Era um sábado nublado, o dia amanheceu sem cor, nem coragem. Não havia me preparado para a visita das 11h. O relógio passava do meio dia quando cheguei, diante daquele aglomerado de silêncio estendido em 3 mesas na recepção do Real Hospital Português, só tinha 1 coisa que eu não estava entendendo: Onde estava a minha irmã?
Olha só pra mim, tanta coisa pra me preocupar e eu só queria saber onde estava a minha irmã...
Sabe, no fundo a gente sempre sabe quando algo ruim está prestes a acontecer, a gente sempre sabe quando vai chover, o céu dá sinais. O mundo me deu sinais que eu não queria ver. Foi impressionante a minha capacidade de ignorar o fato, de negar a verdade. Eu não queria acreditar que meu pai morreu quando o dia começou e isso é a coisa mais humana que existe. A propósito, onde estava a minha irmã?!
Parei de lutar contra a natureza incontestável, aceitei que aquela gente toda estava ali para amparar a minha alma. Nada foi fácil, nem sequer acreditar na simplicidade de uma verdade sem ponto e vírgula.
Passava das 14h e lá vinha a minha irmã, mais devagar que o habitual, de ombros caídos como quem perdeu a guerra, sem meu pai, e nas mãos os papéis que declararam o fim de sua vida.
Era sábado nublado, 28 de Maio de 2016.
Três anos que eu conto a história dele, de como tudo começou e terminou num piscar de olhos. Três anos que eu falo dos prazeres de ser filha desse Cara e descubro as vantagens da saudade eterna.
Oh céus, como ainda o amo!!!!
Ele é a parte que falta em mim.
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A parte que falta em mim.
No FicciónMeu pai deixou esta vida num sábado nublado 28/05/2016, aos 52 anos, em decorrência da valvuloplastia.