DIA 17

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O dia estava nublado.

Keith decidiu voltar a trabalhar na casa, e trouxe as coisas do abrigo para lá. A cama ainda não era macia (era literalmente uma "caixa" comprida de madeira onde ele iria colocar um "colchão") mas ele estava cansado do abrigo.

Lance o observava da água, como sempre, e dessa vez reclamou por não poder chegar perto. Queria entrar na casa que Keith passou dias construindo.

Ele demorou um pouco, mas conseguiu convencer Keith a carrega-lo até lá. O sereio era mais pesado do que o humano previra, e ele quase o derrubou algumas vezes antes de coloca-lo no projeto de cama não muito delicadamente. Lance ficou muito feliz, e criticou a decoração quase inexistente.

"Faltam algumas conchas bonitas aqui e alí"

"Eu não vou entrar no mar para pegar conchas"

"Tudo, bem. Depois eu pego algumas pra você"

Lance se ajeitou na cama e voltou à rotina diária de conversas aleatórias, músicas para flertar, e silêncios para adimirar o amado.

Keith se sentia estranho. Feliz, apaixonado. Não estava acostumado com esses sentimentos.

Ele fez o almoço, que eles comeram juntos - Lance na cama e Keith sentado no chão. Um raio cruzou os céus e depois de alguns segundos eles ouviram uma trovoada. Keith se assustou.

Era a primeira tempestade depois do naufrágio.

Lance percebeu o medo nos olhos do amado e tentou conforta-lo. Keith fingiu que estava tudo bem e mudou de assunto.

Mais um trovão e a chuva começou a despencar. No começo devagar, mas rapidamente os pingos de chuva engrossaram e o vento acelerou. Keith olhou para o teto, temendo que o vento o levasse e ele acabasse ensopado e com frio, e Lance decidiu não fazer nenhuma piada sobre a situação. Precisava confortar Keith.

Ele disse algumas coisas, como "Não se preocupe, humano, não precisa ter medo da água" mas Keith não estava ouvindo.

Sua mente estava presa à memória da tempestade anterior, das ondas gigantes, do pânico, do navio virando, das pessoas se afogando, da água subindo, enchendo o bote, entrando no seu nariz e encharcando a sua roupa. Do desespero que sentiu quando perdeu o remo.

"KEIFI. Tá me ouvindo?"

Keith olhou para Lance, sem conseguir disfarçar o pânico. O rosto do sereio era gentil.

"Quer um abraço?", perguntou Lance.

Keith não respondeu imediatamente. Ele pensou que seria bom abraçar o companheiro, e foi até ele devagar.

Eles se abraçaram.

E ficaram abraçados enquanto a tempestade rugia e testava a força das paredes. Já haviam várias goteiras, mas o teto permanecia no lugar.

Keith se sentiu grato por não estar sozinho. Ele esteve sozinho por tanto tempo. Mas agora tinha Lance.

Numa tentativa de acalma-lo, Lance cantou uma canção de ninar bem suave e baixinho no ouvido dele. O coração do humano derreteu.

oh meu pequeno,
Não precisa chorar
Quando a noite chegar
Eu estarei lá

Keith chorou, mas não estava triste. Ele abraçou Lance com mais força, e sussurou "Você é muito fofo". Lance corou absurdamente; nunca flertaram desse jeito com ele. "Que é isso, Keith. Não sou não"

Keith sorriu e segurou o seu amado junto a si. Lance acomodou a cabeça no pescoço dele, e teve uma ideia genial.

"Hey, Keifi", ele se afastou só o suficiente para olha-lo nos olhos sem que os narizes se tocassem, "Você vai ficar aí, de pé, o tempo todo?"

Keith ficou confuso e não respondeu. Não se importava em ficar de pé, desde que pudesse abraça-lo.

O sereio corou, "Não acha melhor...", e virou a cara, "Se deitar na cama?"

Keith piscou, e corou mais ainda. "Com você?"

Lance se preparava para uma rejeição, "S-sim, com quem mais seria?", mas Keith sorriu. Ele queria se deitar com o companheiro.

Então o humano soltou o sereio, e se sentou na cama, que se parecia mais com uma caixa comprida de madeira do que uma cama.

Lance estaria radiante se não estivesse constrangido. O sereio realmente esperava ser rejeitado, como de costume. Mas dessa vez Keifi decidiu se deitar com ele em uma cama. Veronica já tinha explicado a ele como dividir uma cama era importante para os humanos, e Lance se sente absurdamente lisonjeado.

Os dois se deitaram, de frente um para o outro, mas um trovão muito alto cortou o clima e assustou os dois. Assim que Lance percebeu o pânico retornando aos olhos do amado, ele o abraçou com muita força.

Keith esqueceu imediatamente da tempestade.

Ou, bem, quase.

Agora tinha bastante carinho além do medo no seu coração. E ele gostava disso.

Eles se aproximavam um pouco sempre que se sentiam confortáveis, e entrelaçaram as pernas e a cauda. Lance apoiou a cabeça no peito do amado, o usando de travesseiro, e sentiu as batidas acaleradas do seu coração.

Keith tomou coragem e pediu para Lance cantar uma música para ele. O sereio pensou por um tempo, antes de cantar:

Noite bela de luar,
Bela dama a dançar,
Jovem perdido no mar,
Venham comigo cantar!

Pontos de luz pelo céu,
Naus deslizando no mar,
Tristes pais à espera,
Venham comigo cantar!

Marinheiros, encontremos
Um motivo para lutar,
O sol nascerá de novo,
Venham comigo cantar!

A noite é bela dama e
Estrelas brilham no mar,
Ao se sentir solitário
Venha comigo cantar!

Eles cantaram juntos e trocaram carícias até a tempestade passar. Já era quase pôr do sol, e os dois tinham fome mas não queriam sair dalí para fazer o jantar.

Era bom demais estar com o outro.

Um Conto Sobre o Mar (Klance)Onde histórias criam vida. Descubra agora