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Samantha Gadelha

Entrei no quarto de hotel chorando e me sentindo rejeitada mais do que deveria.

Eu sabia que não ia ser fácil, que Lipe teria por mim mais ódio que amor, mas se nos últimos anos eu o amei cada vez mais, tinha a esperança que ele também, só bastava ele enxergar isso.

Passei os dedos pelo rosto e encarei o espelho do banheiro. Nua frente a ele algumas cicatrizes que Álvaro tinha feito em mim ficariam para sempre.

O corte perto do pescoço que adquiri em uma de nossas brigas quando ameacei em ir embora, a queimadura de charuto na lateral do seio esquerdo, e um ombro levemente mais baixo que só se notava se reparasse bem devido a luxação que sofri quando rolei escada baixo tentando fugir dele.

Felipe tinha raiva de mim. Mas mal sabia ele que vivi no inferno os últimos três anos.

Meu pai precisava que Álvaro investisse na fábrica de laticínios e me ofereceu como moeda de troca. E quando me casei a empresa da minha família se reergueu, o tratamento de câncer da minha mãe foi pago, meu pai saiu da depressão e meus irmãos receberam a vida digna que eu não cresci tendo. Em troca, eu apanhei e sofri abusos, fui obrigada a usar drogas e participar de orgias nojentas promovendo os mais estranhos fetiches do meu ex-marido.

Foram os piores anos da minha vida, mas eu resisti. Resisti, pois o empréstimo dado por Álvaro tinha o contrato de três anos, três anos para que meu pai se reerguer e o pagasse de volta, se isso não acontecesse ele compraria a fábrica e tornaria meu pai seu empregado. Orei dia após dia paraquedas meu pai conseguisse. E ele conseguiu. Quando pagou a última parcela a Álvaro, eu entreguei o recibo junto com meu pedido de divórcio.

Revoltado é louco, tinha me ameaçado e dado a pior surra que já havia me dado, mas eu ainda fui forte, jurei vingança. Mas antes precisava ver a quem eu realmente senti falta a cada segundo.

Quando recebi a notícia que Felipe tinha saído do país o baque foi grande o bastante para me fazer pestanejar, mas então o convite de Ana caiu como uma luva, ele viria para o casamento e era o momento de nos acertarmos.

Felipe se deixou levar por minutos até me afastar, e naquela noite ele sequer tinha cedido, parecia introspectivo ao me olhar na sala da sua casa. Saber que agora uma garota que dividia apartamento com ele me atingiu em cheio. E se ele gostasse dela? Aparentemente a rechonchuda não estava afim, mas e se mudasse de ideia? Ela era bonita, eu tinha que admitir, e era mulher o que levando em conta o que conhecia de Lipe significava que ele tentaria algo.

— Por que você tem que ser tão teimoso, Lipe? Por que? — Suspirei amarrando meu cabelo no topo da cabeça e me enfiando na banheira.

O meu celular tocou assim que eu me enrolava no roupão.

— Alô? — Atendi o número desconhecido.

Amor pela segunda vez 《DEGUSTAÇÃO》Onde histórias criam vida. Descubra agora