Aquela voz era familiar e ela não ficou nada feliz em ouvi-la porque não só traziam lembranças ruins como causava uma imensa revolta e ódio. Ela decidiu encarar logo o homem que enchia Yelena de perguntas. Seja o que ele quisesse ela não queria colocar mais pessoas nisso, já bastava a onda de assassinatos que começou por meio daquele homem quando entrou na vida dela.
Natasha caminhava até a porta enquanto muitas lembranças surgiam como flashes: Ivan a colocando nos braços enquanto sua mãe sangrava no chão e ele sussurrava “ vai ficar tudo bem, minha menina", as vezes em que ele sorria maquiavélico para ela quando falava de seu futuro e do dia em que ele a deixou com Madame B e voltava raras vezes para perguntar a mulher como “sua pequena Viúva Negra" estava. Ela era muito criança quando a maioria dessas coisas aconteceu, mas eram muito duras para esquecer.
Quando alcançou a idade e treinamentos necessários para ser uma assassina e realizar a cerimônia de formatura, ele estava lá antes que ela entrasse na sala onde o procedimento seria realizado. Ela chorava aflita enquanto ele dizia ter orgulho dela, ela odiava a forma de como ele queria ser amigável e um excelente pai, porque ele não era.
Não sabia que Ivan a procurava, na verdade nem esperava que ele estava vivo ela só queria que ele fosse embora e nunca mais o visse. Ivan era uma espécie de lobo em pele de cordeiro e isso a assustava, as máscaras são bem mais perigosas do que as pessoas mostrarem quem realmente são. Aquele homem que sorria a sua frente tirou dela a inocência infantil e a entregou para se tornar o pior tipo de ser humano: uma assassina fria.
- Minha querida Natasha. – Ele dizia abrindo os braços e se aproximando dela, que se esquiva. – Como você cresceu, está ainda mais linda.
Dentre muitas palavras agressivas e xingamento que podia sair da boca de Natasha, ela achou melhor jogar o joguinho dele. Era assim que ela fazia, fingia ao máximo demência até o momento certo de usar suas armas. – Achei que estava morto. – É a única coisa que ela diz.
- Talvez eu estivesse morto. – Fala tentando se aproximar dela mais uma vez. – Senti sua falta, minha menina.
- Por favor, não. – Ela se afasta novamente. – Eu passei por muitas coisas ruins com muitas pessoas e você é uma delas. Se está buscando recuperar o tempo perdido, peço que não seja assim.
- Está bem. – Fala com um tom decepcionado. – Por que voltou?
- Diversos fatores pessoais.
- Espero te ver mais vezes.
Quando Ivan vai embora ela não sabe se respira aliviada ou se teme, afinal ele tinha contatos com a Sala Vermelha e ela não sabia se existia resquícios da organização. Ele era um homem perigoso e podia fazer algo contra ela caso a notícia de que a Viúva Negra estava em território russo se espalhasse e alguma autoridade quisesse a sua morte por diversos motivos.
- Ele vai voltar. – Falava baixo enquanto andava em círculos pela sala. – Nós temos contas a acertar e o que mais me assusta é que ele não revelou o motivo de querer me ver. Não engulo a historinha de sentir falta da filha que estava longe.
- Acha que ele está planejando algo? – Yelena pergunta esfregando as mãos no tecido de sua calça.
- Ivan não é um homem de fazer ameaças, ele é um lobo em pele de cordeiro mas sabe que não me engana com esse discurso de pai do ano, ele só está ganhando tempo. Seja o que for, eu não posso meter você nisso. – Fala sentando ao lado da amiga. – Agradeço a hospitalidade, mas não posso oferecer riscos para você que é tão especial para mim e já passou por muitas coisas. Acho melhor que eu me hospede em outro lugar, onde te deixe segura de Ivan. – Ela segura na mão da amiga que se vira para encara-la. – Acredite e mim, você não sabe do que ele é capaz.
- Insisto para você ficar, seja o que for eu vou te ajudar como você já fez tantas vezes por mim. – Aperta as mãos de Natasha. – Somos irmãs esqueceu? Eu não vou te deixar sozinha. Fique aqui pelo tempo que estiver na Rússia. – Ela sorri e Natasha abraça aquela que é sua irmã de alma.
- Você nunca me deixou sozinha, mas eu fiz isso com você. – Natasha lamenta.
Yelena Belanova era a única pessoa na Sala Vermelha em quem ela confiava – além de James- Mas quando entrou para os Vingadores ela não manteve contato com a amiga e estava triste e arrependida por isso. Ela deveria ter feito mais por Yelena, mas agora estava ali justamente para isso: para fazer o que antes não podia fazer, diziam que a Viúva Negra era uma heroína e ela queria mais do que nunca agir como tal.
