Para todos que desamei
Ouço o barulho da agua morna caindo sobre meu corpo, cabelos molhados, olhos fechados, boca úmida, silêncio. Me dou um abraço apertado, finalmente a garotinha medrosa e insegura passa seus melhores dias sozinhas, e quando vi o coração dele despedaçado como confete no chão, mesmo que não tivesse feito nenhum mal para mim, foi o melhor dos meus prazeres.
Foi como ter uma sequência de orgasmos e então me viciei nisso. Odeio garotos maus, mas eles se apaixonam por mim. E quando a Primavera se foi, percebi que não era ela a tempestade, mas sim eu, que baguncei a vida dele e o deixei se cortando com os estilhaços. O destino pode ter me usado para alguma vingança, e querido, não me arrependo, é disso que sou feita.
Entendo o motivo de você ainda ser viciado em mim, sempre fui a fofa, encantadora e bondosa, mas talvez eu tenha cansado de amar e cansado de ser a princesinha nessa festa teatral. E aqui estou, me deliciando com a dor dos meus meninos pecadores, correndo atrás de mim como garotinhos carentes e pisando caso eu precisar. Estou absorta demasiadamente para me importar com o vazio de cada um deles e pensar na noite que Primavera se foi achando que eu estava brincando com suas folhagens, quando eu queria apenas diversão com o menino assustado, pois minha alma se encontrava em chamas.
E é disso que sou feita, amor.
De fogo.
