5. Serpente Marinha

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      Arthur dormiu com o celular na mão, ansioso por uma mensagem de Zack. E, a contragosto, tinha que adimitir que não esperava ler uma lição de moral quando acordou.

"Se não sabe o que quer, então pra que se preparar para prestar vestibular?! É apenas perda de tempo. Um esforço desnecessário."

Infelizmente, não encontrou contra argumentos. Ele estava certo. Se não sabia o que fazer, se preparar para um curso que não é o que quer, de fato, só iria atrasar sua vida. E definitivamente não queria isso. Ainda conseguia lembrar vividamente a reação de seu pai quando reprovou o 3° ano do ensino médio. E sentia calafrios toda vez que lembrava. Sua respiração falhava, e seu peito apertava. Respondeu a Zack, se explicando. E ficou surpreso com a mensagem que recebeu de volta do tatuador.

"Olha... Eu entendo. Famílias são complicadas, cada uma de um jeito diferente. A minha virou as costas pra mim quando eu decidi não ser a pessoa que eles queriam que eu fosse. É complicado. Talvez você deva sim conversar com eles sobre como se sente, mas faça isso preparado para a possibilidade de eles não aceitarem..."

Arthur se sentia cada vez mais como algum tipo de estereótipo de protagonista de série adolescente norte-americana. Agora, estava apaixonado por um tatuador roqueiro que tinha um passado triste. Começou a torcer para que o Zack também não fosse envolvido com algum tipo de gangue, ou usuário de drogas. Ao longo da sexta-feira, começaram a conversar sobre filmes.

- Garoto, você tá me ouvindo?! - Chamou uma voz aguda muito familiar.

- Oi? - Respondeu Arthur, levantando os olhos e abaixando a tela do celular, dando de cara com a expressão séria de sua amiga, Raquel.

- Perdoe os modos dele. Ainda estou adestrando. - Disse Raquel, virando-se para o grupo de amigos, enquanto todos riam. - Esse é o Arthur Apate. É o mais velho do grupo. E é o meu chaveirinho, mas às vezes eu empresto para o Marcelo.

- Hein?! - Exclamaram Arthur e Marcelo ao mesmo tempo.

Naquela manhã descobriram que o aluno especial estava hospedado na casa de Marcelo. Era um dos pré-requisitos do programa: durante o período de mobilidade escolar, morar com um dos estudantes da escola, o qual seria decidido por sorteio. Aparentemente o próprio Marcelo não sabia que era um dos alunos inscritos como candidato a anfitrião, supostamente devido a um erro de interpretação de texto, que o fizera acreditar que estava se inscrevendo para o programa quando preencheu o formulário no início do ano. Agora, Marcelo estava com uma expressão confusa. Uma mistura de desconforto e simpatia, enquanto o grupo se apresentava para o novato.

- Apate? Esse nome me soa familiar... - Disse o rapaz alto de cabelos pretos até o pescoço, deixando a cabeça pender para a direita.

- Pensa em um hospital grande. - Sugeriu Thayná.

- Ou em um cirurgião famoso. - Complementou Bárbara.

- Vocês querem que um estrangeiro saiba o nome de uma subcelebridade local? - Interrompeu Ivan, virando-se para Salomão. - O pai dele é Lucio Apate, um cirurgião mega renomado, e dono do Centro Hospitalar Apates.

- Espera... Dono do hospital? - Questionou o novato, incrédulo.

- Sim.

- Do hospital todo?

- Aham.

- O maior hospital da região metropolitana?

- Você repete demais a mesma pergunta, pra alguém tão inteligente. - Disse Ivan, voltando a se sentar.

- Mas e você Salomão? De onde você vem? - Indagou Thayná.

- Então... Eu venho do norte. - Respondeu o rapaz, sorrindo timidamente.

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