Capítulo 12

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Mesmo percebendo a estranheza de Lily quando menciono seus pais, prefiro guardar a curiosidade para mim. Se ela não me contou nada, é por que não se sente confortável e eu respeito isso. Quando a hora chegar, e ela falar seja lá sobre o que for, sei que isso irá fortalecer mais o nosso relacionamento.
                    
                                         •••

— Perdão pela forma que agi ontem à noite, quando perguntou dos meus pais. Vou explicar tudo para você hoje.

— Você tem certeza? — pergunto

— É uma longa história, então, sente-se. — me sento na poltrona ao lado da TV  — Tenho alguns problemas com meus pais. Minha mãe é alcoólatra, e meu pai... Bom, a palavra certa para descreve-lo é pedófilo. Boa parte da minha infância foi resumida em agressões psicológicas e discussões. — Ela respira fundo.

— Tem certeza que está em condições para continuar?

— Eu estou bem, querida.  — respira fundo novamente — Ele foi acusado de assediar uma criança de 8 anos. Você está entendendo a gravidade do assunto?

— Querida...

— No meu aniversário de 14 anos ele foi preso. E desde de então o número de vítimas por ele foi aumentando. — uma lágrima escorre pelo seu rosto — Às vezes eu queria apagar essa parte da minha vida, minha mãe era a única pessoa que se importava comigo. Estava péssima na escola, estava muito abalada psicologicamente. Minha professora de literatura da época recomendou aos meus pais que me levassem ao psicólogo. Nossos recursos financeiros eram baixos, então recorri ao orientador do colégio. De acordo com ele, eu tinha todos os motivos para desenvolver uma futura depressão. Tive que tomar antidepressivos boa parte da minha vida, o que ajudou muito a superar meus traumas.

— Com as minhas poucas palavras, eu serei capaz de te confortar? — Ela afirma com a cabeça — Eu sempre vou estar ao seu lado. Isso nunca mais irá acontecer. — Ela sorri

— Quando comecei a me relacionar com garotos sentia certo medo. - E se eles fizessem comigo a mesma coisa que ele fazia? - Pode parecer mentira, mas Nicholas foi meu primeiro namorado. Eu achava que ele era o cara certo para mim, mas depois daquele acontecimento no bar percebi que estava errada.

— Sua primeira experiência amorosa foi com um babaca. Se eu pudesse... — interrompe minha fala para que ela pudesse dar continuidade a sua.

— Buscava apoio emocional na Kiara, e foi nesse tempo que percebi uma coisa: a relação entre garotas é diferente, me sentia mais confortável com ela. Esses sentimentos que estou sentindo com você, é algo que nunca senti antes. — Lily pega nas minhas mãos — É como se eu sempre soubesse que uma parte de mim se interessava por mulheres. Pelos seus lindos cabelos sedosos, pele inteiramente macia, o perfume natural. Ninguém nunca ao menos tentou me fazer feliz. Ter entrado naquele teatro foi a melhor escolha que tinha feito na minha vida.

— Às vezes me pego pensando... Como seria a minha vida se não tivesse aproximado de você no teatro.

— Quer saber uma coisa?

— Sim.

— Eu sempre fui ruim em fazer escolhas. Mas, de uma coisa eu tenho certeza: eu não errei em escolher você.  — seu sorriso escorregou — Terminei meus estudos aos 17 anos, precisava frequentar a faculdade. Comecei a trabalhar em pequenos comércios da cidade e com 19 anos
aluguei meu primeiro apartamento, dividi ele com mais 4 pessoas. Nesse meio tempo conheci a Kiara e as outras meninas. Passei por várias cidades até chegar aqui.

— Pensa em ir embora daqui?

— Não, eu me achei aqui, Catalina. Diferente de outros lugares em que estive. Essa sou eu, existe alguma razão para me amar?

— Não há uma razão especifica em te amar, eu apenas quero te oferecer o maior espaço dentro do meu coração.

Inclino a cabeça e pressiono os lábios em seu pescoço, buscando e oferecendo consolo enquanto imagino uma pobre menina, suja e seus olhos castanhos, perdida e solitária ao meu lado. Inalo o cheiro dela. - É um cheiro divino, meu perfume favorito em todo o mundo.

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