CAPÍTULO SETE

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Rosenilce era a filha mais velha de uma família de dez irmãos. Não sabia dizer ao certo há quanto tempo sua família morava na baixada e nem como foram parar naquele lugar. Tudo o que lembrava era de que morava ali desde sempre, cresceu correndo sobre o emaranhado de pontes de madeira que, como artérias ligavam todas as casas a ponte principal que tinha a mesma função de uma rua, caso não morasse em um terreno alagado.

Sua casa de madeira, grande e espaçosa, não era muito diferente das outras, a não ser pelo tamanho. Nem todos que moravam em uma área de ressaca, dispunham de boa condição financeira para construir uma casa grande. Muitos moravam em pequenos barracos feitos com pedaços de madeira, alguns até mal-acabados e sem sombra de dúvidas, seus moradores jamais teriam dinheiro suficiente para terminar de construir seus casebres. Mas uma coisa ninguém podia negar, todos ali viviam como palafitas, e essa era uma das muitas desvantagens de se morar em uma área de ressaca.

A família de Rosenilce Silva era uma das mais antigas da baixada, eles conheciam quase todos os moradores. Dentro da baixada havia de tudo: lojas de confecções, mercearias, panificadoras, igrejas, pontos de vendas de açaí que eram mais conhecidos como, batedeira de açaí; e é claro, os pequenos bares. Era comum o filho de um vizinho casar com o do outro, e assim, vizinhos tornarem-se parentes. Por isso, algumas famílias eram muito numerosas e quase todos os moradores tinham algum grau de parentesco.

Rosenilce, assim como seus irmãos, bem que tentou concluir o primário. Mas a única escola mais próxima da baixada e que também ficava em um bairro da periferia da cidade de Santana, havia mais ausência de professores do que de alunos. Logo, não demorou para que Rosenilce chegasse a conclusão de que, estudar era perda de tempo. Ela sabia que a falta de professores na escola se dava por causa da violência dos bairros adjacentes ao da baixada. O pessoal da baixada não eram do tipo que levava desaforo para casa, e em especial, ela e seus irmãos. O lema de sua família era: bateu-levou. E para alguns outros moradores, o lema era ainda mais pesado: bateu-morreu.

O negócio da família de Rosenilce sempre foi o tráfico de drogas, coisa que não era muito difícil para quem vivia em um lugar como aquele, já que a polícia raramente entrava na baixada para fazer uma batida, estourando uma boca de fumo. E quando isso acontecia, geralmente era para investigar algum caso de assassinato, que se concluía quase sempre como acerto de contas. E todo mundo ali já sabia, por isso, ninguém se metia a besta com a família de Rosenilce.

As duas famílias mais antigas da baixada, não se bicavam muito bem. Mas a rixa entre eles deu uma amenizada, depois que Rosenilce Silva começou a namorar com o cabeça da família rival que, ao contrário da família dela, eles não trabalhavam com o tráfico de drogas. Mas comandavam os assaltos, furtos e roubos, e infelizmente, vítima fatal, era o que não faltava quando eles saíam para uma empreitada.

O cabeça da família rival chamava-se, Alan Souza, conhecido por todos como, Alanzinho. E nem ele e menos ainda seus irmãos, tinham pena de meter bala em quem quer que fosse que estivesse em seu caminho. A família Souza era muito temida pelos moradores, justamente por seus atos de crueldade. Mas assim como eram cruéis, sabiam muito bem como defender os moradores daquela comunidade, ninguém ficava impune quando cometia algum ato que fosse considerado criminoso entre seus moradores. As comunidades das baixadas, costumavam ter suas próprias leis.

Porém, tudo mudou na vida dos moradores daquela baixada quando finalmente, o Conjunto Habitacional Moradia Para Todos, teve sua obra concluída. E assim, deixou de ser um sonho e tornou-se realidade, principalmente para aqueles que jamais teriam condições financeiras para construir sua casa própria. Todos os moradores, sem exceção, foram remanejados da área de ressaca para o Conjunto Habitacional. Ouve um longo processo de adaptação, mas com o tempo, tudo acabou se resolvendo. Só que agora, o acesso da polícia havia ficado mais viável, e os moradores sentiam-se até mais seguros para fazer denúncias anônimas. E foi através de denúncias anônimas de alguns moradores que, Alanzinho, finalmente tinha ido parar atrás das grades. Mas para a infelicidade de vários pais de família, que sofreram as perdas de seus filhos, mesmo sabendo que eles tinham cometidos crimes horrendos, Alanzinho fora preso por tráfico de drogas e não por assassinato.

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⏰ Última atualização: Sep 03, 2020 ⏰

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