Entre os pés e o coração

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"Como eu não tinha percebido antes?!"

"Como eu não a reconheci imediatamente???"

Se minha cabeça tivesse tempo pra se culpar eu, com toda certeza, me sentiria a maior das idiotas ... Mas... agora minha mente havia sido tomada completamente por aquela visão. Eu mal conseguia raciocinar. Eu era a abelha e ela "a flor" entre as flores.

Sem ar, acabei ficando tonta, o que fez com que eu recostasse minhas costas na barra. Senti uma aflição, não era medo. Ou será que era?

Eu não sei.

Era o ponto onde o ímpeto de fugir e o de enfrentar o desconhecido se colidem.

Eu fiquei ali, certamente porque, nesse impasse, minhas pernas não conseguiam se mover. Porém eu não era capaz de desviar meus olhos. Eu acompanhava cada movimento, cada gesto e os gravava imediatamente... Não pela tarefa que havia recebido do professor ...mas porque era algo inevitável ao meu desejo. Toda minha atenção, involuntariamente, ia em direção a ela.

Eu estava hipnotizada. Fiquei com receio de fechar os olhos por alguns instantes e, em um piscar, ela desaparecer. Mas, valeu a pena manter os olhos abertos pois cada segundo daquela visão era precioso. Elizabeth executava cada passo com precisão cirúrgica, não existiam erros ou qualquer pequeno defeito, cada movimento era executado com tamanha leveza que os passos pareciam ser feitos sem qualquer esforço.

Assim que a sequência acabou ela caminhou em minha direção de maneira graciosa e calma, era como se não tivesse feito nada. Talvez ela já convivesse a tanto tempo com a perfeição que se tornou indiferente a ela. Mas eu... eu estava impactada, de boca aberta. E quanto menor se tornava a distância entre nós, mais rápidos as batidas do meu coração se tornavam.

_ Você vem comigo desta vez Ivy ? (Perguntou Elizabeth).

Eu concordei balançando a cabeça, desviando meus olhos dos dela.

Prontamente coloquei-me a disposição. Começaríamos a partir da quarta posição, então ajustei meus pés de acordo, ergui meus braços direito, arcado sobre a cabeça. E posicionei o braço esquerdo em meio círculo, frente ao corpo. Eu estava bastante familiarizada com todos os passos da sequência, porém a presença dela me deixava abalada.

Eu estava presa em um feitiço desconhecido e, enquanto ela caminhava ao meu redor eu podia sentir seu olhar analisando minha postura milimetricamente. Eu estava tensa, rígida como um soldado sendo vistoriado por um general. Meus músculos se contraíram tamanha a tensão. Até que senti a estática delicada de seus dedos, como pequenos choques elétricos percorrendo a pele nua das minhas costas, com o toque, posicionando minha coluna. Fazendo instantaneamente arrepiar todos os meus pelos.

Todos os meus pensamentos se foram.

Eu estava próxima a um estado catatonico onde inconscientemente, por alguns instantes, acabei me alienando do resto do mundo. Eu não sabia se por imposição desta força ou por vontade própria... Não havia nada além dela.

Senti meu rosto queimar com rubor. Apalpei com uma das mãos as bochechas, analisando se minha condição vergonhosa havia se tornado visível. Enquanto ela continuava a me observar com seus frios olhos verdes, que me perfuravam como estalactites de gelo.

Ela me corrigiu mais uma vez e se posicionou em minha frente, de costas. Ergueu graciosamente um dos braços e pôs o outro à frente do seu dorso, como um círculo. Cada músculo parecia ter sido esculpido naquela posição. E talvez algum desavisado, que a visse assim, pela primeira vez, pensasse que ela era algum tipo de estátua. E levaria um susto quando ela, enfim, começasse a dançar.

A Bailarina da GaiolaOnde histórias criam vida. Descubra agora