicidade transbordando por seus contornos como chá envelhecido, Minho é como um artefato de perfeição perdida...Embora a parte perfeita morde a poeira quando levanta o olhar e, ao encontrar os doces olhos de Jisung, lhe lança uma piscadela.

Há algo neste pequeno ato de Minho que faz Jisung ficar prestes a largar o microfone e perder o ritmo da música. Não demorou muito até estar completamente perdido, porque Minho concordou com a distância que os separa, seus belos lábios respiram blues por causa da transpiração brilhante. O coração de Jisung bate forte em seu peito toda vez que seus pulsos colidem semi-intencionalmente, e a cada sussurro de "te desafio, você se atreve".

O jogo de desafios se torna letal quando a porta do salão se fecha e deixa Minho bater Jisung contra a parede.

- Diga isso de novo. O que você me desafia?

As palmas de suas mãos e seus joelhos deslizam sobre as coxas do outro, sussurros incoerentes pontuam cada gemido e cada suspiro. A urgência acaba com tudo e a frustração guia suas mãos quando abaixa o zíper. Ou talvez não seja frustração.

Talvez seja apenas a urgência, porque sempre estão com pressa, porque os grãos de areia desaparecem rapidamente das linhas de suas mãos. Porque a medida que o inverno se transforma em primavera, sua maneira de fazer amor se afasta das investidas bruscas e dos olhares ardentes, e se parecen mais como silêncios úmidos presos nos lençóis do apartamento de Minho. Porque quando a primavera chega, as montanhas desaparecem e apenas deixam um rastro constante de depressões.





𝐃𝐀𝐘𝐒 𝐆𝐎𝐍𝐄 𝐁𝐘 | minsungOnde histórias criam vida. Descubra agora