Capítulo Oito.: Tempestade.

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    Estava tudo calmo, mas a minha mente navega em uma tempestade, meus pensamentoa não são calmos o bastante para me manter no total controle, eu insisto em navegar nesta tempestade. Os sorrisos deles são cativantes, para quem os olha de fora, talvez este seja o meu problema, nunca os ter olhado pelo lado de fora e apenas permanecer da mesma forma de sempre. De algum modo eu projeto uma imagem das pessoas em minha mente, crio os meus vilões, mas acho que eles sempre estiveram ali só que apenas os percebi recentemente, apenas percebi quem eram quando era tarde demais e não sou a Branca de Neve para ser salva por um príncipe.

    Estou a muito tempo no mesmo estado de defesa, é exaustivo, quando não estou na defensiva não sei quem sou, não tenho um propósito ou uma serventia. Minha mente trabalha de tal modo que por mais feliz que a lembrança possa ser depois o momento de terror ficou fixo, está ali sabe? E me lembro dele de forma corriqueira, me deixa ansiosa não conseguir focar no depois, apenas no pavor daquele momento. Quando éramos crianças os pais de Annabeth e André passaram um bom tempo comigo, me lembro de que uma vez passei mal na sala de estar e acabei vomitando no tapete, me lembro claramente de chorar desesperada com medo de apanhar, Anna na época não era como hoje, eles me ampararam e me fizeram ficar bem, mas o medo sempre está ali.

    Tudo sempre começa com uma ideia, somos uma casca e nossa mente nos bombardeia de ideias, elas sempre começam com algo simples, como ir na padaria, e vão ficando mais complexas conforme vamos alimentando-na, da ideia de ir na padaria pensamos no trajeto, no que vamos comprar, e como vamos pagar. E quando uma ideia ruim se instala em nossa mente é como um vírus de computador, vai se apossando e destruindo o software aos poucos e alguns idiotas como eu vão deixando, alimenta a ideia de destruição. agora eu sou uma bomba relógio e não sei quando vou explodir, mas tenho uma boa ideia do estrago que ela fará.

    Só quero entrar novamente em meu mundo, mesmo que  tenha de ficar sentada naquela escuridão, nem sempre sou conformada, costumo ser uma realista que as vezes pende para o lado otimista e as vezes para o pessimista, mas quando o assunto é o meu mundo, tudo é escuro, um tanto obsoleto. Eu sou aquela peça de roupa velha no fundo do armário sem uso apenas esperando pelo seu fim.

    E esse vai ser agora, tudo voltou para aquele buraco escuro, eu voltei aquele lugar e como se uma televisão fosse posta a minha frente passo a assitir tudo, a ideia se transfirma em um borrão e a bomba explodiu, mas foi tão silenciosa que apenas eu senti o seu impacto, aquele casaco velho foi para o lixo e a tempestade não se acalmou, ela conseguiu virar o barco e me jogar no fundo do mar, sinto-me ser puxada par o fundo, sendo afastada por um momento da tempestade par ser afogada no fundo daquele mar, me sinto em queda e vejo as mesmas memórias de vários domingos em épocas distintas.

    Deixei-me ser guiada pelas conversas sem graça e por tudo o que fosse desnecessário, eles nada são para mim, eles não são nada, eu não estou mais no espaço vazio sendo torturado pelas lembranças, não há espaço entre as espadas e lanças para um coração ferido cheio de espinhos. Quando a atenção já não está mais em mim, me retiro tendo apenas o olhar frio de minha avó sobre mim, entro na casa e passo por aquele corredor com aquelas fotografias, mas antes de terminar o meu caminho sou bruscamente puxada e pressionada contra a parede, os olhos de André estavam fixados aos meus, ambos se analisando, deixei um meio sorriso surgir em meus lábios, passei a língua por eles como se neles tivesse o gosto do sarcasmo misturado a pequena troca de favores recém iniciados.

    - O que houve com você?- Ele se pergunta ainda me olhando, como se em meus olhos pudesse achar a resposta.- Você mudou.- Contasta-se.

    - Você sabe bem o que houve para me mudar.- O empurro me afastando dele e descendo as escadas do porão.- Não vou dizer que vocês fizeram isso, e aquele blá blá de auto piedade.- Me viro para ele, que me acompanhou na descida, o encaro nos olhos a uma boa distância.- Eu não posso culpar a ninguém nessa casa, apenas agradecer por tudo.- Apesar de tentar soar calma, minha voz sai áspera contida em si os meus reais sentimentos.

As Cores do OutonoOnde histórias criam vida. Descubra agora