XLVI

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Nosso apartamento, 11:23

O sofá a essa hora já deveria estar com o formato de meu corpo delimitado nas almofadas que o revestiam. A televisão que estava parada em um canal encarregado de passar filmes agora transmitia uma comédia. Os personagens riam escandalosamente de alguma piada que talvez, se eu estivesse em qualquer outro momento poderia ter visto algum tipo de graça.

Meus olhos não conseguiam se fechar por muito tempo e eu não consegui dormir por uma noite inteira. Sempre que a escuridão provinda do fechamento de minhas pálpebras vinha à tona, eu apenas via Hoseok, e só de saber que eu não tinha qualquer posição sobre onde ele poderia estar me deixava enjoada de tanto nervosismo acumulado.

O princípio do filme era provavelmente espalhar uma essência feliz, mostrar como a vida é cheia que diversões aleatórias em meio as coisas monótonas, mas eu não conseguia me focar por muito tempo. Todo aquele amarelo, a cor simbolizante da alegria não conseguia passar por cima do azul que me revestia.

Minha cabeça doía pela falta de descanso e o corpo estava dolorido pelos músculos tensos. O interior de minhas bochechas tinha aos poucos as pelinhas arrancadas, e por agora apenas havia dor quando os dentes pressionavam o local.

Nada naquele momento fazia sentido. Hoseok teria me avisado caso fosse passar a noite fora, mas não fez isso. Ele realmente não havia atendido as minhas chamadas, não deu noticias para Jungkook e nem sequer deixou uma mensagem de "Estou bem".

Não conseguia entender se ele estava bravo ou se triste como Jungkook havia me dito ontem pelas mensagens. Eu apenas queria ter noção do que estava acontecendo, do que ele poderia estar pensando naquele momento. Meus dedos inquietos começaram a cutucar uns aos outros e foi em meio a pensamentos preocupados e olhares sem foco nos dedos que senti falta de algo: O anel de compromisso que Jung havia me dado.

Meu cenho se franziu e meu corpo se pôs a ficar sentado no estofado cinza. Naquele momento eu havia conseguido arranjar algo que conseguisse me distrair dos pensamentos incessantes ligados a Hoseok.

Tentei lembrar se em algum momento havia o tirado para tomar um banho, ou que sabe para cozinhar alguma coisa, mas nenhuma lembrança me vinha a cabeça. Foi de tanto forçar a cabeça que a imagem de Jimin pegando-a no dia em que fomos ao jogo de boliche me veio à mente. Engoli em seco ao tocar-me de que ele não havia me devolvido e que tantos dias havia se passado e eu não havia me tocado do vazio ao redor de meu dedo anelar.

Minha mão alcançou o celular e no momento em que abri a aba de mensagens que usava para conversar com Jimin, um barulho característico de metal friccionando com outro metal se fez presente no local. Meu rosto se virou na direção da porta principal do apartamento e era completamente visível, eu não estava em um sonho efêmero. A maçaneta da porta estava claramente se mexendo e meu corpo não se mexia.

A porta então rangeu e deu espaço para que um homem com um sobretudo bege adentrasse o cômodo com uma alça longa de uma bolsa de couro agarrada ao ombro. A cabeça tornou a virar-se para mim, deixando evidente a face cuja qual pensei por toda a noite sem parar.

Seus olhos pareciam perdidos e ficaram pouco tempo olhando os meus. Ele desviou-os até algo um pouco mais baixo que meu rosto, e depois virou seu corpo retirando a bolsa do ombro para coloca-la no pequeno conjunto de ganchos que existia atrás da porta.

Minhas pernas fracas se esforçaram para aguentar o peso de meu corpo e esperar para que Hoseok se virasse para mim e assim falasse da forma mais adequada comigo, porém ele havia feito algo que não poderia esperar nunca esperar que ele simplesmente ignorasse minha presença e seguisse um trajeto até a cozinha.

— Então é assim? Você some por uma noite inteira enquanto eu fico aqui plantada no sofá esperando qualquer notícia sobre você, e agora você simplesmente me ignora? — segui seus passos até o outro cômodo e parei logo na entrada, vendo-o caminhar lentamente até a geladeira, pegando uma garrafa de vidro esverdeada com água em seu interior.

Meu Colega de Quarto - Imagine Jung HoseokOnde histórias criam vida. Descubra agora