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Já estava no restaurante, esperando pela minha mãe havia pelo menos vinte minutos, e aquilo estava me aborrecendo mais do que deveria, porque eu a conhecia durante toda a minha vida e sempre soubera que Márcia Albuquerque era incapaz de chegar no horário em qualquer que fosse o evento. Mas eu não iria mentir para mim mesma, já que eu sabia exatamente por que estava tão irritada e chateada com aquela bobagem. O jantar "familiar" iria acontecer no dia seguinte e seria a primeira vez que um final de semana com Theo, em quatro meses de namoro, iria coincidir com aquele evento. Eu tinha conseguido fugir de estender o convite para ele por três meses, mas naquele mês minha mãe ficou de olho em mim e marcou o jantar justamente no sábado em que Theo estaria em Porto Alegre.

Meus pais conheciam Theo; eu os havia apresentado em nosso primeiro mês juntos, eles realmente se deram bem e minha mãe o achava extremamente bonito. Vivia fazendo suposições de como seriam nossos filhos e eu tinha certeza de que ela era nossa shipper número um, mesmo que para eles fosse estranha a forma como Theo e eu tínhamos nos conhecido.

Eu havia conhecido Theo pelo Instagram. Ele tinha comentado uma foto minha e começamos a conversar pela direct, passando para o WhatsApp após uma semana e permanecendo em contato por quase dois meses até ele finalmente vir para Porto Alegre me conhecer. No começo não passava de amizade; ele nunca deu em cima de mim ou me deixou desconfortável e acredito que tenha sido por esse motivo que eu tinha me apaixonado por ele. A paixão em si não era uma novidade para mim, então foi fácil reconhecer como eu me sentia por Theo. Não havia nada diferente na forma como eu me sentia com ele agora e como havia me sentido com meu último namorado, mas eu sabia que nós éramos certos um para o outro, porque Theo era diferente de todos os caras que eu já havia conhecido na vida. Ele parecia um homem sério e fechado, mas comigo ele era completamente adorável, era doce e amável, como nenhum outro havia sido. Me tratava com respeito e me fazia sentir amada. Ele perguntava sobre o meu dia, sobre as coisas que eu gostava, e se esforçava para me conhecer e aprender sobre mim. Fazia com que eu sentisse como se fosse a pessoa mais incrível e preciosa do mundo. Me dava atenção, fazia minhas vontades e me tratava como a rainha de seu mundo particular. E para mim, aquilo significava muito. Significava uma vida de possibilidades que eu nunca havia pensado ser possível em vinte e quatro anos, então, quando ele propôs namoro em nosso primeiro encontro oficial, eu não hesitei em aceitar.

Era fácil estar com ele, mesmo que eu evitasse manter algumas manias quando estávamos perto um do outro. Não queria afastá-lo, já que a distância era um problema enorme e nós não precisávamos de mais confusão. Theo só me oferecia o melhor lado dele e eu fazia o mesmo. Afinal, estar em um relacionamento era isto: algumas coisas podiam ser colocadas de lado por um bem maior.

Queria ele perto de mim o mais rápido possível e, já que ele não queria morar no meu apartamento, eu precisava acelerar o processo de mudança dele para a cidade. Por isso eu havia enviado as plantas dos apartamentos, explicado a localização e as formas de pagamento. Se ele comprasse um apartamento com a imobiliária da minha família, as condições seriam muito melhores e ele poderia se mudar mais rápido.

Suspirei em alívio quando visualizei a minha mãe entrando no restaurante e me levantei para que ela me abraçasse com força, voltando a ocupar a cadeira e deixando o celular de lado para focar a atenção em nossa conversa. Eu já sabia por que minha mãe queria falar comigo. Seria um aviso sutil de que eu não deveria faltar ao bendito jantar porque minha presença não era apenas requisitada, mas uma obrigação como membro da família Albuquerque.

Eu não tinha nada contra os sócios da imobiliária; na verdade, adorava todos eles. Meus pais não tinham irmãos, então eu havia crescido junto de seus melhores amigos e os considerava família, tanto quanto a minha de sangue próprio. O meu problema com aqueles jantares era a presença dos filhos desses sócios. Eu era a única mulher em um grupo de três homens, e eles eram completamente infantis e sem qualquer educação. Nenhum deles tinha a mínima vontade de fingir que gostava de mim, e desde a infância eu era tratada de forma rude e debochada. Não era engraçado ou divertido passar a noite inteira ouvindo bobagens de três marmanjos idiotas, e por isso eu evitava pensar naqueles jantares. Mesmo que fosse obrigada a comparecer todos os meses.

— Oi, Helô! — minha mãe disse de forma amorosa. — Como tu tá?

— Eu tô ótima — respondi. — E a senhora?

