Cap 3

333 19 11
                                    


Aquela acusação ressoava na mente de Ana como um eco terrível. O choque lhe roubou a fala, e ela se sentiu engolida por uma mistura de pavor e dor. Alejandro, porém, não percebeu o que sua insinuação havia desencadeado. Para ele, tudo parecia uma questão de ciúmes e orgulho ferido.

Ana respirou fundo, reunindo a força que ainda lhe restava, e, depois de um silêncio que pareceu eterno, murmurou:

- Você… acha que eu escolhi aquilo? Que eu queria estar lá? — Sua voz tremia, e ela pôde ver a confusão nos olhos dele.

- Do que está falando? — Ele respondeu, agora hesitante, a expressão suavizando levemente.

- Você não faz ideia do que aconteceu comigo, não é? — As palavras saíam aos poucos, quase como se lutassem para escapar. — Aquele homem... ele me forçou.

A revelação pairou no ar, e Alejandro parecia paralisado, incapaz de compreender a extensão do que ela dissera. Seu rosto, antes duro, começou a desmoronar.

- Não tente me contar mentiras, isso não vai funcionar comigo- ele parecia não conseguir digerir a história.

- Quer saber os detalhes?- Indaguei- Eu gritei por você durante todo o momento, e você não veio-
Ana respirou profundamente, sentindo a onda de dor se transformar em um sentimento de libertação. Pela primeira vez em anos, ela conseguia expor aquela ferida, jogá-la para fora- Duas semanas antes do nosso casamento, todos instiram em uma despedida de solteiro.

- Você bebeu, você escolheu estar lá...

- Você estava lá poha- Gritei- Estávamos juntos, foi quando você resolveu atender aquela ligação importante, se lembra?

- Eu...

- Eu estou falando agora- Meu corpo estava encharcado pela água, eu estava tremendo- Me disseram que você estava me chamando. Eu achei que tinha algo errado, você estava a dias esperando por aquele momento, a reunião com os empresários.

- Seu melhor amigo, era com ele que estava, não tente me enganar.

- Jack era importante, ele cresceu comigo. Tem noção do quão horrível é para mim, relembrar tudo isso? Ele era como um irmão, irmão não abusa, não destrói a irmã.

- Anastácia- Sussurrou.

- Eu tentei esquecer, tentei deixar para trás — continuou ela, sua voz entrecortada pelas lágrimas que começavam a rolar. — Foi por isso que me tratou mal todo esse tempo? Eu precisava de você, eu tive tanta vergonha. Mas você nunca me perguntou, nunca sequer se importou em saber o que havia realmente acontecido.

Alejandro abaixou a cabeça, e por um momento o silêncio pareceu sufocante. Ele levou as mãos ao rosto, sem saber como responder, e pela primeira vez desde que se conheciam, ele estava sem palavras.

Ana sentiu um misto de tristeza e alívio. Era como se um peso fosse finalmente retirado de seus ombros. Aquele era o momento dela, e nada do que ele pudesse dizer apagaria o que ela sentia.

- Eu só quero ir embora — disse Ana, firme, levantando a cabeça- Saia da minha frente- Pedi.

- Porque agora?- Perguntou- Por isso tentou se matar?

- Não foi pelo abuso, essa cicatriz está dentro de mim, vai ficar durante toda a minha vida. É por você, pela agressão verbal, a física.

- Me desculpe, eu nunca, nunca imaginei. Ele estava no nosso casamento.

- E tem noção do quão difícil foi para mim?- Soluçei- Ele me olhava com desdém, e eu só queria, você. Eu tentei ignorar- Neguei- Eu me preparei para me entregar a você, eu queria me sentir limpa, e seu toque era a minha esperança. E você- Relembrei- Eu sinto a cinta tocando em em meu corpo, não foi só dor física Alejandro. Você escolheu esse caminho.

- Só me escute- Pediu- Eu vi você lá, e depois ele veio até a mim, ele se gabou, comentou como tinha conseguido transar com você- Gritou- Eu fiquei louco, estava cego de raiva. Eu amava você, e saber e ver que outro homem ousou tocá-la.

Alejandro e eu havíamos prometidos não nos tocar, até o casamento.

- Espera que eu faça o que?- Olhei para a aliança dourada sobre meu dedo- Que peça desculpas?- Desdenhei- Sinto muito por ter sido estrupada Alejandro, sinto muito por lutar todos os dias para esquecer isso.

Ele estava arrependido, eu conseguia ver isso no seu olhar.
Depois de dias, meses, anos.
Ele finalmente tinha descoberto.

Ana girou sobre os calcanhares, determinada a deixar aquela conversa insuportável para trás. O coração batia acelerado, não só pela angústia que acabara de compartilhar, mas pela urgência de se afastar de Alejandro. A sensação de liberdade estava ao alcance, mas o peso do passado ainda a seguia como uma sombra.

- Ana, espera! — A voz de Alejandro cortou o ar, e ela hesitou por um instante, sentindo a tensão pulsar entre eles.

- O que mais você quer de mim? — ela virou-se, os olhos ardiam de lágrimas não derramadas. — Já disse tudo o que precisava.

Ele se aproximou, mas a dor na expressão dele a fez recuar. Aquela familiaridade estava se transformando em algo quase irreconhecível, e ela não sabia se queria ficar para ver a sua reação.

- Eu... eu não consigo lidar com isso — Alejandro admitiu, a voz trêmula. — Sinto muito, me desculpe amor.

- E você acha que pode consertar isso com palavras? — Ana perguntou, sua indignação alimentada pela frustração. — Não é assim que funciona. O que você fez ao longo de todos esses anos, a forma como me ignorou, foi doloroso demais.

Ele respirou fundo, o peito subindo e descendo, tentando encontrar a força para se expressar.

- Estou aqui agora, tentando entender, mas a verdade é que eu não sabia. Nunca soube. — Ele fez uma pausa, olhando para ela com uma mistura de arrependimento e desespero. — Eu só... eu só queria que sentisse o mesmo que eu, queria que sentisse como é ser traído por alguém.

- E você não pensou em me perguntar? — Ela não queria acreditar que ele havia deixado tudo isso passar. — Você estava tão preocupado com sua imagem, com seu próprio ego, que nem ao menos se preocupou comigo.

Ele fechou os olhos, como se estivesse tentando bloquear a realidade.

- Eu estava tão cego pelo ciúme e pela dor da traição que não consegui ver além de mim mesmo.

Ana sentiu uma raiva fervente emergir, não apenas contra Alejandro, mas contra o mundo que permitiu que ela carregasse essa dor sozinha.

-  Não é só sobre você e seus sentimentos! — gritou. — É sobre mim, sobre o que eu passei, e você nunca se importou em ouvir!

Silêncio. O peso da verdade pairava entre eles, como uma nuvem escura.

- Eu preciso de tempo — ela finalmente disse, sua voz baixando. — longe de você. Eu não te traí, mas você fez isso. Durante todos esses anos.

Alejandro a observou, a expressão de desespero. Ele sabia que havia cruzado uma linha da qual não havia como voltar.

- Se você precisar de tempo, eu vou esperar — ele declarou, sua voz suave, mas decidida. — Não quero perder você, Ana. Não de novo. Me deixe me redimir, eu posso passar o resto da minha vida fazendo isso.

- Sinto muito, mas não pode perder, o que nunca teve Alejandro.

Segundas Chances nas Ruínas do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora