Capítulo 2 - Salve a Dança!

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Os olhos dos jovens pousaram na grande mesa dominada pela italiana antes de seguirem em direção ao salão com um gesto de consentimento por parte de Amélie, a qual os Underwood tinham em grande estima, até mesmo como membro da família após tantos anos.

Muito nova Amélie perdeu o pai com um surto terrível de gripe e a mãe foi logo depois, esmagada pela tristeza e a saudade de seu grande amor. Aquilo repercutiu na cabecinha da jovem que se sentiu apavorada com as lembranças da mãe que definhava dia após dia sem conversar com Amélie ou alimentar-se bem. Nesses dias, ela se trancava na pequena biblioteca que mantinham e se aventurava com tudo que os livros podiam oferecer-lhe. Temia que, assim como a mãe, não tivesse nada em que se segurar quando grandes tragédias açoitassem seu ser.

O enviado do Rei Edward Underwood II que trabalhou por mais de duas décadas com o falecido conde italiano Santinelli em assuntos políticos, como um intermediário apaziguador entre a monarquia e os desígnios do clero, ofereceu a jovem, em acordo com a família real, moradia e manteve seu título de condessa.

A pequena Amélie com seus onze anos, sem parentes próximos com quem tivesse ligação, aceitou com gratidão e atravessou o oceano para recomeçar. Em vias de se instalar naquele que seria seu novo lar por tempo indeterminado, como forma de agradecimento e retribuição da moradia e comida a qual usufruía ofereceu-se para auxiliar na educação do jovem príncipe Henrique e cuidar da biblioteca, seu pedido foi aceito com grande satisfação e bom agrado, mesmo que discretamente e junto aos demais nobres o rei acreditasse que ela não teria muito que ensinar há uma criança.

Ele entendia que a jovem precisava de distrações dos seus infortúnios, mesmo que a rainha Elise compartilhasse da vontade de que Amélie se dedicasse mais a aprender outras tarefas úteis para uma jovem que logo estaria em idade de casamento, como: cantar, costurar e tocar algum instrumento musical, não a impediram de cuidar da biblioteca entendendo que havia paixão e graça na busca da jovem por conhecimento através das palavras e que o tempo mostraria que nem todo amor que parte destrói, como ela aparentava crer em conversas sentimentais com a rainha Underwood e sua dama de companhia Beth.

Além disso, divertiam-se com as curtas histórias que ela criava e contava a mesa de jantar.

Acabaram por achá-la uma ótima companhia e tutora para Henrique, que tinha cinco anos na época e incentivaram a amizade dela com o filho mais velho e futuro rei, Edward Harper Underwood III, apenas um ano mais novo que a jovem.

Um toque leve e tímido tirou Amélie de suas lembranças, quando seus olhos voltaram-se para o príncipe, ela sorriu e adentrou mais uma vez o salão.

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O príncipe Edward enfeitiçado com o balançar do vestido e ao notar o corpete um pouco mais frouxo da jovem - destoando das garotas que escondiam o que julgavam erroneamente como imperfeições do corpo como ditava a moda à guisa de respirar - sentia-se incapaz de manter os dedos parados ao conduzir a jovem. Reconhecia-se encantado até mesmo com os calos - agora escondidos sob as luvas - das mãos de Amélie, causados por suas atividades de organização e limpeza da biblioteca e as brincadeiras na área externa com o irmão caçula.

No centro do salão que cheira a vinho e alegria, uma fileira de cavalheiros reverenciam as damas que correspondem e os casais ali formados se encontram no caminho para iniciar a próxima dança. O príncipe olha Amélie com um sorriso aberto que chega até seus olhos que brilham com refletida paixão, a condessa retribui com um sorriso mais contido embora sinta seu rosto corar sem que ela possa disfarçar. Já havia notado que não era a única a se deixar levar por Edward, mesmo que houvesse, de fato, cavalheiros mais belos no local, seu título falava mais alto, pois apesar de sua educação, inteligência e humor maleável, o príncipe possuía uma beleza comum,

Quando os acordes dão início, o príncipe segura com firmeza os dedos de sua parceira e ambos deslizam pelo salão. Amélie tem a tola impressão de não estar sob seus calçados e sim flutuando em sua companhia, é tão difícil manter sua mente e coração em ordem com ele respirando tão próximo. É difícil até conversar, mas Edward como esperado de um nobre não deixa que o silêncio perdure muito mais.

-- Espero que esteja apreciando a dança e o salão cheio. -- Motivado pela afirmação de sua companhia, ele prossegue: - Sobre o que estava escrevendo, senhorita Santinelli? -- Como prova de seu respeito a ela em favor aos ouvidos atentos no salão sobre a condição dela, ele age com mais decoro.

-- Sobre uma mulher do futuro, alteza. -- Ele a gira e voltam s posições iniciais, ela o fita com olhos divertidos e atentos antes de voltarem a deslizar pelo salão e se pergunta, mesmo contra as próprias reservas, se ele também estaria com o peito em chamas.

-- Do futuro?

--Sim, alteza. Uma mulher inspirando pessoas com suas ideias sobre o mundo. Seria incrível que nossa voz fosse ouvida com maior frequência e dignidade.

Edward assente pensando sobre o poder nas palavras de Amélie e como sua história seria vista pela sociedade. Tentou imaginar como seria aquela realidade. No entanto, chegou o momento da música onde os homens trocam de lugar e para seu desgosto é outro que a toma nos braços.

-- Que mente criativa a da senhorita Santinelli! Uma mulher incentivando milhões? -- Intrometeu-se Sir Navarro, sem se importar em demonstrar que prestara atenção a conversa -- Conte-me mais sobre suas ideias peculiares, por favor.

-- Por que eu contaria sobre uma ideia que ainda está sem definição quando posso ouvi-lo falar sobre sua viagem? -- Ela contrapôs.

-- Senhorita, estas viagens são desgastantes. E contei tudo o que devia e não ao longo do jantar. -- O capitão a girou com delicadeza e respeito de quem, mesmo interessado, mantém a postura do cavalheiro que foi criado a se tornar -- Parece um pecado falar apenas sobre isso com alguém tão letrada. Perdoe-me por parecer tão bruto, mas eu realmente leria sua história do futuro, a mim não parece algo absurdo, mas que precisa mesmo de tempo para ser concebível aos demais.

Ao final da dança e ainda sorrindo com as palavras do capitão, Amélie aceitou o vinho que lhe fora oferecido, evitando encontrar os olhos do príncipe que fora abordado para mais uma dança. Seus olhos estavam agora no rei e rainha que observavam a festa com grande satisfação, enquanto o jovem Henrique corria com os amigos aproveitando a noite à maneira ativa das crianças.

Ao final da segunda taça, Amélie se despediu do capitão agradecendo-lhe o momento de descontração e se esgueirou pelo corredor da construção de blocos de pedras, do que, de fato, era um castelo bonito, mesmo sem a grandiosidade dos países com reinos e população maiores e abastadas.

Estava se sentindo leve, o coração com alegria quase infantil. Se estivesse mais atenta teria notado que os guardas responsáveis pelos corredores adjacentes ao salão não estavam em seus postos.

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Olá, como vai?

Você também acha que a falta de guardas é um mal sinal?

💬 Conte pra mim quais suas teorias.

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Estou aqui pronta para assistir o jogo de volta do Corinthians na pré Libertadores, lembrando que perdemos o primeiro jogo. Será que vai na base da emoção ou derrapa?

Vejo você no Capítulo 3.

Salve!

Salve!

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