Talvez eu não seja a melhor pessoa pra falar de esperança ou positividade, talvez eu não saiba ainda a maneira certa de buscar (e ser) equilíbrio, e talvez também não tenha aprendido por completo a canalizar toda essa intensidade que me configura. Perdi meu pai aos 19 anos de idade e não tinha ainda nunca nem perdido as chaves, não sabia lidar com isso, não fazia ideia que ele me faria tanta, mas tanta falta. Nunca imaginei que houvesse jeito de superar a partida.
Usei a escrita a meu favor, dei voz aos sussurros e à todos esses sentimentos que me sucumbem, escrevi sobre as dores (no plural) de ter perdido um pai tão cedo, sobre a honra de ser filha dele, de ter construído memórias, histórias e afetos, de ser agraciada por esse amor genuíno, constante e infinito. A morte do meu pai, apesar de indescritivelmente dolorosa, foi a força propulsora da minha evolução.
Há alguns meses me inscrevi aqui, arrisquei criar um capítulo e dei o nome de "A parte que falta em mim" contendo (até então) 14 crônicas. Eu sabia que tinha muitos sentimentos para serem redigidos, muita coisa pra colocar pra fora, eu só não sabia que a minha história pudesse interessar alguém... Mais de mil pessoas adicionaram "A parte que falta em mim" à lista de leituras. Que susto! Não era nem de longe a minha intenção. Eu me lembro de quando meu pai atendia minhas ligações dizendo: "oi Robertinha! Conta tua história...", e olha só pra mim, aqui vou eu contando a minha história, resistindo ao tempo, gritando ao mundo, que ele é a parte que falta, aqui.
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A parte que falta em mim.
Non-FictionMeu pai deixou esta vida num sábado nublado 28/05/2016, aos 52 anos, em decorrência da valvuloplastia.