— Bem. — Foi direta e eu torci os lábios outra vez. — Teu pai comentou sobre o jantar? — Me lançou um olhar antes de pegar o cardápio para decidir o que pedir.

— Ele nem precisava, porque, mesmo com a mudança de data, eu tenho uma mãe maravilhosa que não me deixa esquecer disso — debochei e ela revirou os olhos. — Mas, se dessa vez vocês escolheram ter piedade de mim e me livrar desse inferno, eu vou ser eternamente grata.

— Tu é responsável pelo setor de marketing da empresa — lembrou o óbvio. — Como vamos fazer um jantar de negócios sem que tu vá? Já tá na hora dessa birra infantil com os meninos acabar, Heloísa. — E lá vinha o sermão e a defensoria gratuita para os três patetas. Minha mãe era completamente apaixonada por eles e nunca havia acreditado quando eu contava sobre as provocações e os comentários idiotas. Para ela, a errada era eu por não dar uma chance de conhecê-los direito.

Eu preferia morrer a passar mais do que duas horas por mês com qualquer um deles.

— Não existe birra. Eles que são uns imbecis — retruquei com a voz firme. Minha mãe era cabeça dura, mas eu havia nascido duas vezes pior do que ela. — E eu não vou faltar ao jantar. Sei das minhas responsabilidades, mesmo que eu odeie.

— Theo tá convidado. — Minha mãe mudou o tom de voz. Ela sabia que não ia me vencer e estava tentando apelar para o meu emocional ao citar meu namorado. Márcia Albuquerque jogava muito sujo. — E eu espero que ele vá, Heloísa. Não inventa de deixá-lo em casa e aparecer sozinha. Nossos amigos precisam conhecer ele, antes que vocês acabem noivando.

— Mãe, para de loucura, a gente não vai noivar agora. — Eu revirei os olhos. Eu pensava em me casar com Theo, mas não tão cedo. A prioridade era morarmos juntos e entender como funcionávamos como casal, antes de dar um passo tão importante quanto o casamento. Era nisso que eu acreditara durante toda a minha vida, mas eu sabia que, se Theo me pedisse em casamento, eu aceitaria sem nem pensar duas vezes e já começaria a planejar a cerimônia. Eu era sentimental demais e não queria perder a chance de estar com alguém que me tratava com tanta prioridade e carinho. Era difícil encontrar alguém minimamente decente hoje em dia.

— Deixe de ser teimosa, guria — minha mãe bufou. — Ele é completamente apaixonado por ti e tenho certeza de que já comprou alianças.

— Misericórdia, mãe, para de colocar lenha na fogueira. A gente tá namorando há quatro meses só. — Suspirei.

— Heloísa, eu te conheço. Desde que nasceu. — Ela riu. — Tu não vai esperar por ele, então espero que Theo seja mais rápido e te surpreenda. Quero te ver sem controlar algo pelo menos uma vez na vida.

— O dia em que isso acontecer, pode ter certeza de que eu vou ter um ataque fulminante no coração e morrer — brinquei e minha mãe gargalhou. — De qualquer forma, se ele me surpreender com um pedido, eu não vou negar. Mas nós nunca falamos sobre isso, então não teria motivos para ele tomar essa decisão com base em nada. Ele me agrada em todos os momentos e vai saber escolher o momento certo pra elevar o nível desses agrados. — Abri um sorriso satisfeito. — Mas eu acho cedo demais para isso.

— Casei com o teu pai com dois meses de namoro — minha mãe lembrou. — Mas, se tu não tá preparada pra isso, talvez seja melhor esperar — aconselhou. — É ótimo que Theo venha morar em Porto Alegre e vocês possam passar mais tempo juntos. Vai te dar a certeza da qual tu tá precisando.

— Não tenho nenhuma dúvida sobre ele — falei com convicção. — Theo é tudo o que eu sempre sonhei. Não esperava que a chegada dele na minha vida fosse ser tão inesperada, mas eu sou feliz com ele.

— Então fique ansiosa para receber um anel. — Ela riu. — Aliás, ele já decidiu qual apartamento vai querer?

— Ainda tá escolhendo. Acho que ele ainda não tem toda a quantia e por isso tá enrolando.

— Eu conversei com o teu pai sobre isso e nós decidimos que Theo pode assinar uma nota promissória e ir pagando o restante em parcelas que fiquem boas pra ele. Dando uma entrada como garantia, podemos fechar o contrato. A gente não pode fazer reserva e ele já tá analisando as duas propostas há mais de um mês.

— Eu vou conversar com ele sobre isso e aviso vocês.

— Tudo bem. — Sorriu. — Agora vamos pedir essa comidaporque eu tô com fome. — E com isso chamou o garçom, gesticulando animada e mearrancando um sorriso. Minha mãe era louca, mas eu realmente a amava e eragrata por ser filha dela.

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