Aquele era o meu melhor vestido. Novo, no caso. Havia comprado a peça duas semanas antes, em uma visita ao shopping junto de Marcela. Mesmo que tivesse custado um pouco mais do que uma pessoa normal deveria gastar em uma única peça de roupa, eu simplesmente não conseguira conter o impulso de comprá-la após experimentar e me sentir maravilhosa naquele modelo. Era vermelho-vivo, batia na metade das minhas coxas e tinha mangas compridas e soltinhas. O tecido era leve, e o decote profundo ia até a minha cintura, onde duas pontas caíam e podiam ser amarradas para dar um charme extra à peça. Era estonteante e, quando calcei as sandálias prateadas de salto e olhei o resultado da minha produção no espelho, um sorriso largo tomou conta dos meus lábios.
Eu estava incrível e nada do que aqueles babacas pudessem dizer para mim, ou sobre mim, mudaria o fato de que eu estava realmente maravilhosa.
Ajeitei alguns fios rebeldes e conferi a maquiagem uma última vez antes de sair do banheiro e voltar para o quarto, onde Theo me esperava sentado na cama, já completamente arrumado e perfeito. Não havia um único defeito naquele homem, fosse em sua personalidade ou em sua aparência, e eu tinha realmente muita sorte em ser amada por ele. Sorri e me aproximei, enquanto ele me analisava dos pés à cabeça. Com apenas aquele olhar, eu me senti bem. Me senti desejada, amada, completa. Isso me fez sorrir largo e me inclinar para selar nossos lábios brevemente.
— Você está incrível — Theo murmurou após recuperar o fôlego.
— Obrigada. — Sorri. — Precisamos ir ou vamos nos atrasar. E não precisamos de mais motivos para ouvir besteira. — Torci os lábios em descontentamento e Theo me lançou um olhar pesaroso. Segurou minha mão e saímos do apartamento. A viagem levou vinte minutos, e logo eu estava apertando o interfone para que meus pais abrissem o portão e eu pudesse colocar o carro na garagem.
Meus pais moravam em uma casa enorme na Zona Sul de Porto Alegre. Mesmo quando eu morava com eles, a casa ainda era gigante e tinha dois quartos sobrando. Agora tinha três, já que eu havia levado todas as minhas coisas para meu apartamento de forma definitiva. O jardim da frente era muito bem-cuidado por um jardineiro que visitava a casa duas vezes na semana e o quintal tinha, além de uma piscina enorme, uma jacuzzi e uma casa de lazer onde meus pais faziam churrasco aos finais de semana, quando não estavam viajando. Eu havia morado naquela casa por toda a minha vida e admitia que sentia falta. Principalmente da piscina, já que Porto Alegre não dava um descanso durante o verão.
Saí do carro seguida de Theo e ele novamente uniu nossas mãos, me puxando para seus braços e me beijando com cuidado para não borrar meu batom. Olhou em meus olhos e seu polegar direito acariciou minha bochecha, me fazendo sorrir torto e suspirar. Eu adorava a forma como ele era carinhoso comigo.
— Vai ficar tudo bem, eu estou aqui com você — garantiu.
— É a única coisa que está me deixando menos irritada e nervosa — murmurei e, após me esticar na ponta dos pés para deixar um selinho em seus lábios, o puxei pela mão até a porta de entrada. Toquei a campainha e minha mãe levou um segundo para abrir a porta e sorrir para nós, puxando a mim e a Theo para um abraço apertado.
— Oi, meu amor! — Me abraçou com força e se virou para Theo. — Tu tá lindo, Theo! — Sorriu largo para meu namorado, que acenou com a cabeça em agradecimento, claramente sem jeito. Eu soltei uma risadinha, pois sabia que ele não sabia como lidar com elogios. — Vamos, entrem. Todos já chegaram — falou de forma animada e eu senti o desânimo tomar conta de mim. Theo uniu nossas mãos, tentando me confortar, mas eu sabia que nada adiantaria até estar longe daquela casa e daqueles idiotas.
Seguimos para a sala de estar, com minha mãe falando sobre o cardápio da noite e sobre as últimas novidades naquela área da cidade e das famílias ricas que moravam por lá. Quatro dessas famílias — incluindo a minha própria — ocupavam a sala de estar, e eu abri um sorriso simpático e verdadeiro para os melhores amigos dos meus pais. Apesar de não suportar os filhos deles, eu realmente adorava e era tratada como uma princesa pelos três casais. Martina e Luís Oliveira, que era responsável pelo setor de contas da imobiliária, eram os pais de Leandro, o mais velho do grupo. Os cabelos claros eram da genética da família e os olhos castanhos tinham sempre um ar zombeteiro. Leandro tinha o costume de puxar meus cabelos quando éramos crianças e adquiriu a péssima mania de falar comigo com uma voz estridente, como se conversasse com uma criança. Ele sorriu divertido para mim quando cumprimentei seus pais e o ignorei completamente. Apresentei Theodore para os Oliveira e então segui para Paula e Carlos Brites, pais de Matheus, que tinha a minha idade e cabelos alaranjados e olhos verdes. Matheus havia se formado em administração, assim como o pai, e era com ele que eu tinha mais contato — mesmo que obrigada — dentre o trio. Nós ignorávamos um ao outro na empresa, mas nas festas de família ele adorava contar histórias sobre os meus erros no trabalho.
