6. Encontro

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Estava deitado, com o queixo apoiado no travesseiro, e os braços projetados para a frente. Entre suas mãos, o celular, exibindo a última mensagem da conversa com o misterioso Serpente Marinha. Segundo ele, havia discutido com sua família. Zack entendia bem como desavenças familiares podiam machucar. Por isso chamou seu correspondente para sair. Mas não pode evitar de se sentir desconfortável com toda aquela situação. Virou-se, passando a encarar o teto do quarto, azul escuro com respingos brancos e amarelos, que tentavam simular um céu estrelado. Sentiu o vento entrar pela janela aberta, e percorrer todo o seu corpo nu, fazendo sua pele arrepiar ligeiramente. Se questionou se valeria mesmo a pena "entrar nos problemas de outra pessoa". Porém estava curioso para saber a verdadeira identidade daquele misterioso que se autonomeara "Serpente Marinha". E sabia que, se o resultando fosse desinteressante, ou fosse lhe trazer algum tipo de problema, poderia apenas se despedir dele e aproveitar o restante do seu dia de folga. Se o encontro desse errado, poderia comprar uma garrafa de bebida em algum mercado e passar o dia bebendo no quarto, aproveitando esse dia como costumava fazer em todos os seus dias de folga.

Combinou com o seu correspondente de se encontrarem na Estação de Metrô Arqueiro. Zack aguardava sentado em um banco, olhando para os lados. Usava uma calça jeans rasgada sobre o joelho direito, um par de botas estilo militar, e uma regata preta rasgada nos ombros com uma caveira envolta em chamas azuis estampada. Quando criou a logo do estúdio Blue Flames, a três anos atrás, Marcos ficou tão empolgado que encomendou uma camiseta para cada com aquela arte estampada. Zack não teve coragem de dizer na época, mas detestou a peça. Então rasgou as mangas fora, e o resultado foi mais agradável. Ou, pelo menos, agradável o bastante para que ele aceitasse usar a peça esporadicamente. Estava aguardando uma pessoa que, segundo a descrição dada por ela mesma, estava com uma calça moletom escura e uma regata branca. Começou a devanear, imaginando como seria ele. Gordo, talvez? Não. Até onde sabia, dificilmente um homem acima do peso se sentia a vontade de regata. Alto? Seria interessante, pois sabia que era incomum achar alguém mais alto que ele, em seus um metro e oitenta e oito. Preferia que a pessoa avisasse por mensagem quando chegasse, mas segundo ele, não poderia levar o celular por não se sentir seguro ao sair de casa com o aparelho. Não podia julgá-lo. A cidade em que viviam não é uma das mais seguras do mundo. Instintivamente, Zack levou sua mão direita ao seu rosto, tocando gentilmente a cicatriz abaixo de seu olho direito.

- Oi? - Ouviu uma voz chamar ao seu lado.

- Oi. - Virou-se. Era um garoto loiro usando uma calça moletom escura e uma regata branca. - Oi! Você é o... ? - Uma coisa no garoto chamou sua atenção: uma tatuagem de uma serpente marinha dando a volta em seu bíceps esquerdo. Levantou-se - Espera, eu conheço essa tatuagem. Você é o guri da quarta-feira!

- É... Sou... - O rapaz respondeu, desviando o olhar para baixo enquanto mexia na parte de trás do cabelo com a mão. Parecia um personagem de desenho animado. Estava ficando corado.

- Caramba, que mundo pequeno. - Disse Zack, rindo brevemente. Se sentia menos receoso agora. - Agora o "Serpente Marinha" faz sentido. Simples, porém bem esperto. - Riu um pouco mais. - André, né?

- Meu nome é Arthur... - O rapaz ficou visivelmente desconfortável. Mas não tinha culpa. Costuma atender pelo menos cinco pessoas por dia. Não conseguia aprender o nome de todos.

- Tipo o Rei Arthur? - Brincou.

- Exatamente por causa dele.

- Okay. Então, "Rei Arthur", onde vamos?

- Hein?

- Ué, pensei que seria melhor pra conversar se fossemos a algum lugar específico. Algo me diz que você precisa desabafar. Do contrário não teria saído escondido de casa.

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⏰ Última atualização: Mar 30, 2020 ⏰

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