Capítulo 7: Contatos não imediatos

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Sem mais delongas, a fantástica dupla seguiu seu rumo de volta para o beco escondido. Asta ainda esfregava um pouco as mãos nos braços, mas agora ela respirava fundo e passava os dedos nos cabelos de vez em quando. Ela exalava e inalava como um balão. Algumas pessoas que passaram por ela perguntaram se ela estava tendo uma crise de asma, mas ela respondia, com seu melhor sorriso, que era apenas uma pequena manifestação de tuberculose. Isso pareceu tranquiliza-las. Ou pelo menos foi o que ela pensou, com seu pouco conhecimento de medicina, quando os viu caminhar discretamente para longe.

Quando a ruela estava ficando escura, os tremores voltaram. Demogorgon tinha dito que ela não precisaria mais lidar com as pequenas criaturas, mas como ela não entendeu bem o que ele disse, permaneceu alerta. A partir de um momento ele simplesmente parou, fazendo-a bater com a cara em suas costas duras. Massageando o nariz, Asta o olhou, confusa. Ele permaneceu imóvel e ereto, como se aguardasse algo vindo das sombras.

— Ignesti busteriornes — proferiu, quebrando o silêncio.

Em questão de segundos, uma explosão assustadora surgiu do chão, subindo em direção aos céus como chamas ardentes e mortais. A sequência de explosões percorreu todo o corredor, como se uma fila indiana de bombas tivesse sido acionada em um efeito dominó, causando um barulho ensurdecedor, cujo estrondo deve ter alcançado toda a vizinhança. Mas Asta nem se lembrou disso. Estava muito ocupada cobrindo os olhos da luz do fogo que a cegava.

Quando abriu novamente os olhos, sentiu um cheiro forte de queimado. Teve que prender o nariz para não vomitar, mas depois de um minuto o cheiro tinha desaparecido. Ela se perguntou de onde tinha vindo aquele fedor e então lembrou das malditas baratas. Ele tinha dito que iria acabar com elas. Aquelas explosões provavelmente cozinharam todas elas, produzindo aquele fedor de churrasco estragado. Mas então por que o cheiro tinha sumido?

— Por que o fedor parou? — Ela não pôde conter a pergunta.

— Porque elas não simplesmente fritaram — ele explicou, ajeitando as mangas do terno. — Foram desintegradas.

Um sorriso tímido surgiu nos lábios de Asta, mas que rapidamente entrou em conflito com uma sensação súbita de perigo, formando um tique estranho em sua boca, que não sabia se se elevava ou murchava.

— Você está bem? — O demônio perguntou, estranhando aqueles movimentos nervosos.

— S-sim — ela gaguejou, umedecendo os lábios e pondo as mãos na cintura. — Já que você matou todas elas... né? Vamos em frente?

— Vamos — ele assentiu, sério.

Asta o seguiu por mais uns cinco minutos constrangedores até ele se pronunciar novamente.

— Cuidado com os degraus.

Mas era tarde demais.

— Desculpa! — ela disse, desesperada, tentando se afastar dele, temendo que o mísero toque em seu terno impecável pudesse colocá-la em chamas.

— Como você consegue ser tão desastrada? — ele resmungou, limpando as mãos nas calças.

— Eu não enxergo no escuro, tá legal? — Ela bateu nas pernas também, fingindo estar tirando a poeira das roupas, como vingança pelo nojo do patrão.

— Como você sabe que eu...

— É um detalhe muito óbvio de seres sobrenaturais que todo mundo sabe — ela interrompeu, impaciente. — Vamos acabar logo com... — bateu em uma parede e pôs-se a praguejar como Demogorgon nunca tinha visto. — Você pode ir na frente?! Não tô vendo porra nenhuma!

— Com licença — ele pediu, passando em sua frente e delicadamente batendo três vezes na madeira com a mão direita. — É assim que se bate em uma porta no meu mundo.

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