Era um babaca, mas não chegava aos pés de Otávio Maldonado. Seus pais, Letícia e Daniel, eram advogados e Otávio havia seguido a mesma profissão. Pelo que eu sabia, iria começar a trabalhar na imobiliária após a formatura — a que eu havia faltado com uma desculpa de catapora. Ele era o mais novo, mas, ainda assim, era o líder do trio e definitivamente o mais insuportável deles. Tinha os cabelos escuros e ondulados do pai, os olhos castanhos da mãe e era extremamente bonito. E ordinário. Eu me mantinha o mais longe dele quanto era possível.
Apresentei Theo para todos e nos sentamos na poltrona mais afastada do trio, enquanto eu fingia prestar atenção na conversa de meus pais e seus amigos. Estava sentada no braço da poltrona e Theo tinha o braço esquerdo em volta da minha cintura. Por quase meia hora, consegui me manter longe de qualquer irritação. Até meus pais anunciarem que o jantar estava pronto e a casa da piscina estava esperando por mim e meus "amigos" para a refeição. Nós nunca nos sentávamos na sala de jantar junto dos mais velhos, e, antes de Theo, eu passava quase duas horas sendo infernizada pelo trio de idiotas. Esperava que a presença de meu namorado fizesse os imbecis calarem a boca, mas aquela era uma esperança boba. E eu tive certeza de que nada iria mudar quando estava levando um pedaço de cenoura até a boca e Leandro me lançou um olhar zombeteiro, enquanto os outros dois esperavam pela fala genial do mais velho.
— Lolô — murmurou naquele tom estridente, usando o apelido idiota que meus pais usavam comigo na infância e me fazendo bufar irritada. — Pode me passar o sal? — indagou, mesmo que tivesse um saleiro do lado de Matheus, sentado ao lado de Leandro.
— Espere — Otávio recomendou. — Ela precisa tirar uma foto do saleiro e postar no Instagram antes disso, para todos verem o quanto o saleiro é incrível. — Me lançou um olhar debochado e eu bufei, resolvendo que iria ignorá-los e virando o rosto na direção de Theo, sentado ao meu lado com o cenho franzido e uma expressão indecifrável no rosto.
— Ignore — eu disse para ele. — É o melhor que podemos fazer.
— Não vai deixar o teu namorado falar com a gente, Lolô? — Matheus indagou. — Isso é muito egoísta. — Estalou os lábios, fingindo decepção. Voltei minha atenção para a comida em meu prato e não senti nenhuma vontade de comer, mesmo que o suflê estivesse com um cheiro incrível.
— Lolô sempre foi egoísta — Leandro murmurou e eu revirei os olhos, soltando um suspiro baixinho. Eles realmente não iriam me deixar em paz. — Lembra quando ela fazia fofoca para os nossos pais quando não queríamos brincar com ela?
— Fiquei de castigo muitas vezes por culpa tua, Lolô — Matheus voltou a falar. — Tu deveria ter vergonha.
Eu não respondi e enfiei uma cenoura na boca. Não iria retrucar as provocações e só esperava que aquela noite terminasse de uma vez.
— Deve ser difícil — Theo comentou, brincando com a comida no prato. Não olhava para os idiotas, mas eu sabia que estava falando com eles por conta do tom de voz. Ele sempre era manso quando falava comigo. — Ter uma garota tão bonita e legal por perto e não ter tido nenhuma chance com ela. — Então levantou o olhar para o resto dos ocupantes da mesa. — É dor de cotovelo? — questionou de forma tranquila, mas a provocação brilhava em seu olhar.
Eu não contive a risada e virei para encarar as expressões incrédulas dos babacas. Matheus parecia ter tomado um murro e Leandro encarava meu namorado como se ele tivesse duas cabeças. Otávio tinha os olhos semicerrados e uma expressão descontente no rosto. Me senti vitoriosa e incrível durante todo o resto do jantar e, quando nos despedimos, eu sorri abertamente para cada um deles e desejei boa-noite. O olhar de Otávio me causou um arrepio na espinha e eu soube que o comentário de Theo não ficaria a troco de nada, mas não me importei.
Nada do que Otávio pudesse falar ou fazer mudaria oque eu sentia por Theo, que era um homem muito melhor do que ele.
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Todas as coisas sobre você
Romance[DEGUSTAÇÃO] O maior problema de Heloísa Albuquerque é o jantar "em família" mensal do qual ela não consegue fugir. Aos vinte e quatro anos, Helô tem tudo o que precisa e deseja: um apartamento bonito, o emprego dos sonhos e um namorado perfeito. Ao...