Capítulo 9: Quero pizza

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Mas será possível que toda hora que ele passava com ela vinha com uma caixa de surpresas? Demogorgon não gostava daquilo. Preferia conseguir prever as coisas, enxergar um relance do futuro, adivinhar o que iria acontecer em seguida, para que pudesse moldar a situação ao seu favor. Mas Asta era muito perigosa. Estava deixando-o sem chão. Ou ela era realmente digna de sua reputação imbatível, ou ele estava amolecendo. Preferiu optar pela segunda opção, pois era algo que estava sob seu controle. Ajeitou a gravata e engrossou a voz.

— Fico levemente ofendido que você tenha questionado o meu gosto em soldados, Lorde Paimon — declarou o demônio. — Este é o famoso... a famosa guerreira Asta, que invoquei para ser minha serva.

— Sou uma guarda-costas honrada. Não sou uma serva — ela protestou, mas foi ignorada.

— Oh sim, conheço os boatos — disse a abóbora. — É um prazer conhecê-la, senhora Asta.

— "Senhorita" — falaram os dois ao mesmo tempo, fazendo Asta olhar para seu patrão com uma sobrancelha levantada. Ele virou o rosto, com desgosto. Ela sorriu em resposta, vitoriosa. Parecia que tinha adquirido um pouco de respeito.

— Senhorita — Lorde Paimon assentiu. — Mas o que me deixa curioso. O que vocês criaturas desejariam em meus domínios?

Demogorgon ignorou o apelido ridículo e pôs-se a explicar.

— Eligos se apossou de algo que me pertence, usando métodos imorais. — Paimon olhou para a mulher pelo canto do olho e tentou não falar nada quando a viu cheirando uma das taças com fumaça violeta. — As terras da área do poço são minhas. Ele corrompeu o Conselho e conseguiu subornar os juízes para rouba-las sem precisar botar o maldito pezinho covarde dele para fora de seu castelo. Eu pretendo recuperar o que é meu, e para isso trouxe a Srta. Yasi comigo. Preciso dos mapas dos túneis.

Paimon deu mais um trago no cigarro. Olhou para aquela dupla improvável. Paimon ainda não conseguia acreditar no que seus olhos vazios lhe diziam. Apesar de não ser muito íntimo com Demogorgon, ele sabia que o demônio odiava a humanidade como poucos odiavam. A última coisa que ele imaginava era vê-lo ao lado de um humano. E que humano, que esticava a mão para pegar uma das taças de seu altar. Paimon deu um tapinha em seu pulso para impedi-la, balançando a cabeça. Ele também não era um grande fã da espécie, mas gostava de pessoas diferentes. E Asta certamente era diferente o suficiente para conquistar seu interesse. Paimon era um amante de enigmas. Gostava de tentar decifrar os seres indecifráveis, e entendeu que a mentalidade daquela moça seria um quebra-cabeça divertido de solucionar.

— Eu entendo — suspirou, soltando mais círculos de fumaça no ar. — Mas se eu comprei aqueles mapas é porque preciso deles. Não vou entregá-los a você ainda.

— Eu não vou esperar que aquele... — Demogorgon olhou de relance para sua parceira e pensou por um segundo — ...cretino faça o que bem entender com os meus pertences. Se isso se espalhar no Reino Infernal, outros tentarão roubar o Lorde idiota que deixou um demônio qualquer pegar o que é dele. Tenho uma reputação a manter.

— De fato, é um movimento arriscado deixar que isso se arraste por mais tempo — Paimon bufou. Virou-se para Asta, como se explicasse com paciência. Deu um leve sorriso. — Demônios são gananciosos.

Asta piscou, um pouco perdida. Acompanhou aquela expressão de bom humor da abóbora fumante. Não tinha conseguido seu autógrafo, mas cada minuto que passava sua admiração só aumentava.

— Perdoe minha ousadia, mas por que o Senhor comprou os mapas? — indagou, curiosa. — Também tem assuntos para resolver com Senhor Eligos?

O demônio jogou para longe o seu fumo e desceu as escadas até eles. Com as mãos nos bolsos, inspirou devagar aquele aroma doce das taças, a luz dourada do interior de sua cabeça vibrando com a fumaça.

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