- Desculpa. – Ela segura as mãos de Yelena. – Te tratei com indiferença, logo aquela que sempre foi uma irmã para mim.
- Você não podia fazer nada, também tive as minhas falhas com você. Fazia parte do nosso treinamento, da nossa vida.
- Mas não precisa mais fazer. – Ela fala se levantando do sofá – Eu quero ser bem mais que uma assassina treinada.
- Mas isso é o que somos, assassinas treinadas.
- Pessoas especiais me ensinaram que somos bem mais que nossos erros e é isso que eu quero fazer.
- O que? – Yelena lança um olhar confuso para a amiga. – As coisas que fazemos são irreparáveis.
- Mas podemos evitar outras coisas, a começar pela impunidade de Ivan.
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- Isso parece divertido quando não se está no campo de batalha. – James diz observando alguns guerreiros do reino lutarem sendo orientados pela general Okoye.
- Nós gostávamos de fazer isso no exército. – Steve diz em tom saudoso. – Treinávamos por horas sem saber o que nos esperava do outro lado.
- Também fazia isso com os Vingadores?
- Nem sempre, passávamos mais tempo jogando conversa fora quando tínhamos folga depois de alguma batalha, mais assuntos bobos e totalmente aleatórios para amenizar os dias pesados de lutas. Os meus treinos eram de uma vez ou outra quando Natasha me desafiava ou quando Wanda precisava aprender alguns golpes novos. – Sorria mais uma vez de forma saudosa.
- Você sempre foi muito amigo deles?
- Sempre tivemos nossas diferenças, mas tudo se resolva no final. Espero que essa desavença também seja assim.
- Eu adoraria dizer que vai ficar tudo bem. – Diz sacudindo a cabeça. – Mas me sinto tão deslocado quanto você. Desculpe por não te ajudar.
- Já me ajuda muito saber que você está bem, meu amigo.
James sorri, depois de tanto tempo separados e desentendimentos causados por sua lavagem cerebral parecia que a amizade dos dois estava cada vez mais fortalecida e era muito bom ter como amigo alguém que prezava tento pelo seu bem como Steve, ele estaria disposto a fazer isso pelo seu amigo também, sempre esteve.
- Não é só isso que vai te ajudar. – Fala e tom brincalhão para quebrar o clima que estava ficando pesado e triste. – Wanda me falou sobre você e a Carter, por quê não me contou? – Steve sorri abobalhado apenas de ouvir falar no sobrenome dela, típico dele quando se apaixonava.
- Você ainda estava muito deslocado com suas memórias, estava esperando você melhorar.
- Minhas felicitações a vocês e minhas desculpas a Sharon.- Diz essa última frase lembrando da luta que teve com ela, sofria por ter feito aquilo com quem queria ajudar e com todos os inocentes a quem causou algum mal, queria muito se retratar mesmo sabendo querer inocente também. – Em outras condições mentais eu não faria aquilo.
- Não se preocupe. – Tenta tranquilizar o amigo. - Ela sabe que você é uma boa pessoa e quer te ajudar no que for preciso para que você volte a ter uma vida normal. Antes que me pergunte, falei sobre você e do quanto foi importante para mim na guerra, sei que sou um ótimo amigo, de nada. – Pisca e sorri, fazendo James revirar o olhos e sorrir também.
- Não sei se posso conseguir uma vida normal depois de tudo que aconteceu. – Sacode a cabeça. – Quando eu era um soldado na guerra me sentia mal por ter que matar pessoas mesmo sabendo que era aquilo que deveríamos fazer na guerra. Agora, não estamos em guerra mas eu continuei fazendo isso e as pessoas sabem disso.
- Mas você é inocente e eu farei de tudo para provar isso.
James sabe que ele faria e agradecia muito por isso. Abriu a boca para pronunciar alguma palavra, mas foi interrompido pela chegada de Wanda no local. Ele nunca tinha visto ela daquela forma, sorrindo e pulando como uma criança que acabara de ganhar um doce.
- Estava procurando vocês.
- O que aconteceu? – James pergunta curioso é um tanto assustado.
- Esqueceu que eu prometi te ajudar a respeito daquele assunto? – Ele sacode a cabeça e pronuncia um rápido “Não”, mas permanece confuso. – Te dei uma manhã inteira para pensar, você quer mesmo isso?
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Remember
General FictionO passado é história que ajudava a entender o presente, mas ele é doloroso demais, a culpa e o peso dele são doloridos demais. Para ela é melhor esquece-lo, para ele é melhor lembrar. Essa extrema divergência se une com um propósito: eles precisam...