18. O Altar do Incenso

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Toda e qualquer peça que se encontrava no tabernáculo era celeste em sua concepção. Mas este, o altar do incenso, falava de algo totalmente novo, inusitado e solene. Inicialmente por sua posição. Ficava em frente ao véu.

"E farás um altar para queimar o incenso: de madeira de cetim o farás... E com ouro puro o forrarás... E o porás diante do véu que está diante da arca do testemunho, diante do propiciatório, que está sobre o testemunho, onde me ajuntarei contigo. E Aarão sobre ele queimará o incenso das especiarias; cada manhã, quando põe em ordem as lâmpadas, o queimará" (Ex 30.1-7).

Não havia meio de Aarão entrar no lugar Santíssimo sem passar por ele. E todas as vezes que os sacerdotes, filhos de Aarão, que não poderiam jamais entrar no Santo dos Santos, mirassem em direção do véu, o incensário ali colocado já os avisava de que algo ainda faltava e os impedia de lá entrar.

Mas devemos notar algo bem peculiar. Este altar de ouro estava no lugar Santo juntamente com o candelabro e a mesa com os pães, mas não era considerado como mobília deste recinto. Preste atenção agora o que diz o escritor de Hebreus, em seu capítulo 9.2-4, a este respeito.

"Um tabernáculo estava preparado, o primeiro, em que havia o candeeiro, e a mesa, e os pães da proposição; ao que se chama o santuário". Onde está a descrição do altar conforme vimos acima, em Êxodo 30?

"Mas depois do segundo véu estava o tabernáculo que se chama o Santo dos Santos, que tinha o incensário de ouro, e a arca do concerto..."

O incensário estava no Santo, mas não era do Santo. É contado juntamente com a arca que estava debaixo da glória de Deus, no Lugar Santíssimo.

Alguns, por não terem ainda se aprofundado nesta questão, simplificam a interpretação destas coisas, alegando que o escritor de Hebreus se referia ao altar do incenso depois de Jesus morto, com o véu rasgado, fazendo-nos crer que o caminho para o Santo dos Santos ficou livre, pois o "véu do templo se rasgou em dois", levando o escritor a contar este altar como pertencente ao Lugar Santíssimo.

E bendito seja Deus, realmente o véu se rasgou, e podemos entrar com "ousadia no santuário, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou, pelo véu, isto é, pela sua carne" (Hb 10.19-20).

Mas há um contexto que não deve ser desprezado. O último versículo do capítulo 8 de Hebreus e o primeiro versículo do capítulo 9 nos fornecem a base para a interpretação que fazemos.

"Dizendo Novo Concerto, envelheceu o primeiro. Ora, o que foi tornado velho, e se envelhece, perto está de acabar. Ora também o primeiro [concerto] tinha ordenanças de culto divino, e um santuário terrestre."

A descrição do tabernáculo que se segue, portanto, refere-se ao período do primeiro concerto, o período da lei, cujo término dependia da "morte do testador".

Além do mais, o leitor atento verificará a descrição dos três elementos que compunham o testemunho, dentro da arca: "um vaso de ouro que continha o maná, e a vara de Aarão, que tinha florescido, e as tábuas do concerto" (Hb 9.4).

Mas se avançarmos um pouco mais no tempo, quando Salomão edificou um templo para o Senhor, "trouxeram os sacerdotes a arca do concerto do Senhor ao seu lugar, ao oráculo da casa, ao lugar santíssimo, até debaixo das asas dos querubins", mas "na arca nada havia, senão só as duas tábuas de pedra, que Moisés ali pusera junto a Horebe, quando o Senhor fez aliança com os filhos de Israel" (1 Re 8.6-9).

Portanto, quando Hebreus descreve o lugar Santíssimo, e a ele pertencendo o altar do incenso, que estava fisicamente no lugar Santo, separado pelo véu, o escritor inspirado considerou o tabernáculo num período ainda anterior a Salomão, quando ainda o véu estava inviolado e os três elementos da arca ainda estavam lá.

Retornemos. Será que o leitor já percebeu o significado destas coisas? Ouçamos uma indicação similar.

"Vós sois de baixo, eu sou de cima; vós sois deste mundo, eu não sou deste mundo" (Jo 8.23).

"Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo" (Jo 9.5).

"Não são do mundo, como eu do mundo não sou" (Jo 17.16).

"Respondeu Jesus: O meu reino não é deste mundo..." (Jo 18.36).

"Saí do Pai, e vim ao mundo: outra vez deixo o mundo, e vou para o Pai" (Jo 16.28).

O Senhor Jesus saiu de seu trono, a habitação com o Pai nos céus, simbolizado pela arca dentro do Santíssimo, e veio ao nosso mundo através do "véu" de sua carne, encobrindo a sua Glória. Daria sua vida pelo mundo no altar do holocausto, mas como retornaria para seu Pai, nos símbolos do santuário? Pela fumaça do incenso no incensário, ou seja, pela sua ressurreição. Por isto este altar é contado como fazendo parte do Lugar Santíssimo, pois que representa seu retorno ao Pai em glória. Estando entre nós, no entanto, sabia que não era deste mundo, e deveria retornar ao seu lar para junto de seu Pai.

Falamos muito de morte e sangue até agora, pois Israel só isto conheceria de Deus, visto sua negligência. Mas os sinais da grandiosa glorificação já estavam lá.

Pergunto ao leitor. A base do perdão dos nossos pecados não está na morte de Cristo em nosso lugar? Sim, é claro. Mas que valor teria a morte sem o poder da ressurreição? Quem não nasce? Quem não morre? Mas quem ressuscita pelo próprio poder e ainda podendo dizer: "Tragada foi a morte na vitória?" (1 Co 15.54).

"Cristo ressuscitou dos mortos, pela glória do Pai" (Rm 6.4).

"E, se não há ressurreição de mortos, também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé... E se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados" (1 Co 15.13-14,17).

"Ora o Deus de paz, que pelo sangue do concerto eterno tornou a trazer dos mortos o nosso Senhor Jesus Cristo..." (Hb 13.20).

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