- Então você é testemunha e polícial? - pergunta Jorge me puxando para trás
- Sim e o senhor quem é - Otávio pergunta.
- Sou Jorge. Dono deste estabelecimento e responsável pelo garoto.
- Tudo bem! Falando como policial peço que me de licença para falar com o garoto - Otávio tira a farda de policial e coloca no banco proximo a mim - Falando como um ser humano qualquer...
Ele era magrelo. Se fosse pra me bater eu ganharia dele. Por ter mais corpo. Mas pelo local movimentado, acredito que vão separar a briga. Otávio chega perto de mim. Sua voz é suave. Mansa. Ele está sério e seus olhos estão fixos em mim
- ... eu vou matar você - ele diz com uma frieza enorme - Você ajudou eles matarem minha vozinha.
- Cara relaxa ai você está nos assustando. - Jessica diz a ele.
- Fica na tua garota - ele grita pra ela
- Fica na tua? - Ela repete - Escuta aqui seu babaca.
- Jessica você está falando com um tenente - alerta. Diego
- Pra mim essa farda de merda é um pano que rasgo e uso pra limpar o chão e coloco na porta de casa pra todos que entrar pisar.
- Garota abaixe o tom. - Otávio ordena
Me afasto deles e vou pro fundo. Vejo Jessica se aproximar de Otávio e Jorge puxar ela pra fora. Sarah e Júnior ficam de lado falando algo. Sônia olha pra mim e sai da loja. Deve ter ido ver Jessica. Jhon e Diego falam com Otávio.
As luzes piscam. Olho pra luz e ela apaga. O cheiro forte de podre e o ar quente me revela quem está por perto.
Com a volta da luz. Jessica, Sônia e Jorge voltam pra dentro da loja. Samuel desce as escadas e para ao meu lado.
- Ola garotinho. Descobri onde está o Portal. - Diz ele. - Agora finalmente vou poder te matar.
As luzes se apagam. Sinto alguém me segurando e me puxando. Mãos fortes. Robert? Ele estava ali me segurando?.
- Me larga. - ouço a porta bater.
- Agora estamos a sós - era Robert - Você escapou da tortura garotinho. Não teve graça - a luz acende
Estava nos fundos da loja. O lugar onde guardamos o dinheiro.
- Agora me diz! - Ele sorri - Você achou mesmo que eu não ia descobrir que o portal é aqui. - O primeiro soco me atinge próximo ao olho. - Seu babaca.
Não quero mais passar por outra tortura com aquele cara. Não quero sentir mais dor. Dessa vez não estou amarrado. Dessa vez eu sei que Robert é humano. As mesmas dores que sinto, ele também sente. As mesmas coisas que podem me machucar, podem machucar a ele também. Não penso duas vezes.
- Acabou Henry! - ele diz segurando um tipo de espada.
No momento em que ele quis enfiar aquela espada em mim, eu o empurro. Ele desiquilibra e cai. O tempo dele se levantar e me atacar é o mesmo em que pego uma faca que colamos debaixo da mesa. Descolo ela. Robert se levanta. As luzes piscam. O vejo sorrindo. As luzes apagam.
Me puxa pelo braço. Ergo a faca e enfio nele. E o grito me preocupa.
Não era Robert que recebera aquela facada. As luzes acendem. Todos na loja me olham.
- Jorge? - pergunto - por favor fala comigo. -Então ele cai ao chão.
A faca está em seu pescoço. Ele agoniza. Diego e Jessica o abraçam e choram. Jorge não está mais vivo. Eu matei Jorge. Eu matei o meu patrão e matei o homem que mais me ajudava. Todos começam a chorar. Vejo Jessica tirar a faca de seu pescoço e fechar os olhos dele.
- Descanse em Paz meu velho - Ela diz ao pai que está morto.
- Está vendo? Você é fraco Henry! - Robert está ali ainda - Consigo controlar você facilmente e você nem.percebe. - Vejo uma fumaça negra sobre a loja. E o formato de seu rosto. - Hoje é ele quem morre. Amanhã escolho outro pra você matar.
O medo e a culpa me descontrolam. Sinto raiva. Sinto ódio. Sarah e Júnior me olham com pena. Jessica e Diego choram ao corpo do pai. Sônia Otávio e Jhon parecem chocados. Samuel olha pra mim e aplaude sorrindo. E caminhando em minha.direção diz.
- VOCÊ É FRACO BABACA!
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- Sua vida mudou depois de hoje? - Ela me.pergunta
- Sim. E pra pior. - encosto a cabeça na janela. Segurando o choro. Ela percebe.
- Pode chorar comigo! Eu não ligo.
- Chorar? Se for pra chorar toda vez que acontece algo. Não quero ser fraco. - Digo a ela
- Fraco? Se pra você chorar é coisa de gente fraca eu sou o que? - ela me pergunta.
- Você chora? - pergunto
- Sua irmã está desaparecida. Seu primo foi encontrado desmaiado na viela aqui perto de casa. Você descobriu que não é meu filho. Meu amigo de infância morreu hoje e não sei o que dizer. - Ela faz uma pausa e respira fundo - Não sei o que dizer. Então choro.
- Desculpe mãe. - Digo se aproximando dela. - Sandra queria te dizer uma coisa!
- Sandra? - ela pergunta assustada
- Sim, Sandra. - Seguro suas mãos e fico de joelhos. - Vou procurar a Camille. Vou ajudar André a se curar do vício que ele tem. Vou encontrar minha mãe verdadeira. E antes de fazer tudo isso preciso de uma coisa.
- O que?
- Dizer que te amo e que sem você não seria humano. Seria um André da vida. - olhando em seus olhos - tenho orgulho em dizer pra todos que fui criado por Sandra.
- Bobo! - Ela me abraça - Te amo filho.
- Te amo mãe! - ela se levanta - Preciso ir a casa de sua tia ver André. - ela sai do quarto e me dirijo até a janela do meu quarto.
Ela está la na rua. E no portão vejo André. Ele a encontra. Os dois se abraçam e riem felizes. Ele me vê na janela e acena dizendo " Oi ". Há algo errado com André. Atrás dele há uma sombra que me dá medo. A mesma que vejo em Robert. A fumaça que ele entra e sai.
Minha mãe vira e sorri. Ela acena pra mim. Enquanto vejo André tirando algo da cintura. Uma faca.
- Mais o que ele vai fazer - pergunto - Mãe!
Minha mãe vira e André enfia a faca nela. Ela cai no chão. Ela a chuta e me manda um beijo. Joga a faca em cima da minha mãe.
Corro pela casa. Abro a porta e corro até o portão. O corpo não estava mais ali. André já se foi. André levou o corpo com ele?
Corro de volta pra casa. Abro a porta e me assusto com ela. Minha mãe.
- O que houve? - ela pergunta fechando seu casaco. - ouvi você correr pela casa.
- Não foi nada! - digo secando as lágrimas.
- Mesmo?
-Está tudo bem mãe! - digo a ela.
Antes de fechar a porta vejo duas pessoas sobre o pequeno jardim da minha mãe. Robert segura uma espadinha. André segura a faca. Atrás deles há uma fumaça. Fecho a porta vendo o sorriso maligno dos dois.