Confusão - Markson

Família

Era pouco depois da meia noite quando Jackson veio me deixar em casa, se despedindo de mim com um beijo demorado, o qual só me afastei porque minha mãe apareceu de pijama na porta me mandando parar de enrolar. Agora, estou no carro da minha mãe a caminho do aeroporto para buscar meu pai e meus irmãos que estão voltando para a Coréia. A mais velha estaciona o carro, desligando-o e descemos, seguindo para a plataforma de desembarque com pressa.

Ficamos ali por cerca de vinte minutos, até o barulho quase constante de passos se repetir e do meio de várias pessoas meu irmão mais novo aparecer com sua mala. Joey veio correndo até a gente, abraçando a mamãe e sorrindo abertamente, logo fazendo o mesmo comigo. Baguncei seus cabelos, enquanto meu pai, Tammy e Grace se aproximavam de nós.

– Markie! – Tammy exclamou, vindo com a outra e me abraçando. Em meio a tantos abraços, palavras de saudades e lágrimas da minha mãe, seguimos até o carro da minha mãe. Ajeitamos as malas no porta-malas do carro e nos apertamos no automóvel para voltar para casa.

O caminho foi rápido até, cheio de risadas e conversas sobre o qual aconteceu quando estávamos separados, mas, ao chegar em casa, a tensão começou a tomar conta de mim. Jackson viria aqui para o almoço e isso era algo que eu não conseguia esquecer, estaria toda a minha família e ele provavelmente gostaria de contar sobre nós para os meus irmãos e meu pai... Não sei bem o que esperar de uma conversa assim, afinal, era um passo muito grande e muito repentino.

– Mark! Estamos tentando falar com você! – Grace exclamou entre risos, apontando para suas malas e, em seguida, para mim. Bufei negando enquanto me aproximava, segurando a mala alheia e subindo os degraus para a parte superior da casa, onde ficavam os quartos.

Seguimos em silêncio, até que eu deixasse a mala sobre a cama alheia e ela me sorrisse em agradecimento, sentando-se sobre a cama logo após. Quando eu já estava me virando pra sair do quarto, minha irmã protestou, me fazendo olhá-la com uma sobrancelha erguida.

– Onde pensa que vai?! Estou com saudades do meu irmão! – bateu num espaço ao seu lado na cama, indicando que eu me sentasse ali.

Começamos a falar de algumas banalidades, como a escola, professores desagradáveis e como era a vizinhança, até ela tocar num assunto não tão agradável: a família que vivia ao lado. Tentei esconder minha tensão enquanto a ajudava a retirar e dobrar suas roupas da mala, arrumando todas em pilhas sobre a cama.

– A senhora Sophia é até que próxima da mamãe, já saíram juntas para o shopping e tudo, não vejo muito o senhor Ricky em casa, então não tenho muito o que dizer sobre ele. E tem o Jackson, filho mais novo que mora com eles. O Winston já tem a própria casa e família formada, então só aparece na casa deles de vez em quando – dei de ombros, sem ter muito o que dizer sobre a família do Wang, ainda que fosse bem íntimo do filho mais novo, não conhecia bem o restante da família.

– Mamãe disse que o Jackson vem almoçar com a gente, vocês são muito próximos? – perguntou e, com muita sorte, ela não tava olhando pra mim quando o fez. Eu podia sentir minhas bochechas quentes, não sabia bem o que dizer naquele momento, mas meu silêncio deve ter sido o suficiente pra Grace tirar suas próprias conclusões, pois ela me olhou com um sorriso aberto – Não tem problema você ter um namoradinho, Markie! Contanto que ele não te machuque e eu não precise ir pra cadeia por matar um adolescente estudante, não vejo nada demais.

Talvez, naquele momento, eu tenha percebido o quanto eu amo minhas irmãs e meu irmão, porque eu podia contar com o apoio deles para tudo e ali estava a prova. Acabei por sorrir brevemente para si, antes de voltar a arrumar as coisas alheias e falar de algumas músicas que estavam em alta no momento.

~ × ~

– Estou bonito? – Jack me perguntou nervoso, sem me dar nem dois segundos após abrir a porta de casa. Ri baixo, acenando positivamente às roupas quase formais que este usava e me afastando um pouco do vão da porta para que entrasse. Assim que estávamos os dois ali dentro, toquei discretamente sua mão, aproveitando que ninguém estava ali para ver o que acontecia, e sorrindo discretamente ao olhar em seus olhos.

