Festa

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Foi com o coração leve que eu acordei naquele dia, era um sábado e tudo parecia correr tão bem que não tinha a mínima vontade de levantar da cama. Depois de dez minutos, de resmungos pela luz que entrava através das frestas da janela e de me revirar para os lados na cama, sentei-me e cocei os olhos com as costas das mãos, um bocejo alto soando pelo cômodo silencioso.

Olhei em volta, vendo a pequena bagunça que havia em meu quarto, nada muito alarmante, apenas algumas coisas fora do lugar. Saí da cama e segui a passos preguiçosos ao banheiro, no intuito de tomar um banho e fazer minha higiene matinal.

~ × ~

– Vou sair hoje, pelas sete ou oito horas, tudo bem? – perguntei receoso para a minha mãe, mexendo distraidamente no pano de mesa, enquanto esperava minha mãe fazer o café da manhã.

– Com quem vai? – murmurou de costas para mim, mexendo em algo no fogão, pelo tom de voz não parecia que ia me impedir de algo, o que me deixou mais aliviado.

– Jackson – ela virou o rosto brevemente para mim por sobre o ombro, logo deixando uma risadinha escapar e voltando a se concentrar na comida – O Jae e o Bambie vão estar lá, também – completei, apenas para diminuir a mínima vergonha que me passou.

– Chegue antes das duas da manhã, não volte exageradamente alcoolizado, não aceite coisas de estranhos, principalmente se forem bebidas – enumerou com a voz um pouco mais dura que o tom habitual, logo acrescentando algo que me deixou de garganta seca – Lembre-se que seu pai e seus irmãos chegam amanhã e esperam que estejamos no aeroporto pra buscar eles. Se quiser, pode chamar o Jackson pra jantar conosco hoje.

– Mãe... Você acha que eles..? – comecei, mas suspirei baixo olhando para as minhas mãos como se minha vida dependesse disso, mesmo quando ouvi o "click" do fogão sendo desligado e senti o olhar de minha mãe sobre mim. Meu medo estava explícito em meu rosto, isso era inegável.

– Eu acho que suas irmãs adorariam saber que têm um cunhado que é bonito com o filho dos Wang – começou, rindo baixo e seguindo até mim, suas mãos parando sobre meus ombros – Penso que o Joey adoraria ter mais um irmão. E, principalmente, tenho certeza que seu pai ama você, meu anjo, ele pode ficar chateado porque você não vai dar um neto biológico pra ele, mas tem outros três filhos pra isso.

Acabamos rindo baixinho juntos. Levei minha mão junto à de minha mãe, fazendo um leve carinho ali, como quem diz um "obrigado". Respirei fundo uma última vez, antes de me levantar para ajudá-la a pôr a mesa. Depois de ouvir tudo o que minha mãe tinha a dizer, foi mais fácil continuar o dia.

~ × ~

Por volta das seis horas, segui para o banho e dei o melhor de mim para ficar mais bonito, talvez parte desse empenho venha por conta de ser a primeira vez que vou sair com o Jackson de uma forma que não seja clandestina. Agora, às sete e meia, estou de frente para o espelho olhando como ficou: tinha uma camisa branca com alguns detalhes, uma calça preta com alguns rasgos, um casaco xadrez vermelho e preto amarrado na altura do quadril e tênis pretos; meu cabelo estava arrumado em um penteado que deixava a franja mais separada; confesso que passei um tantinho de nada de maquiagem, nada muito perceptível.

Depois de um tempo conferindo cabelo e perfume, e decidindo se já devia descer ou não, ouvi minha mãe me chamar do pé da escada. Tentei descer sem demonstrar todo o nervosismo que sentia, logo parando nos últimos degraus em um mínimo choque com a cena que via: Jackson e minha mãe estavam conversando e rindo. Conversando. E rindo!

Confusão - MarksonOnde histórias criam vida. Descubra agora