Klement Maczýc
Quando chegamos no cargueiro, os baús com os presentes de Lennon e Martina já estão em cima do navio e os últimos soldados estão subindo a escada que leva ao deque. Entre eles, eu.
A nossa frente o Mar Mediterrâneo nos mostra um dos seus lindos pôr dos sóis. Por dois segundos esqueço a matança que aconteceu há duas horas. Balanço a cabeça para que as imagens dos miolos estouradas, gritos de dor e tripas arrancadas saiam da minha cabeça. Parecia um cenário de guerra...
Suspiro e caminho em direção ao interior do navio onde ficam os dormitórios. Depois de achar o meu, me jogo na cama e pego o livro do Arthur Doyle que trouxe para essa viagem. Quando estou mergulhado nas aventuras de Sherlock e Watson, alguém bate na porta do meu quarto.
― Está escorada. ― grito e a porta se abre e a figura do meu pai entra.
― Klement. ― diz ele, parece calmo e até mesmo arrependido.
― Sim? ― pergunto quando ele se aproxima e se senta na cama, perto dos meus pés.
Ele me olha e dá um sorriso triste.
― Quero pedir desculpas por mais cedo. ― diz ele. ― Fui completamente um pai idiota. Pai nenhum deveria forçar o filho a matar alguém.
Fico em silêncio esperando ele continuar, então ele suspira e continua:
― Essa dívida não começou conosco. ― responde ele. ― Mas virou nosso legado.
― Não podemos simplesmente não fazer? ― pergunto.
― Não funciona assim...
― Existe livre arbítrio, democracia, podemos fugir para a Suíça. ― digo.
― Quando nossa família há muito tempo entrou nessa vida eles deixaram de lado qualquer forma de nos livrarmos. ― responde meu pai.
― Eu não vou fazer nada que aquele homem me pedir. ― respondo.
― Faça por mim...
― Achei que o senhor tivesse vindo pedir desculpas. ― comento.
― Eu vim.
― Então?
Ele sorri.
― Você é igualzinho a sua mãe, Klement. ― responde ele. ― Mas enfim... ― balança a cabeça. ― Me desculpa, filho, por todo esse negócio de te forçar mais cedo no confronto.
― Ok. ― respondo. ― Eu te desculpo.
― Pense melhor sobre o que você está colocando em risco, querido. ― responde meu pai. ― Se não aceitar ficar no meu lugar, vai haver consequências para seu tio e os filhos dele, então um dos filhos do tio Kristhofer vai ter que assumir esse cargo.
― Mas eles só têm 12 anos. ― respondo me lembrando dos meus primos, gêmeos que estudam na Romênia aonde meu tio mora. ― Isso é horrível.
― Apenas pense. ― ele se levanta da cama e me olha, parece que ele tem certeza que eu vou aceitar o maldito desse cargo de ser capacho dos irmãos Scafidi. ― Estamos no saguão. O navio parte em meia hora, se junte a nós na comemoração.
― Vou pensar. ― respondo. ― O livro está mais interessante do que a companhia daqueles assassinos.
― Eu sou um deles. ― diz meu pai na porta do quarto.
― Você é difer...
― Não tente amenizar a realidade, Klement. ― ele me interrompe. ― Você sabe muito bem que tenho muito sangue nas minhas mãos.
― Pai...
― Te espero no saguão. ― dito isso ele sai do quarto.
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Nota do autor: aaaaaa, mas o que está acontecendo aqui? Parece que Klement tem uma decisão difícil a tomar sobre tudo isso. Que barra hein meu segurança favorito! Nos vemos no próximo cap! XO
🎵 Música tema desse cap: Close To You - Fun Factory 🎵
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ARQUIVO FAMILIAR - Os Irmãos Scafidi #Contos | Em Andamento
Short StoryLivro de contos da família Scafidi