Eu não sabia a qual divindade agradecer, mas, fosse quem fosse, tinha a minha gratidão eterna por ter feito aquela tarde passar em um piscar de olhos e, ainda assim, eu ter conseguido finalizar todas as minhas tarefas. Foi um alívio chutar os saltos para longe de meus pés cansados após me sentar no banco do motorista. Calcei as sapatilhas que eu usava para dirigir no final do dia e retirei o blazer, jogando todas as coisas para o banco de trás. Dei uma rápida organizada no interior do carro — já que estava indo buscar Theodore no aeroporto e eu não queria causar uma péssima primeira impressão de reencontro com meu namorado — e liguei o carro, manobrando o veículo para fora do estacionamento da imobiliária. Theo havia me avisado que pousaria em Porto Alegre perto das sete horas da noite e sugeriu que eu fosse em casa para tomar um banho antes de buscá-lo no aeroporto. Normalmente eu faria exatamente aquilo, mas estava tão ansiosa que não iria conseguir ir para casa e deixá-lo esperando por mim, mesmo que por poucos minutos. Queria fazer uma surpresa para ele e encontrá-lo na área de desembarque.
O caminho até o aeroporto não era complicado, já que o maior problema era sair do centro e conseguir entrar na BR 116. O trânsito estava lento, mas consegui deixar o carro antes das sete da noite no estacionamento. Deixei o celular no carro e ativei o alarme quando já estava correndo em direção às portas de entrada. O aeroporto Salgado Filho estava abarrotado, mas encontrei meu caminho até a área de desembarque no segundo andar sem muitas dificuldades. Tinha checado o status do voo no quadro de avisos e sabia que o avião já tinha pousado e os passageiros estavam desembarcando. Me estiquei na ponta dos pés, tentando encontrar meu namorado no meio da multidão. Estava sem fôlego por causa da corrida e meu coração batia com velocidade. Arrumei os cabelos e ajeitei a roupa, enquanto mantinha o olhar fixo nas pessoas que desembarcavam e me sentia mais nervosa a cada segundo em que não encontrava Theodore. Minutos mais tarde, quando a última pessoa deixou a área de desembarque com a família, o nervosismo tomou conta de mim completamente.
Será que Theo havia me passado o horário errado? Ou repassado o número do voo incorreto? Ele deveria estar naquele avião, eu tinha certeza; havia decorado o número do voo e confirmado o horário que Theo havia me passado antes de sair da imobiliária. Soltei um resmungo desesperado e me dirigi ao elevador, arrependida de não ter levado o celular comigo. Theo provavelmente havia desembarcado antes de eu chegar, mesmo que eu tivesse certeza de que havia visto a primeira pessoa a desembarcar do voo em que ele disse que estaria. Mas não havia outra explicação, havia?
Talvez ele tivesse perdido o voo e precisado pegar um mais tarde.
Eu realmente não sabia de nada e precisava do meu celular urgentemente. Atravessei o saguão do aeroporto e corri para a porta de saída, tirando os fios de cabelo do rosto e torcendo os lábios quando o vento levou os fios novamente para a frente dos meus olhos. Soltei um palavrão quando senti meu corpo trombando com alguém, amaldiçoando qualquer que fosse a divindade que havia resolvido me punir por ter feito o dia passar rápido. Ergui a cabeça para me desculpar pela desatenção, encontrando o sorriso largo de Theodore e seu olhar transbordando diversão. Os cabelos loiros dele estavam bagunçados pelo vento, e ele usava jeans e uma camiseta preta, lindo como o usual. Abri um sorriso largo e me joguei em seus braços no mesmo momento em que ele soltava uma risadinha.
Theo me acolheu imediatamente e beijou o topo da minha cabeça antes de me colocar no chão e segurar meu rosto com cuidado, unindo nossos lábios de forma apaixonada. Beijar Theodore era sempre muito bom. Eu gostava da forma como ele segurava meu rosto e como acariciava minhas bochechas. Ele não me deixava desconfortável ao agarrar minha bunda ou forçar mais do que um beijo, porque me respeitava. Mas, às vezes, eu pensava que os beijos deveriam ter... algo diferente. Eu pensava muito quando estava beijando. Nos sons à minha volta, na sensação do corpo dele no meu... Às vezes eu só queria não pensar tanto e aproveitar mais. Findei o beijo com um selinho e abri um sorriso para Theo, que continuou acariciando minha bochecha.
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Todas as coisas sobre você
Romance[DEGUSTAÇÃO] O maior problema de Heloísa Albuquerque é o jantar "em família" mensal do qual ela não consegue fugir. Aos vinte e quatro anos, Helô tem tudo o que precisa e deseja: um apartamento bonito, o emprego dos sonhos e um namorado perfeito. Ao...