49 - Hyde Park Corner

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JULIA

5 de outubro de 1977, Stafford Terrace - última noite antes do encontro com Cameron.

Ele estava sentado no piano.

Concentrado, uma pequena ruga se formava entre as sobrancelhas, os dentes sobressaltados dele mordendo o lábio inferior, os dedos longos pareciam compor um uma melodia mas que logo se transformou em uma música dos Beatles.

Ele ainda não tinha me visto, eu estava na porta da cozinha, a sala iluminada apenas pelo abajur perto do piano. Uma enxurrada de memórias pareceram colorir minha memória naquele momento enquanto ele continuava a tocar aquela música no piano sem nem ao menos me notar ali.

Parecia uma despedida, mas eu não queria que fosse uma despedida. Eu iria voltar do encontro em Hyde Park. Nada aconteceria.

"To lead a better life
I need my love to be here" Eu cantei me aproximando dele que apenas sorriu e abriu espaço para eu que me sentasse ao lado dele no banco do piano.

"Here, making each day of the year
Changing my life with a wave of his hand" Eu me sentei ao lado dele, ele tocava e eu cantava.

"Nobody can deny that there's something there
There, running my hands through his hair
Both of us thinking how good it can be
Someone is speaking, but he doesn't know she's there"

Tinha a sensação de que aquilo era a nossa despedida mesmo sem ele saber. Os dedos longos flutuavam com elegância pelas teclas marfins e pretas do piano e eu registrei cada movimento dele aquele dia, e nunca mais esqueci.

"I want him everywhere
And if he's beside me I know I need never care
But to love him is to need him everywhere
Knowing that love is to share
Each one believing that love never dies
Watching his eyes and hoping I'm always there"

As palavras pareciam me machucar mas eu não podia demonstrar aquilo para ele. Por mais que eu estivesse justificando a minha insegurança e falta de sono com a desculpa
da gravidez, eu sabia que se eu desabasse, ele saberia de tudo.

"I will be there
And everywhere
Here, there and everywhere" cantei a última parte da música escondendo meu rosto no pescoço dele.

Eu mordia meus lábios com força para reprimir a vontade de chorar, Freddie me abraçou contra o corpo dele e beijou meu cabelo.

"Você canta tão bem kitten, você devia considerar gravar algo comigo." Ele riu enquanto eu continuava a aspirar o perfume dele, minhas mãos agarraram as laterais do corpo dele e eu gritava internamente para que ele nunca me esquecesse.

"Você sabe que você canta muito melhor que eu." Eu quebrei o meu silêncio e ouvi a risada baixa dele.

"Você está estranha mas como você não quer me contar o que está acontecendo não vou insistir."

Pela primeira vez eu o encarei naquela noite, os olhos curiosos, as feições esculpidas... ele era tudo.

"Estou ansiosa para amanhã." Não era mentira.

Ele sorriu para mim e tomou meu rosto entre as mãos dele, um gesto tão simples mas que era tão significativo para mim.

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