Vidas Seguintes

Parte quatro: A Chegada

Entro pelas portas do fundo da loja, as tranco por dentro e subo as escadas laterais até minha casa, que fica no andar de cima. Félix meu gato rajado me esperava a soleira da porta como todos os dias.  Sempre me trazendo conforto ao entrar em casa depois de um dia corrido. No entanto o sorriso de Laura, não me deixava sentir outra coisa a não ser felicidade.

  - Já te dou atenção, amigão! - digo afagando a cabeça dele enquanto ele serpenteava  por entre minhas pernas. Ele mia em consentimento e pula para cima do sofá e fica me encarando em sinal de aguardo.

- Fui convidado a uma festa hoje, Laura o nome dela!- Sorrio enquanto conto abobalhado sobre meu convite a Félix que me olha atenciosamente, como se pudesse entender. Mas de fato entende, nunca duvidei disso.

As flores deixaram todo seu odor em minhas vestes. Caminho até meu quarto, abrindo o guarda roupa, procuro algo para vestir nessa noite especial. No entanto uma calça jeans e uma camisa social preta são minhas melhores roupas. Até então nunca precisei de roupas chiques. "Um floricultor não frequenta festa de gala!" Penso. Sorrindo de nervoso.

  Coloco as roupas em cima da cama. Já despido, caminho até o banheiro. Em quinze minutos estou pronto, falta uma hora até o horário da festa, tempo certo de chegar até o condomínio.

***

Novamente na portaria do condomínio, desço do veículo e me sigo para me identificar.

-Desculpe senhor, Mauro, mas não há seu nome na lista de convidados! - diz com ar de seriedade e desconfiança do segurança pelo pequeno vão de sua cabine. Nem ao menos pude ver seu rosto, mas sua voz me parecia familiar. "Claro, foi o mesmo que abriu passagem mais cedo!"  Debato mentalmente comigo.
 
Consulto o relógio, dez e vinte e cinco, quase no horário em que ela me convidou. "Deve ter convidado-me apenas por educação!" Penso. Respiro fundo e lamento por passar esse vexame. Quando estou prestes a dar a partida, ouço alguém me chamando eufóricamente.

-Mauro... MAURO, espere!

Meus faróis se ascendem revelando quem me chamava. Meu peito salta de  alegria.

Laura.

Saiu novamente e caminho até ela. Ao me aproximar sou pego de surpresa por um abraço, quente e aconchegante. Sentir seu toque me despertou as mesmas sensações que passamos hoje mais cedo enquanto a atendia na loja.
  Uma estranha sensação familiar mas até então indescritível, tomou conta de meu coração. Em seus braços o tempo se estagna, o ar sopra quase imperceptível.

- Estava indo embora? - ela pergunta olhando nos meus olhos.

Contando o que havia acontecido, instantâneamente ela dá meia volta e segue para a cabine na portaria. A cena me dá uma vontade de rir, ela andando com ímpeto e com um olhar de justiça.

-Com licença, Eu mesma que fiz a lista, claro que Mauro está nela! Como pode... Diego? - seu semblante muda para um rosto de imensa surpresa. A porta da cabine se abre e de dentro sai, Diego, seu irmão. Ele a olha de cima a baixo e depois dirige seu olhar a mim, ele sorri com malícia e vira de costas e segue em direção a casa.

-Desculpe por isso, ele sempre teve essas brincadeiras de mal gosto como passa tempo. - disse Laura, olhando para o chão como se lembrasse de outros momentos como este.

-Tudo bem, já estou acostumado! - minto. Desde que Diego botou os olhos em mim, sinto seu desprezo. - Creio que não seja uma boa ideia eu estar aqui...- digo.

- O que? Não, não, você é meu convidado! -Laura sorri entrelaçando seu braço ao meu e me guiando para dentro do condomínio.