Encontros imprevistos

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Eu tinha acabado de completar 17 anos e, como esperado da idade, tinha todos os sonhos do mundo, porém nenhum controle financeiro. Como estudante, tirava notas medianas na maioria das matérias, mas era excelente em história. Era sagitariana, questionadora e com um gênio "um tanto quanto difícil" (segundo minha mãe). Estávamos em 2007 e eu queria viver como nas séries de comédia que eu assistia na tv.

Meus pais eram professores que pareciam se completar hermeticamente. Meu pai lecionava antropologia enquanto minha mãe era uma grande acadêmica das artes; ambos doutores, eternos apaixonados... engajados com diversas causas... E isso fez com que eu ganhasse muitos livros de presente de natal.

Eu era a caçula de dois filhos em uma família multicultural. Minha mãe era filha de imigrantes cubanos que migraram antes da revolução. E meu pai era de origem afro-americana.

Tinha passado grande parte da minha vida na Califórnia, onde nasci, mas me mudei pra Nova York depois que meu pai foi convidado para lecionar em uma grande universidade.

Minha mãe sempre foi presente, porém costumava estar mais envolvida com as Artes que com qualquer outra coisa; ela adorava pinturas abstratas, música, dança e poesia ... Ela me dizia:

_ Ivy, sereias podem ter muitas formas... o problema é que, na maioria das vezes, só as reconhecemos quando já naufragamos. (Algo que demorei bastante pra entender).

Naqueles dias Mamãe estava radiante pois havia conseguido realizar um de seus maiores desejos, algo que até então, era frustrado pelas aptidão (ou melhor, inaptidão) ...minha é do meu irmão. Dona Carmem sempre sonhou em ter um filho que, não só, demonstrasse apreço por seus gostos, mas que também fosse um artista.

Meu irmão até tentou... Desenho, violão, violoncelo, Teatro...

Sim! Imaginem a pessoa mais tímida do mundo em um palco? Exato! Toda comédia se transformava em uma tragédia total. Não que ele não tivesse sucesso no que tentasse fazer, mas nunca chegou a ser "um astro", um "rei sol" como mamãe queria.

O Peter estava mais pra biologia...

Isso mesmo! O que levou Peter pelo mundo foram as ciências biológicas, sobretudo as ciências marinhas e o estudo de risco ambiental. Ele já havia se formado e andava pelo mundo, de contrato em contrato. Lembro que, uma vez, me mandou uma carta com uma foto em que estava ao lado de um sheik árabe em uma plataforma de petróleo.

Pois bem, Peter já era algo mais que resolvido! Foi aí que as atenções se voltaram para mim... E eu estava no olho do furacão.

A adolescência nunca foi algo fácil e eu tinha perdido grande parte das minhas amizades na mudança. Após oito meses, apenas dois amigos ficaram e todos os outros pareciam ter me esquecido a partir do momento que entrei no avião.

Desde pequena havia praticado ballet, jazz e dança em geral, porém, sem muito compromisso. Eu odiava a rotina de movimentos repetidos infinitas vezes e as picuinhas causadas pela competitividade entre bailarinas. Nada disso me prendia, nada disso me fazia gostar realmente de estar ali.

Mas agora eu estava sozinha. Em uma nova cidade, em um novo mundo solitário ...

Os prédios eram tão altos que pareciam grandes paredes que se erguiam até o topo dos céus e se fechavam ao meu redor. Onde antes havia luz, agora estava escurecido pelo cinza e a fumaça dos carros.

Estranhava como as pessoas que andavam nas ruas estavam sempre tão próximas e ao mesmo tempo... tão distantes umas das outras. Tudo era tão impessoal ... e tão diferente... Até mesmo o belo Central Park, com suas árvores e carruagens que pareciam ter sido tiradas de algum contos de fadas, não me agradava.

A Bailarina da GaiolaOnde histórias criam vida. Descubra agora