– Independente do que acontecer hoje, estarei com você, sim?

– Eu amo você – sussurrou, logo se afastando e seguindo comigo para o jardim, onde a mesa fora montada para sete pessoas. Todos estavam esperando à mesa, e Jackson teve que sentar entre mim e meu irmão Joey, em frente às garotas e minha mãe, com meu pai ao meu lado direito.

– Então, esse aqui é Jackson Wang – comecei, apontando para o garoto ao meu lado enquanto mexia nervosamente a comida em meu prato – Jackson esses são Joey, meu irmão mais novo, Raymond, meu pai, e minhas irmãs Grace e Tammy – indiquei com a mão cada um deles, logo enfiando uma porção generosa de arroz na minha boca pra não ter que responder perguntas. Mas quem disse que elas não viriam?

– Você e o Markie estudam juntos? – Tammy perguntou, aproximando o corpo um pouco mais da mesa e olhando com um sorriso gentil para o Wang, que retribuiu este rapidamente.

– Não somos da mesma sala, mas estudamos na mesma escola.

– Você sabe jogar basquete bem como o meu irmão? – Joey disse virando-se quase completamente para o Jackson que riu convencido e até mexeu na franja antes de responder.

– Eu sou o melhor jogador da escola.

– Veremos, Wang – murmurei, não demorando a sentir ser cutucado na perna sob a mesa.

– E há quanto tempo estão juntos? – a Grace disse e eu engasguei com a saliva, todos olharam pra mim naquele momento, em uma mistura de tensão e seriedade.

– Bem... – comecei, mas não consegui prosseguir com a frase, o que me fez baixar o rosto sem a mínima coragem.

– Oficialmente, desde ontem, mas já tínhamos algo antes disso – Jackson respondeu, tentando parecer calmo, mas estava segurando minha mão com força sob a mesa. Coisa que eu sequer havia percebido.

Um silêncio incômodo se instalou, onde ninguém tinha coragem de falar nada, até meu pai abrir a boca duas vezes, como se estivesse pensando ainda sobre o que iria dizer. Meu coração estava a mil com qualquer coisa que ele viesse a dizer e minha mente rodava em torno de uma frase: não me expulsa de casa.

– Então, Jackson, você pratica algum esporte além do basquete? – meu pai perguntou, fazendo não só a mim, mas todos a mesa o olharem surpreso. O mais velho apenas riu, gesticulando para que o Wang respondesse, enquanto todos voltávamos a comer.

– Ah... Eu... Eu pratico um pouco de esgrima.

– Ah, que ótimo! – ele disse e se inclinou pouco pra frente, ficando animado ao falar de esportes – Sabe, a minha Dorine aqui é a pessoa mais durona que eu conheço. Eu era um garoto meio idiota quando conheci ela, foi difícil de conquistar... Ela me deu um soco quando eu pedi um beijo, foi terrível!

– Mas depois eu senti pena de você e fui cuidar do machucado que eu deixei – minha mãe disse e eu ri baixo, olhando brevemente para o Wang, antes de começar a falar sobre as várias vezes que minha mãe calou alguém só de olhar.

~ × ~

– Tchau, Jackie! Não esqueça de me chamar pra jogar com você qualquer dia desses! – Joey disse enquanto eu e o Wang passávamos pela porta de casa. Resolvemos ficar um tempo sozinhos antes que escurecesse, então a única opção foi caminhar por aí.

– Seu passaporte está em dias? – perguntou, me fazendo olhá-lo confuso enquanto assentia. O que diabos ele estava pensando em fazer? Fugir do país?

– Por quê?

– Vamos viajar.

Ditou simples e eu parei onde estava, uma sobrancelha erguida demonstrando uma dúvida explícita. O Wang apenas riu, colocando a mão no bolso da calça e tirando duas passagens dali. Peguei com receio, lendo as informações rapidamente, sem acreditar muito.

– Taiwan? – disse sorrindo, acariciando o papel com o polegar, como se aquilo fosse muito mais que uma simples passagem.

– Você não gostaria de conhecer todos os lugares possíveis da terra dos seus pais? – ele sorriu igualmente sincero, passando a destra por meu fios e deslizando até minhas bochechas.

– Você é impossível, Jackson Wang! – ri, abraçando-o apertado e pressionando ambas as passagens contra